Há mais de cinco meses, nenhum hospital de Rondonópolis dispõe dos serviços de tomografia computadorizada. O aparelho do Hospital Regional de Rondonópolis era o único existente no Sistema Único de Saúde (SUS), ou melhor, o único em funcionamento entre os hospitais da cidade. Peças do aparelho quebraram e, desde então, vítimas de traumas de crânio, quando necessitam de exames, têm de ser transportadas para uma clínica particular e retornarem ao hospital.
O problema foi exposto à imprensa pelo neurocirurgião Altemar Lopes da Silva, em um artigo enviado ao Jornal A TRIBUNA, no qual revela que os profissionais da unidade têm de enfrentar, diariamente, situações que vão piorando aos poucos e eles vão se adaptando a elas até que se tornem insustentáveis. “São situações que as coisas começam a faltar e você vai se adaptando, dando um jeito aqui e outro ali; faltou um fio X: ora vamos usar o fio Y. Faltou o instrumento W: ora damos um jeito com o Z, mesmo que não seja totalmente adequado”, desabafou.
Quanto ao problema da falta do tomógrafo, diz que uma população de mais de 400 mil habitantes depende de Rondonópolis, em casos de traumas na cabeça. Com a falta do aparelho junto ao Hospital Regional, atesta que o transtorno e os riscos são muito grandes. Em um caso de traumatismo craniano, sendo necessária a tomografia, diz que terá de haver o acionamento do Samu e o transporte do paciente até a clínica particular, para realização do exame. Em seguida, deverá haver o transporte de volta ao hospital.
O que mais preocupa, segundo o médico, são as conseqüências dessa situação para a vida do paciente. Altemar Lopes argumenta que, em pacientes graves, um dos fatores que mais interfere no prognóstico (ou seja, em como a pessoa traumatizada vai evoluir, se vai morrer, se vai ficar com seqüelas, entre outros) é o tempo em que é feito o tratamento. “Ou seja, o tempo que se perde nesse verdadeiro tour interfere diretamente no resultado final”, assegurou, acrescentando que o transporte de pacientes graves em ambulâncias (mesmo as do Samu) pode piorar drasticamente o quadro clinico.
O médico explica ainda que pacientes que sofreram o trauma, mesmo após esse “périplo” inicial, passando pela operação pela equipe de neurocirurgia e conseguindo uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva, terão sobressaltos. “Após um ou dois dias da cirurgia, a maioria dos pacientes precisa fazer nova tomografia para controle, e o ciclo de repete. Mas em alguns casos, quando os pacientes estão muito instáveis, não se torna seguro seu transporte e a realização do exame é adiada”, argumenta, citando que, com mais esse trabalho, o Samu mobiliza uma equipe preciosa que, muitas vezes, deixa de socorrer algum caso por estar fazendo esse transporte.
Altemar alertou que a preocupação se estende para as classes mais altas. “Em termos de urgência, Rondonópolis vive uma situação sui generis, onde a medicina pública sobrepuja a privada. Se você é empresário e sofrer um acidente com trauma de crânio grave, você será submetido a esse mesmo protocolo, já que nossos hospitais privados ainda não têm tomografia dentro das suas dependências. E, antes que sua família possa mobilizar o jato para te levar embora, pode ser tarde”, justificou.
“O que me motivou a escrever esse artigo foi um sentimento: decepção. Decepção comigo mesmo de ter me omitido todos esses meses, vendo a coisa acontecer. Decepção com o poder público que, por conta da burocracia estatal, deixa um aparelho tão importante cinco meses quebrado”, finalizou o médico no artigo, dizendo esperar que sua iniciativa possa mover a sociedade organizada para que se cobre providências dos órgãos responsáveis.
Direção diz que defeito deve ser sanado em dias
O diretor do Hospital Regional de Rondonópolis, Enio Ricardo Pereira Júnior, informou à reportagem que o problema do aparelho de tomógrafo da unidade deve ser sanado nos próximos dias. Ele justificou a demora, em grande parte, deve à grande morosidade existente no processo de licitação pública.
Enio Ricardo disse que, inicialmente, o aparelho de tomógrafo da unidade estava com o gerador de alta tensão e um tubo de raio-x quebrados. As duas peças estão orçadas em cerca de R$ 220 mil. Ele explicou que, assim que as peças foram trocadas, houve um defeito em uma placa do sistema eletrônico do aparelho.
“Estamos aguardando a chegada da placa, para chamar os técnicos e fazer sua instalação”, garantiu o diretor. No entanto, Enio Ricardo não deixou de fazer críticas à situação. “Acho que está havendo preciosismo, para não dizer politicagem nesta denúncia”, reclamou, dizendo que, até o Hospital Albert Einstein, uma referência no País, sofre problemas.
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