O delegado aposentado Ronaldo Antônio Osmar, foi condenado a 14 anos e três meses de prisão, ontem, após dois dias de julgamento e 30 anos de trâmite processual, pelo assassinato do irmão jesuíta indigenista espanhol Vicente Cañas Costa. O espanhol foi morto, aos 48 anos, em 6 de abril de 1987, na região amazônica de Mato Grosso. A sentença foi proferida pelo juiz federal Paulo Cézar Sodré, da Justiça Federal de Cuiabá, após o tribunal do júri condená-lo como mandante. No entanto, como já tem mais de 70 anos, não será preso. Mesmo assim, representantes de movimentos sociais e familiares de Cañas vibraram com a sentença “emblemática”.
Conhecido pelos indígenas como “Kiwxi”, o espanhol fez os primeiros contatos com o povo Enawenê-nawê e morou na aldeia deles a partir de 1977. Somou-se à luta pela demarcação do território da etnia e isso feriu interesses locais, gerando conflito por terra. Sem uma condenação por três décadas, chegou-se a cogitar que Cañas havia sido morto pelos próprios Enawenê. Isso porque o delegado Ronaldo chegou a ser absolvido em um primeiro tribunal do júri, em outubro de 2006. No entanto, o Ministério Público Federal recorreu.
“Estamos muito contentes por depois de 30 anos e um segundo júri ter chegado enfim a justiça. Para nós é uma grande conquista. Nos alegramos muito com esta sentença, que é simbólica diante de toda problemática da Amazônia e com todas as barbaridades cometidas contra os povos indígenas”, comentou um sobrinho do religioso, que veio da Espanha para acompanhar o julgamento, José Angel Nuñes Cañas.
Segundo ele, são essas causas que o tio “abraçou de coração”, se integrando aos indígenas, ao ponto de se sentir como um deles. O sobrinho ressalta ainda que conflitos por terra na Amazônia já provocaram milhares de mortes, sem qualquer eco ou punição dos responsáveis.
O padre jesuíta Thomas, que era amigo de Cañas, acredita que foi justiça. “Achávamos que era quase impossível de acontecer o que aconteceu, depois de 30 anos e depois de ouvir tudo ontem e hoje. Pensei: não vai dar em nada. E deu, 14 anos e três meses de prisão contra Ronaldo, que pegou o dinheiro, deu para os matadores, os guaxebas”.
(Atualizada às 14:32h)