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Casar faz bem a saúde, aponta pesquisa

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Piadinhas sobre as agruras do casamento não faltam. O ator americano George Burns (1896 – 1996), ganhador de um Oscar e dono de um notório bom humor, também tinha a sua: “Fui casado por um juiz. Deveria ter pedido um júri.” Se fossem os jurados, os pesquisadores Robert Kaplan e Richard Kronick, da Universidade da Califórnia (EUA), recomendariam o “sim” com base em estudo que divulgaram neste mês a respeito da relação entre estado civil, saúde e longevidade. Os cientistas analisaram estatísticas de mortalidade e dados sobre a qualidade de vida de 67 mil pessoas, entre casadas, viúvas, separadas, as que tinham parceiros sem ser uma relação formal e as que nunca trocaram alianças com alguém. O resultado é que os solteiros convictos estão 58% mais ameaçados de morte em comparação aos demais.

Casamento, então, faz bem? Trabalhos anteriores já tinham demonstrado que, quando a união é equilibrada e feliz, a estabilidade influencia positivamente a saúde e o bem-estar do casal. Mas muitas pesquisas eram amostras pequenas da população. Kaplan e Kronick decidiram ir mais a fundo na questão. Cruzaram os dados da pesquisa nacional de saúde americana feita em 1989 com a taxa de mortalidade de 1997 observada no mesmo grupo. Eles verificaram que o pior risco de morte estava entre os indivíduos que nunca se casaram – sejam homens, sejam mulheres –, seguido dos viúvos (39% mais chances de morrer do que os casados) e separados (27%).

Em relação aos homens, Kaplan aponta que o perigo atinge mais os jovens. No subgrupo dos 19 aos 44 anos, eles estão duas vezes mais propensos a perder a vida. Isso porque estão mais sujeitos a doenças infecciosas, morte por motivos externos (acidentes, por exemplo) e por suicídios e homicídios. Já os que têm mais de 65 anos não apresentam diferenças significativas em relação aos casados. Ou seja, nesse caso o estado civil não interfere na probabilidade de o homem sucumbir a uma enfermidade, a mais provável causa de letalidade nessa fase. Não foi isso que se notou entre as mulheres. As solteiras com idade superior a 65 têm maiores riscos de morte do que as que se casaram.

De acordo com os cientistas, essas diferenças não podem ser atribuídas a maus hábitos. Seria razoável pensar que, afinal, os eternos solteiros têm liberdade para viver perigosamente. Os números, entretanto, não refletem essa imagem. Quem não se casou apresenta uma ligeira tendência a permanecer mais magro do que os demais. Eles também se exercitam um pouco mais e bebem um pouco menos. O problema poderia ser a falta de bom acompanhamento médico. Dos grupos estudados, são os casados que contam mais com alguma assistência. Por tudo isso, os pesquisadores defendem que a solteirice convicta seja vista como um novo fator de risco. Na interpretação de Kaplan e Kronick, a ameaça de morte que ronda os que jamais tiveram um parceiro chega a se rivalizar aos perigos da pressão alta ou do colesterol alterado.

Talvez soe como exagero. Porém, um trabalho divulgado recentemente por epidemiologistas da Dinamarca reforça o aspecto protetor do casamento
sobre a saúde. Segundo eles, mulheres com mais de 60 anos e homens com
mais de 50 que vivem sós têm o dobro de chances de sofrer problemas cardíacos como angina (dor no peito) e infarto. Após avaliar dados de 138 mil adultos entre 2000 e 2002, os médicos concluíram que a falta de convívio social dos solitários nesse período da vida não os predispõe a fazer visitas periódicas ao cardiologista. “Viver sozinho é um fator de risco que os médicos deveriam considerar”, declarou o pesquisador Kirsten Nielsen.

Há mais um estudo a sugerir que casar traz benefícios. Ao menos para pessoas que têm depressão. Ao analisar entrevistas de três mil voluntários, entre eles não deprimidos, especialistas da Universidade de Ohio (EUA) se surpreenderam com o fato de os doentes reportarem mais efeitos psicológicos positivos com o matrimônio do que os indivíduos saudáveis. Eles descobriram que a união estável reduziu sintomas. Os pesquisadores acreditam que a intimidade e o suporte emocional ajudaram. Para o psiquiatra Miguel Jorge, da Universidade Federal de São Paulo, é preciso investigar mais antes de dizer que o casamento funciona como “remédio” para esses pacientes. Outros motivos podem ter contribuído para minimizar a doença. Em sua opinião, a depressão também sofre a influência de fatores ligados à personalidade e a situações, além da ação de substâncias bioquímicas no corpo. “Em certos casos, é possível que um evento social como uma promoção tenha efeito positivo. Se a pessoa fez um bom casamento, isso poderia contribuir”, pondera. O que, aliás, seria benéfico para qualquer um.

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