O discurso de “eu já sabia” contraposto à quase completa ausência de iniciativa de autoridades políticas do Estado no que diz respeito às irregularidades nas obras de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Cuiabá e Várzea Grande fizeram o governador Pedro Taques (PDT) acusar de prevaricação aqueles que afirmavam já imaginar o desfecho que o empreendimento teria e, mesmo assim, pouco fizeram para tentar mudar o curso da história.
Para o hoje deputado federal Adilton Sachetti (PSB), ex-presidente da Agecopa, agência que deu início aqueles que deveriam ser os “legados” do Mundial de futebol para os cuiabanos, o motivo de boa parte de as obras prometidas não estar pronta até hoje nove meses após o evento é apenas um: interferência política.
“O VLT foi construído sem nenhum estudo técnico, sem nenhuma avaliação da viabilidade econômico-financeira. Era uma mentiraiada para enganar os outros. (…) Essa falta de visão, essa coisa focada no resultado político e não econômico e administrativo é que levou ao desastre que está aí hoje”, afirmou o socialista.
Depois de revelar um relatório sobre a real situação da obra, Taques antecipa que no próximo dia 28 a Procuradoria Geral do Estado (PGE) deve apresentar as ações para responsabilizar “quem roubou o dinheiro” destinado ao empreendimento. O governador confessa, no entanto, ainda não ter ideia sobre como resolver o problema que encontrou. Ressalta apenas que não cometerá o mesmo erro da gestão anterior. “Em mim, pressão podem fazer à vontade. Eu vou decidir tecnicamente, ouvindo o cidadão”, garantiu.
Taques pretende chamar para o debate não só a Assembleia Legislativa, mas as Câmaras Municipais e as Prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, Poderes que, segundo Sachetti, foram impedidos de participar das primeiras discussões quanto à implantação do novo modal de transporte coletivo por conta das eleições de 2010.
“O BRT [sistema de corredores exclusivos para ônibus] era um projeto que a prefeitura vinha estudando há anos. Quem decidiu que seria melhor o VLT? Algum técnico da prefeitura emitiu um laudo dizendo que seria? Patrolaram. Os políticos que estavam na gestão [das obras] patrolaram. A prefeitura ficou fora de tudo. Ela, que é o ente federativo que tem que fazer a gestão da cidade, ficou em segundo plano. Por falta de interesse acho que não foi, é porque não deixaram mesmo. Havia toda uma situação política em que o prefeito era de um lado e o governador de outro. Foi só política”, afirmou Sachetti.
Taques, que na época era senador da República, diz ter feito o possível para fiscalizar a obra. Convocou o Conselho Regional de Engenharia e Agricultura (Crea), a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a Associação dos Engenheiros e produziram relatórios que foram entregues ao então governador Silval Barbosa (PMDB).
Agora, o pedetista defende que a Assembleia Legislativa instale, sim, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para ajudar a apurar os responsáveis pelas irregularidades cometidas. Sachetti, no entanto, lembra que o Parlamento pouco fez até agora e levanta suspeita sobre o possível envolvimento de deputados na pressão política que resultou neste desfecho para a obra. “Para você ver como a coisa era política e ninguém tinha preocupação se a obra ia ou não sair, eu, o presidente de uma agência que foi eleito por dois terços dos deputados, me demiti, falei que tinha problemas políticos interferindo nas obras e ninguém me chamou para saber o porquê”, critica.
O deputado federal ressalta que, conforme a lei que havia criado a Agecopa, nem mesmo o governador do Estado teria autonomia para exonerá-lo do cargo sem que houvesse um processo com causa nominada e aprovação por parte do Legislativo. “Mesmo assim, nunca me chamaram na Assembleia para eu dar explicação sobre uma vírgula. Alguma coisa tinha por trás. Eu devia estar atrapalhando a vida de alguém. Só pode ser isso! Porque, se fosse um lugar que tivesse critérios técnicos e respeito com as coisas públicas, imediatamente teriam aberto uma sindicância para saber porque eu saí”, avalia.
O deputado federal e o governador também concordam quanto ao futuro da obra. Ambos afirmam desejar ser possível a conclusão do VLT. Ponderam, no entanto, que a continuidade ou não do projeto precisa levar em consideração seu custo. “O que vamos fazer com o VLT? Tudo vai depender do valor da tarifa. Qual será esse valor? O cidadão vai ter condições de pagar? Se é possível transformar em BRT? Essa pergunta eu não vou responder. Não tenho conhecimento técnico para isso”, pontua Taques, antecipando já ter determinado ao Gabinete de Projetos Estratégicos que elabore um estudo sobre o assunto. A expectativa é que o resultado seja revelado ainda neste mês.
“Nós temos hoje um investimento feito e esse investimento tem um custo já assumido. Eu não tenho acesso aos dados para dizer se vale a pena continuar ou não. Quero crer que vale, sim. Vai fazer o que com aqueles vagões? Jogar dentro do Rio Cuiabá para fazer criatório de peixe? Vamos ter que aproveitar aquilo, mas com responsabilidade. Se não dá para fazer os 20 quilômetros, que façam 10”, avalia Sachetti.