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Sem reajuste, Forças Armadas também cogitam paralisação

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O clima de insatisfação e indignação entre militares das Forças Armadas aumentou desde que o Ministério da Defesa anunciou que o reajuste salarial da categoria não sairá antes da segunda quinzena de fevereiro. Mensagens anônimas sobre uma possível paralisação geral no próximo dia 31, já vinham sendo publicadas em fóruns de discussão na internet desde dezembro, mas se tornaram mais acaloradas após a suspensão temporária da negociações na última terça-feira.

Preservados pelo anonimato, já que não podem se manifestar publicamente, alguns militares aceitaram conversar com a Agência Brasil. Comentaram o que classificam como descaso do governo e reclamaram do “tratamento inadequado” dispensado às três forças e à questão da segurança militar.

Alguns deles confirmaram os rumores sobre a manifestação, mas não atestaram se os pelotões estariam realmente dispostos a se amotinar. Coube aos aposentados e às esposas de militares tornar pública a insatisfação das tropas.

No fórum de debates do site Portal Militar, a paralisação de todas as atividades e a concentração maciça nos refeitórios das unidades militares foi anunciada no dia 18 de dezembro. “Marque no seu calendário: 31 de janeiro, dia da primeira paralisação nacional das Forças Armadas por melhores condições de vida e salariais”, escreveu um usuário do site, sob o pseudônimo Caserna7777.

“Já estou repassando a mensagens. Agora, vai ou racha. Quero ver onde vão prender tanta gente. O motim existe e vai acontecer”, respondeu em seguida um usuário do site, protegido pelo codinome Agitadores. “Vamos todos juntos. Não dá nada [nenhuma punição]. Somos guerreiros, estamos lutando apenas pelo que é nosso por direito.”

Em resposta a um comentário sobre a ineficácia de uma paralisação militar, Gabriel36 lembrou possíveis impactos para determinados setores, como indústrias químicas, fábricas de munições, pedreiras e a própria Petrobras.

“Para as empresas produzirem produtos químicos, é necessário autorização do Exército. Para uma pedreira funcionar, quem autoriza também. Somos nós que fiscalizamos os produtos controlados. Procure saber o que fazem a Diretoria e as Seções de Fiscalização de Produtos Controlados.”

O presidente da Confederação Nacional da Família Militar (Confamil), capitão Waldemar da Mouta Campello Filho, não acredita em uma paralisação, mas classifica os rumores como “um indicador do estado de espírito de revolta, motivado por insatisfação”. A Confamil reúne 28 entidades, representando, segundo o capitão, cerca de 1 milhão de pessoas.

Campello acha provável que as mensagens estejam sendo publicadas nos fóruns por alguém da reserva, que não terá muito a perder caso a paralisação se concretize. “Esse pessoal, por falta do que fazer, fica extravasando bílis, querendo incendiar. Agora, o pessoal da ativa tem uma carreira e tudo que fizerem contrário ao código militar será um risco.”

Apesar da avaliação moderada, Campello criticou o governo e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. “Essa atitude de desinteresse e descaso nos entristece. As Forças Armadas são dependentes das decisões do ministro e se o cara não tem o feeling [sentido] para perceber pelo que a coorporação está passando, fica difícil. Mas não se pode colocar a tropa nas ruas e chutar o pau-da-barraca. Confiamos nos chefes militares e acreditamos que eles sabem o porque desta decisão.”

Segundo a presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa), Ivone Luzardo, o clima nos quartéis, se já estava ruim, ficou insustentável após mais um adiamento do reajuste salarial. “Há um clima de revolta e insatisfação entre os militares e seus familiares e isso pode sim levar a uma paralisação no próximo dia 31. Por enquanto, são só rumores, mas a Unemfa já está se articulando para promover manifestações em todo o país”, afirma Ivone.

Procurado, o Ministério da Defesa disse que não comentaria o assunto. A reportagem tentou ouvir os comandantes das três forças. Nesta quinta-feira (10), eles se reuniram com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em Brasília, mas não falaram com a imprensa. A assessoria da Aeronáutica lembrou que os militares não podem paralisar suas atividades.

Já o Exército, por meio de sua assessoria, disse desconhecer qualquer intenção de seu efetivo realizar qualquer manifestação. Em nota distribuída ontem (10) e assinada pelo comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, Jobim teria garantido durante o encontro a manutenção “dos entendimentos para o aumento salarial dos militares”.

Em outubro, segundo o ministério, o efetivo das Forças Armadas era de 609.935 militares, sendo 342.409 na ativa, 133.662 inativos e 133.864 pensionistas. A folha de pagamento de pessoal atingia R$ 31 bilhões, sendo R$ 28,5 bilhões pagos aos militares e R$ 2,5 bilhões aos civis.

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