O amor, esse sentimento tão celebrado pela humanidade, também é capaz de nos fazer sangrar por dentro. Basta amar verdadeiramente para perceber que o amor não é feito só de sorrisos e abraços. Ele também se manifesta no silêncio, na ausência, no adeus — e é aí que machuca.
Mas afinal, por que o amor dói?
A dor do amor não está, necessariamente, no amor em si, mas no que ele desperta em nós. Quando amamos, nos despimos de defesas, nos permitimos ser vistos, tocados, atravessados. Essa entrega, embora necessária, nos coloca em um estado de vulnerabilidade. Como escreveu o filósofo francês Simone Weil, “amar é consentir em ser vulnerável”. É quando nos abrimos para amar de verdade que percebemos o frio na barriga ao enviar aquela mensagem importante, ou a ansiedade que surge antes de uma conversa decisiva.
Amar é um risco. E como afirmou Rubem Alves, “amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que a qualquer momento ele pode voar”. O outro é livre, e essa liberdade pode ser tanto fonte de encantamento quanto de dor. A dor se manifesta quando o pássaro, por sua própria natureza, voa, seja numa simples divergência de planos para o fim de semana ou, de forma mais profunda, quando os caminhos se separam. Porque o amor, para ser verdadeiro, precisa ser escolha — nunca prisão.
Além disso, o amor toca feridas que muitas vezes nem sabíamos carregar: medo do abandono, da rejeição, de não sermos bons o bastante. Quando o amor não supre essas carências, a dor se intensifica. Pode ser a dor aguda de se sentir preterido em um momento crucial, ou a angústia de ver expectativas não correspondidas, reacendendo antigas inseguranças. Como explicou o psicanalista Jacques Lacan, “amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer”. É um movimento de entrega que, por vezes, esbarra nos limites do outro — e nos nossos próprios.
A escritora Clarice Lispector dizia que “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional”. Mas no amor, às vezes, parece impossível separar um do outro. Sofremos porque queremos manter o que é fluido, eterno o que é passageiro, e estável o que é humano. Sofremos porque o amor toca onde mais somos frágeis.
Ainda assim, o amor nos transforma. Ele nos ensina a sermos mais inteiros, mesmo partidos. A escritora e terapeuta Brené Brown, em suas pesquisas sobre coragem e vulnerabilidade, afirma que “amar alguém profundamente nos dá força, ser amado profundamente por alguém nos dá coragem”. A dor do amor, nesse sentido, é parte do crescimento.
O amor dói porque importa. Porque nos revela, nos desconstrói, nos molda. Mas também porque, no fundo, é uma experiência de vida que nos tira do automático e nos coloca em contato com o que há de mais humano em nós: a capacidade de sentir.
Como nos alertou Carlos Drummond de Andrade, a dor é um convite inevitável, mas o sofrimento, uma escolha. O amor pode doer, sim — mas ainda assim, é o que nos mantém vivos por dentro.