Sem dormir após fazer história ao se tornar a primeira artista brasileira a se apresentar e vencer em uma categoria do VMA (MTV Video Music Awards), Anitta, de 29 anos, chorou e destacou o seu feito de levar o funk para fora do país e em uma das premiações de música mais importantes do mundo.
Sentada em um carro, a cantora não escondeu a sua emoção após realizar feitos históricos na noite de ontem. “Ei, pessoal. Prometi para os meus fãs que viria aqui dizer algo. Eu ainda não dormi desde ontem porque ainda estou tentando processar tudo o que aconteceu ontem à noite”, começou ela, ao conversar em inglês.
“Estou no caminho para casa e só queria dizer obrigada. Só quero que todos saibam, principalmente meus fãs, como eu estou feliz. Para quem não é brasileiro, é muito difícil entender o que aconteceu ontem. Meu país sempre passou por momentos sociais malucos, ainda mais com meu ritmo, de onde venho. Muita gente não sabia, mas eu venho do gueto, nasci e cresci nas favelas, nas comunidades, nos lugares pobres do Brasil. Para todos nós, como 80% ou 90% das pessoas do meu país, as coisas são tão impossíveis. E hoje aconteceu um sonho que sempre tive na minha vida, mostrar ao meu povo que podemos chegar onde quisermos”, continuou.
Com a voz embargada, Anitta destacou o início da sua carreira, as dificuldades que artistas funkeiros enfrentaram ao longo dos anos e do preconceito contra o gênero musical. Nesse trecho, ela destacou quando disse que mudaria a visão sobre o funk.
“O ritmo com o qual eu nasci e cresci, o funk, era considerado um crime. As pessoas que tocavam esse ritmo, quando eu comecei, eram presas, e eu prometi a elas que um dia eu mudaria isso. E hoje eu fiz acontecer”, afirmou.
Em outro momento, a cantora afirmou sobre a latinidade e as especificidades do Brasil, ressaltando as diferenças existentes dos demais países da América Latina.
“E eu sei que sou latina, também canto em espanhol, mas o Brasil tem uma cultura completamente diferente dos países que falam espanhol. A gente fala português, é um mundo totalmente diferente. E, para nós, foi considerado muito impossível tudo o que aconteceu comigo. É por isso que sou a primeira pessoa a fazer isso no meu país, então agora, depois de comemorar com meus amigos, porque eu realmente não estava processando o que aconteceu, agora eu meio que acredito. Eu só queria trazer esperança ao meu povo que sempre foi tão sem esperança”, declarou a dona do hit “Envolver”.
“Temos quase 300 milhões de pessoas, é meio que metade da América Latina, e é uma cultura completamente muito diferente. É muito difícil, muito trabalho, muito sofrimento, muita luta. Só quero dizer que hoje foi um dia muito importante para o meu país”, acrescentou a cantora.
No desabafo, ela ressaltou que nunca acreditou que chegaria tão longe, justamente por ter vindo de um lugar periférico do Rio de Janeiro.
“Quando você nasce e cresce em um lugar como o que eu cresci, as pessoas olham para mim e nunca imaginam que eu vim de um lugar como aquele. Cresci pensando que não haveria um futuro bom. Meu sonho era sempre mostrar para as pessoas que é possível e hoje eu consegui. Para as pessoas que não entendem a diferença, a cultura latina é incrível, eu sou obcecada por, mas meu país tem um comportamento completamente diferente”, disse.
Anitta ainda destacou sobre os vídeos que estava assistindo dos seus fãs no Brasil, reunidos como se fosse Copa do Mundo para torcer pela vitória da cantora na premiação.
“Torcendo por mim e esperando que o Brasil ganhe uma vez, a primeira vez na história. Então é por isso que é tão importante para tantas pessoas. Então só quero agradecer a todos, meus amigos reais, eles estão sempre me apoiando, minha família, meu país inteiro que se uniu”, ressaltou.
Ela ainda argumentou que para outros artistas essa vitória pode parecer meio comum, mas, para os brasileiros que nunca vivenciaram esse momento, é uma conquista muito especial. “Eu sei o quão difícil foi, é por isso que eu não estava esperando. Eu nunca espero ganhar ou conseguir coisas, porque estou acostumada a ter tudo com muita dificuldade na minha vida e fiquei tão surpresa, que eu só quero agradecer ao universo. Hoje trouxemos esperança para tantas pessoas”, disse ela.
Esse era o seu principal sonho, porque, de acordo com ela, ganhar dinheiro e ser famoso, ela não poderia se “importar menos com isso”. “Mas mudar vidas não tem preço e estou muito feliz com isso. Estou muito feliz em fazer história para o meu país e fazer as pessoas acreditarem que podem [chegar lá]. Em um país tão grande, temos isso pela primeira vez e estou feliz por ter sido a pessoa a trazer isso”, celebrou a cantora.
“Primeira vez no Brasil e espero que seja a primeira de muitas outras, espero que não parece por aqui, que venham muitas outras pessoas atrás de mim. Foi apenas uma porta que eu abri. Quando eu comecei, eu via as pessoas sendo presas mesmo por cantar o que eu apresentei, por ter nascido e crescido no gueto, por ser pobre. Eu não entendo bem o sistema, mas eu prometi que iria lutar contra isso e conseguimos hoje. E a luta acabou”, finalizou ela.
