Dez meses após a retomada das importações de carne bovina brasileira, os Estados Unidos colocaram barreiras pontuais à aquisição do produto nacional. Cinco frigoríficos brasileiros, sendo 1 mato-grossense, tiveram a comercialização com o país suspensa pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em Mato Grosso, foi restringida cautelarmente a exportação de carne in natura para o país norte-americano produzida no frigorífico da Marfrig em Paranatinga (a 373 km ao Sul de Cuiabá). Outras duas indústrias da empresa foram atingidas pela intervenção ministerial, localizadas em São Gabriel (RS) e Promissão (SP). Também foram suspensas temporariamente as exportações de 1 frigorífico JBS, em Campo Grande (MS), e 1 da Minerva, em Palmeiras de Goiás (GO).
Este mês, precisamente no dia 16, o Ministério da Agricultura recebeu um documento do Serviço de Inspeção Sanitária dos Estados Unidos – emitido no dia 14 de junho – com relatos de não conformidades constatadas em reinspeção de produtos dos frigoríficos que tiveram as vendas suspensas temporariamente. Ao realizar a amostragem de contêineres contendo a carne brasileira foram apontadas como inconformidades a presença de fragmento de osso em carne desossada, coágulo sanguíneo na carne e abscesso, provavelmente vacinal contra febre aftosa e que só não é retirado no abate se for profundo na musculatura, informa a superintendência estadual do Mapa.
Segundo o ministério, no documento, há questionamentos sobre as providências que serão adotadas. “O Mapa, preventivamente, suspendeu a certificação sanitária de tais SIFs para os EUA a partir de 16 de junho até a adoção de medidas corretivas e trabalha para prestar todos os esclarecimentos e correções no sentido de normalizar a situação”, diz trecho do comunicado oficial.
“Trabalhamos ainda para que não haja recusa das mercadorias já embarcadas, até porque não há risco algum a saúde pública”, finaliza a nota do ministério. De acordo com o governo federal, a auto-suspensão é acionada como estratégia para facilitar o retorno de forma mais acelerada, após os esclarecimentos.
A assessoria da Marfrig informou, por meio de nota oficial, que a empresa conta com um rigoroso processo de garantia de qualidade para os produtos que são vendidos no mercado nacional e internacional. Afirmou que “já está tomando todas as providências necessárias para atender as exigências do mercado americano nos seus processos produtivos e está atendendo a todas as etapas existentes estabelecidas pelo Ministério da Agricultura de forma técnica e imediata, visando o retorno dessas plantas para exportação para este mercado”.
As exportações de carne bovina brasileira para os Estados Unidos foram autorizadas em agosto de 2016. De janeiro deste ano até agora, os embarques de carne congelada sem osso de Mato Grosso para aquele país totalizaram 2,607 mil toneladas, segundo levantamento da superintendência estadual do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
As vendas foram realizadas por duas unidades mato-grossenses, mantidas pelo grupo Marfrig (Paranatinga) e JBS (Barra do Garças). A unidade de Paranatinga é habilitada para exportar carne in natura, já a unidade de Barra do Garças para comercializar matéria-prima, utilizada para embutidos e enlatados.
Outras 3 indústrias frigoríficas de Mato Grosso pretendem iniciar as exportações de carne bovina para os Estados Unidos, sendo que uma iniciou processo para obter o aval do Ministério da Agricultura. Todas são unidades de empresas de grande porte.
Pelo nível de exigências sanitárias adotado pelos Estados Unidos, o país é visto como uma vitrine para os exportadores de carne brasileira e facilita a venda do produto para outros países. A retomada da relação comercial no ano passado foi celebrada pelo mercado. A unidade da Marfrig em Paranatinga foi uma das primeiras a iniciar as vendas, logo após a reabertura do mercado.
Conforme divulgou o Ministério da Agricultura na época, a entrada de carne brasileira em solo norte-americano foi possível após 17 anos de negociações. Depois de confirmada as importações, nem mesmo a deflagração da Operação Carne Fraca, pela Polícia Federal (PF) em março, levou à suspensão da aquisição de carne brasileira pelos Estados Unidos.
Conforme levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), um mês após os problemas causados pela operação Carne Fraca os países importadores da carne bovina in natura mato-grossense voltaram a comprar. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em maio houve acréscimo de 35,91% no volume exportado, comparado com abril. Dentre os países que expandiram as compras neste período, estão China e Hong Kong (14,91%), Arábia Saudita (112,26%) e Estados Unidos (119,79%).