
O encontro, organizado pelo Comitê Multi-institucional do Sistema Judicial de Mato Grosso, foi realizado, ontem, em Campo Verde. O evento contou com a participação de produtores agrícolas da cidade, de representantes de entidades ligadas ao agronegócio, de autoridades públicas, da sociedade civil e de moradores, que lotaram o Tribunal do Júri do Fórum da Comarca da cidade.
Além da alta correlação entre as regiões com grande consumo de agrotóxicos no estado e de pacientes que desenvolveram o câncer, foi assinalada nas apresentações a incidência maior, nessas mesmas localidades, de casos envolvendo aborto, partos precoces e mesmo má-formação do feto, além de outras doenças, como depressão. Os detalhes foram apresentados pelo professor da UFMT, que se dedica ao estudo do tema há anos.
O representante do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MT), Walter Valverde, destacou em sua palestra que o uso dos agrotóxicos tem possibilitado o aumento da produção no campo. Ele afirmou que pesquisas recentes possibilitaram a produção de defensivos de menor impacto e defendeu o aumento de discussões e parcerias entre o poder público e iniciativa privada na busca de saídas e mesmos para ampliar as ações já realizadas.
Após as apresentações, dezenas de participantes subiram à tribuna, seja para defender a redução do uso de agrotóxicos e a transição para uma agricultura ecológica, seja para falar da importância dos produtos como ferramenta de aumento da produção do plantio da colheita. Alguns, inclusive, questionaram os dados que correlacionam o surgimento de doenças e outros impactos ao grande consumo dos defensivos agrícolas.
Condutora dos trabalhos, a vice-presidente do TRT de Mato Grosso, desembargadora Beatriz Theodoro, avaliou positivamente o evento, em especial pela grande adesão da sociedade e predisposição ao debate. Ela pontuou que, se de um lado há os efeitos do uso intenso dos agrotóxicos, por outro há também a consciência do Comitê de que seu uso possibilita o aumento da produção, que traz riquezas para as populações e para o estado. “Cremos nesse projeto e em ações afirmativas, por isso convidamos a sociedade para debater esse assunto”, afirmou.
O procurador do trabalho Leomar Daroncho, em sua fala ao final da audiência pública, também se disse feliz pelo encontro. “O rico desse momento é o debate”, destacou ao comentar a exposição de pontos de vistas diferentes, algo que classificou como “próprio da democracia”. Para ele, o importante é criar um canal de informação e de discussão sobre o tema, que alcança a todos, inclusive os próprios produtores que empregam os agrotóxicos e que também são expostos a seus efeitos no campo.
O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e coordenador do Comitê, Márcio Vidal, salientou que a proposta da audiência foi, em sua essência, promover a troca de conhecimento e de experiências entre os participantes, de ouvir os empresários do agronegócio, os produtores rurais e fazer a interlocução entre o conhecimento deles com os demais, inclusive o jurídico. “Não se está aqui assumindo uma posição de ser contrário a nada, mas sim de disseminar o conhecimento”.


