Reportagem especial do jornal Estadão aponta que 26 pessoas morreram em Mato Grosso, de 1979 (quando a Lei da Anistia foi instituída no país e facilitou o acesso às instituições públicas) até o momento atual, em decorrência de disputas políticas. É o maior número de mortes na região Centro-Oeste. Neste mesmo período foram 18 assassinatos em Mato Grosso do Sul e 13 em Goiás.
De acordo com o levantamento feito pela reportagem, no Nortão de Mato Grosso, durante este período, foram registradas pelo menos uma morte, com esta motivação, em Cotriguaçu, Nova Canaã do Norte, Matupá, Carlinda, Alta Floresta e Nova Ubiratã.
Os demais casos ocorreram em Cuiabá (2) Várzea Grande (2), Tangará da Serra (2), Nova Xavantina (2), Juscimeira (2), Vila Bela (1), Novo Santo Antônio (1), Araguaiana (1), Pedra Preta (1), Santo Antônio do Leverger (1), Nossa Senhora do Livramento (1), Chapada dos Guimarães (1), Porto Estrela (1), Lambari D"Oeste (1), Alto Paraguai (1).
O estado com o maior número de casos é Pernambuco com 210 mortes. O Nordeste concentra a maioria dos registros deste tipo de crime. No Norte, o Pará lidera com 48 casos. No Sudeste, o Rio de Janeiro tem 110 casos. No Sul, 36 ocorrências foram registradas no Paraná.
A reportagem aponta ainda que dois terços dos inquéritos policiais enviados ao Ministério Público Estadual não apontam nem autor nem mandante dos crimes. A principal motivação seria o poder e os recursos que as prefeituras passaram a ter a partir da Constituição Federal de 1988.
"Com o repasse de dinheiro de novos fundos federais, a caneta do prefeito se fortaleceu, tornando-se um objeto desejado como nunca, um oásis em regiões onde o emprego e a indústria não chegaram. A luta pelo controle da prefeitura e de Câmaras Municipais tornou-se menos partidária e mais violenta, a ponto de superar a influência dos grandes proprietários de terras. A ligação entre a grande propriedade rural e a concentração de votos em redutos eleitorais dos grotões, que por tradição alimentaram as figuras do pistoleiro, do capanga e do mandante, foram retratadas, por exemplo, no clássico "Coronelismo, enxada e voto", de Victor Nunes Leal", aponta a reportagem.
Em entrevista ao jornal, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, avalia que a disputa por poder está cada vez mais acirrada nos cerca de quatro mil municípios do país com até 20 mil habitantes. "São cidades onde a indústria é a prefeitura", explica.
Ziulkoski diz que ouve com frequência histórias de funcionários demitidos ou microempresários endividados que foram ao gabinete do prefeito com faca na mão.