Os partidos de oposição decidiram nesta segunda-feira pedir que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), se afaste do cargo até o final das investigações envolvendo seu nome. Eles irão protocolar junto à Mesa Diretora da Câmara uma carta que será entregue pessoalmente a Severino.
“Estamos diante de uma situação constrangedora. O presidente da Câmara é ao mesmo tempo réu e juiz neste caso. O ideal é o seu auto-afastamento até que tudo seja esclarecido”, defendeu o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).
Severino foi acusado de receber R$ 10 mil por mês de Sebastião Augusto Buani, da empresa Buani e Paulucci Ltda, para permitir que o empresário explorasse a concessão do restaurante Fiorella, no 10º andar da Câmara. O pagamento da propina teria sido feito por Buani para manter seu estabelecimento em funcionamento, mesmo após o fim de uma prorrogação de contrato.
Em sua defesa, Severino refutou os fatos, disse ser vítima de uma tentativa de extorsão e pediu que a Polícia Federal investigue o caso. Severino teria afirmado ainda que as acusações contra ele partiram de uma iniciativa do PSDB.
Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP), que convocou a reunião da oposição, estas medidas não são suficientes. “Somente essa acusação infundada já é suficiente para torná-lo incompatível para o cargo de presidente da Câmara.”
Encontro
Na reunião de hoje participaram líderes e representantes das bancadas do PPS, PDT, PV, PSDB e PFL. Todos decidiram apoiar a elaboração da carta que será entregue a Severino.
Segundo Goldman, várias hipóteses para o afastamento de Severino foram estudadas, mas os líderes da oposição preferiram optar pelo pedido de auto-afastamento. Por telefone, Severino aceitou receber os representantes da oposição, mas informou que não receberia o documento. Mais tarde, o presidente da Câmara ligou cancelando o encontro.
Para Goldman, “Severino perdeu a autoridade política de dirigir a Câmara”. Além de pedir o auto-afastamento, os deputados da oposição criaram uma comissão independente que vai acompanhar as investigações sobre o caso. “Os partidos vão decidir os nomes dos integrantes desta comissão e só depois ela será oficialmente formada”, disse Jungmann.
O objetivo, segundo o deputado pernambucano, é garantir “uma apuração independente, autônoma e rápida”. “Para isto, no entanto, é preciso o afastamento do presidente da Câmara”, disse.
Os partidos de oposição vão procurar ainda alguns partidos da base, como PSB, PC do B e PTB para verificar se eles apóiam ou não o movimento pelo auto-afastamento de Severino.
Para Jungmann, deve ser aberto um processo contra Severino no Conselho de Ética da Câmara, independentemente das investigações que estão sendo feitas pela Corregedoria e pela Polícia Federal, a pedido do presidente da Câmara.
Isso porque, conforme Jungmann, a sindicância irá avaliar apenas os contratos do restaurante com a Câmara e a PF vai analisar uma suposta tentativa de extorsão do empresário, denunciada por Severino. “Essas investigações não respondem à principal questão, que é se houve ou não pagamento de propina. Isso quem vai avaliar é o Conselho de Ética”, disse Jungmann.
Um novo encontro entre as oposições está marcado para amanhã e, segundo Jungmann, servirá para analisar os desdobramentos das decisões tomadas hoje.