Faz 27 anos que o Brasil ouviu pela primeira vez: “É o amor, que mexe com minha cabeça e me deixa assim. Que faz eu pensar em você e esquecer de mim. Que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver”. A canção foi tocada dia 19 de abril de 1991, ao meio dia, na Rádio Terra, de Goiás, e no fim da tarde, nas rádios de todo o país. Foi aí, que os irmãos Zezé Di Camargo e Luciano, depois de tanto persistirem, conseguiram alcançar o sucesso que eles tanto desejavam. O resto vocês já devem saber se assistiram o filme Dois Filhos de Francisco.
Mais de duas décadas depois, a música “É o Amor” já foi executada mais de um bilhão de vezes, segundo o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição é um escritório privado brasileiro responsável pela a arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas aos seus autores). E Zezé e Luciano celebram uma longa carreira bem sucedida, cheia de hits, momentos marcantes e emocionantes.
Num bate-papo bem sincero nos estúdios Mosh, em São Paulo — um dos lugares onde a dupla passou a maior parte do tempo nesses 27 anos — Zezé Di Camargo e Luciano fazem um balanço da carreira, contam que têm personalidades e gostos diferentes, explicam o porque fora dos palcos é cada um para um lado e ainda brincam com as comparações da família Camargo com a das Kardashians.
Em 19 de abril vocês completam 27 anos de carreira. O que passa na cabeça de vocês olhando pra trás?
Zezé Di Camargo: Agora, olhando aqui, exatamente neste espaço que nós estamos, passou um filme na minha cabeça.
Luciano: Difícil um artista no mundo poder olhar para a sua carreira e falar: ‘Caramba, só conquistas, só glórias!’
ZZ: Você não acredita a história que tem esse pedacinho, a importância que tem isso pra mim. Se Deus me desse o que passei aqui de somatória da minha vida, vai me dar mais uns 5 anos de vida (risos). Tinha recém saído de um problema de voz e fui gravar um disco chamado ‘Double Face’. Quando cantei a primeira parte, que vi que a voz veio… Saí pra cá e fiquei chorando aqui, uns 10 minutos.
Vocês tem arrependimentos?
ZC: Uma carreira longa como essa, de 27 anos de sucesso, a gente não só acerta, tem os erros também. O erro de hoje é o conserto de amanhã. Então deu tempo para cair e levantar, cair e levantar… Se bem que, levamos alguns tropeços, mas cair mesmo, até agora não.
Você falou do seu problema de voz. Você está 100% recuperado, Zezé?
ZC: Estou. É claro que é igual a um atleta. Num certo tempo de vida, você precisa de cuidados que não precisava antes. Não é todo dia que você está com a voz 100%. Tem tudo isso. Mas é natural.
Como é a relação de vocês fora dos palcos, de irmãos. Vocês convivem bastante?
ZC: Não! Cada um pra um lado!
LC: Sempre foi assim. Mesmo quando nós tínhamos fazenda um perto do outro… Porque eu e o Zezé convivemos praticamente 24 horas juntos. É escritório, é aqui, é show…
ZC: Mas a vida é diferente, por exemplo: o Luciano era solteiro, estava vivendo um momento da vida dele e eu era casado. Criando os meus filhos. Aí meus filhos cresceram, o Luciano casou, tem duas filhas pequenas. Quer dizer, não sou uma pessoa casada, mas estou vivendo com uma pessoa, todo mundo sabe que é a Graciele. Então a gente também está sempre em momentos diferentes. Agora é ele quem está passando por esse problema, de não ter tempo pra nada, correria… E eu já estou com os três filhos criados, agora tô naquela fase de curtir mais a vida um pouco, mais tempo até pra mim mesmo, coisa que não tive a vida inteira.
LC: Mesmo com a correria, eu vivo muito mais esse lado do pai que o Zezé na época, quando era mais turbulento…
Vocês discordam muito ou têm opiniões parecidas?
ZC: Ele traz as ideias e eu levo as ideias. A gente leva, não tem assim, tem que ser ideia dele que tem que prevalecer ou a minha ideia. Ele cuida mais do lado financeiro do escritório, eu cuido mais da parte de estúdio.
LC: Dificilmente nesses 27 anos, pode contar nos dedos as músicas que ele trouxe que eu falei: ‘Vamos trabalhar essa música’. Aconteceram poucas vezes. Graças a Deus o que aconteceu também acabou virando sucesso. Mas eu tenho esse respeito, dessa conquista do Zezé.
ZC: O bom é isso. Ele tem o jeito dele de ser…
LC: Já começa pela comida. Minhas filhas no camarim falam: ‘Papai, quero comer!’ Então, vamos lá no tio Zezé pegar dois pratinhos de comida. Porque no meu camarim é alface, tomate e pepino. Do Zezé já é: galinha, pequi, frango com quiabo.
Vocês sabem que a família de vocês é considerada a família Kardashian do Brasil, né?
LC: Eu nunca consegui pronunciar esse nome. Aliás, o cara (Robert Kardashian) foi advogado do O.j Simpson? Mas eu achava que quem realmente parecia os Kardashians era a Simaria, não era? Que é muito bonita!
Mas é a família mais amada do mundo, eles faturam milhões, aparecem na TV, com drama, felicidade…
ZC: Então, a gente não fatura milhões. Ta vendo?! Não tem nada a ver. Já vi que está todo mundo enganado. A gente não parece com esse povo de jeito nenhum. Primeiro que eles ganham em dólar, a gente ganha em real. Vou começar a ver esse negócio agora. O que que é? Um seriado?
Falando em família, principalmente a do Zezé. A sua família sempre está na mídia. Como você lida vendo a sua família tão exposta?
ZC: Não vejo exposta. Por exemplo: Eu fiz um poema para o meu pai, uma das coisas mais lindas que já escrevi na minha vida e postei no meu Instagram. Não foi replicado em lugar nenhum. Mas se eu boto lá um negócio falando…até parei com isso, escrevem: “Zezé Di Camargo cutuca não sei o que..”. Não vou escrever mais isso. Não vale a pena. Já esquentei muito a cabeça com isso. Hoje, juro por Deus, não me importo com a opinião.
Mas antes de você fechar o seu Instagram você comentava quando te criticavam..
ZC: Eu era um burro! Eu entrei no Instagram muito inocente. Eu achava que aquilo, que a minha verdade… Quando o cara é sincero ele vira polêmico. É engraçado isso. Agora só rezo, só posto foto rezando, pronto, acabou! Aliviou a minha cabeça. Eu tava bobo, iludido que aquilo que as pessoas que estavam do outro lado ali, tinham caráter. Grande parte não tem.
LC: O pouco que eu mostro nas redes sociais é a minha verdade. É o que eu vivo no dia a dia. Se der muita curtida é bom, se não der, também. Assim como eu faço também no meu dia a dia. Eu vou para todos os lugares sem a preocupação e pretensão de ser reconhecido.
Se acontecer das pessoas reconhecerem e virem me abordar, bem. Se não acontecer também..
ZC: Eu não tenho esse negócio. Se o nego olhar o meu pé de bota, eu com a calça agarrada, já fala: é o Zezé Di Camargo. Eu quando saio de casa falo: ‘Sou o Zezé Di Camargo! Se me reconhecerem aí que eu acho bom mesmo. Eu espeto o cabelinho para ficar mais parecido ainda. Se eu passar e ninguém falar: ‘Olha o Zezé Di Camargo ali, acabou o meu dia’.
Nesses 27 anos vocês já pensaram em se separar? Teve aquele episódio…
LC: Só aquilo. Uma bobeira na hora ali, a gente…Mas uma bobeira minha. Tudo o que aconteceu naquele dia, toda responsabilidade, tudo eu trago pra mim. Me arrependo profundamente do que eu falei naquele momento.
(Revista Quem/Globo)