A infestação por dengue já chega a 96,4% dos municípios de Mato Grosso, sendo que em 75% deles a Secretaria de Estado de Saúde (SES) decretou estado de alerta, por apresentarem índice de infestação predial acima de 1%, que é o preconizado pelo Ministério da Saúde. O número de casos, que historicamente mantinha a média de 10 mil, já passa de 40 mil em Mato Grosso – sendo só em Cuiabá mais de 11 mil casos. O aumento em Mato Grosso é de 237,97%. As ocorrências, que no primeiro semestre deste ano concentraram especialmente nas regiões central e sul do Estado – especialmente na Capital, Várzea Grande e Rondonópolis -, já atingiram a região norte e os vales do Araguaia e Arinos, conforme o coordenador de Vigilância Ambiental da SES, Oberdan Lira.
Trinta e cinco mortes já foram confirmadas e outras 7 são analisadas, situação que coloca o Estado entre os 6 do país onde houve crescimento e por isso receberão atenção especial do Ministério da Saúde (ver quadro), enquanto os outros 20 e o Distrito Federal comemoram redução, sendo que o Rio de Janeiro apresentou a maior queda (95,9%).
Para conter o avanço da doença e evitar novas mortes, o ministro da Saúde José Gomes Temporão lançou ontem em Cuiabá a campanha nacional de mobilização "Brasil Unido contra a dengue", reforçando a necessidade do engajamento de toda a sociedade civil. As ações incluem divulgação maciça de campanhas publicitárias para conscientizar a população sobre os cuidados necessários no combate ao mosquito transmissor da doença, Aedes Aegypti, além de capacitação de profissionais e agentes de saúde. "Nós conseguimos a nível nacional, de 2008 para 2009, uma redução de 80% nos casos graves mas sem o engajamento de todos é difícil enfrentar uma doença como esta", afirma Temporão.
Para a campanha, o governo federal disponibilizou R$ 1 bilhão, mas o ministro não soube informar qual o valor destinado para Mato Grosso.
Para o Ministério da Saúde, 18 municípios mato-grossenses são considerados prioritários no atendimento, entre eles Cuiabá e Várzea Grande (veja quadro). A indicação considerou localização, população e aqueles com risco de introdução de novos sorotipos da dengue. Contudo, para a SES, 70 municípios já são considerados prioritários, onde o governo está realizando ações pontuais em que os prefeitos são conscientizados da importância de se envolver na campanha.
Um exemplo é o caso de Rosário Oeste (128 km ao norte de Cuiabá), que já conseguiu reverter a situação crítica enfrentada no início do ano e Paranatinga (373 km ao sul de Cuiabá), que caminha para amenizar a crise. "A figura do prefeito é muito importante. Quando ele fala, a população ouve, muito mais quando nós falamos", afirma Oberdan Lira.
Temporão ressaltou a importância da população e governos terem uma visão global acerca dos 3 principais criadouros, sendo o primeiro deles dentro de casa, depois a limpeza das cidades, colaborando com os mutirões e em parceria com a comunidade e as escolas, além de investimentos em saneamento e acesso a água com regularidade. "Se a pessoa não tem acesso a água 24 horas por dia, ela vai estocar e, ao fazer isso, dependendo das condições, ocorre a reprodução do vetor ali. É todo um trabalho integrado", pontua, lembrando que as ações devem ser mantidas o ano todo.
Ele observa ainda que o mosquito transmissor demonstra uma capacidade muito grande de adaptação. "Esqueçam aquela frase que diz que o mosquito só gosta de água limpa e parada, porque ele está se adaptando".
Seguindo o mesmo raciocínio, o secretário de Estado de Saúde, Augustinho Moro, pontua que, diferente de períodos anteriores, os registros de dengue estão sendo observados durante o ano todo, mesmo durante a estiagem. Também ressaltou o aumento do número de casos entre a população jovem, especialmente entre os menores de 15 anos, além do aumento das internações.
Ações – Moro apresentou ao ministro da Saúde um panorama das ações implementadas em Mato Grosso no combate a dengue. Segundo ele, ao contrário do que se pensa, os depósitos de água representam apenas 1% do total dos lugares onde são encontrados focos do mosquito, enquanto os depósitos de lixo correspondem a quase 40%.
Ele informou Temporão acerca da realização de um grande mutirão na Capital e em Várzea Grande, iniciado no último mês com patrulhas motorizadas, além de ações pontuais, com pulverização do fumacê e distribuição de panfletos educativos para prevenção. Em Mato Grosso, a campanha foi denominada "Mato Grosso contra a dengue: juntos vamos vencer este jogo". A estratégia é fazer uma ligação do combate a dengue com a expectativa da Copa do Mundo, para atrair a atenção da população e mobilizá-la.
Na contra-mão – O país apresentou uma redução de 79,2% nos casos graves, passando de 20.579 nas 30 primeiras semanas de 2008 para 4.281 no mesmo período de 2009. Esses casos correspondem a soma dos registros de dengue com complicações e febre hemorrágica. Em Mato Grosso, a média de casos graves subiu de 14 a 17 nos anos anteriores para 1.200 em 2009, enquanto as mortes aumentaram de 2 para 35. Os últimos dados são da SES e os primeiros do MS.
Ontem, a Prefeitura de Cáceres confirmou a causa morte da professora Greice Aparecida do Nascimento, 27, ocorrida no domingo. Segundo laudo do Laboratório de Fronteira, ela morreu devido a síndrome do choque da dengue, forma clínica da doença. Greice Nascimento estava gestante de 38 semanas ao dar entrada no hospital, os médicos constataram ausência de batimentos cardíacos fetais.
Dengue mata – O ministro Temporão informou que o MS já estuda, em parcerias com grandes laboratórios nacionais e internacionais, alternativas para a produção de uma vacina contra a dengue, mas lembrou que isso ainda está longe de ser concretizado. Reforçou, portanto, a necessidade da população agir com as armas que tem, entre elas a limpeza dos quintais. "A dengue mata".
O MS informa que tem estoque estratégico de medicamentos, inseticidas e equipamentos para combater a doença no país. São 2,77 milhões de unidades de paracetamol (gotas e comprimidos), 2,03 milhões de frascos de soro fisiológico injetável e 562,7 mil envelopes de sais de reidratação oral que serão utilizados em situações epidêmicas. Essa medicação é essencial para a atenção ao paciente e será utilizada em situações epidêmicas em apoio aos estados e municípios.
Outros 250 mil litros de inseticidas e 3,5 mil toneladas de larvicidas serão distribuídos ao longo das ações de controle vetorial. Também há 6,5 mil kits de diagnósticos, suficientes para a realização de 170 mil exames. Além disso, em caso de necessidade, o Ministério da Saúde poderá colocar à disposição uma reserva estratégica de 77 nebulizadores costais motorizados e 142 equipamentos de fumacê. No dia 24 de novembro, o MS divulgará os resultados nacionais do Levantamento Rápido de Infestação por aedes aegypti (Liras) em 169 municípios, entre eles os mato-grossenses.