O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), desembarca quinta-feira em São Paulo para uma conversa –que chamou de decisiva– com o prefeito de São Paulo, José Serra. Nela, Serra deverá responder se pretende mesmo deixar a prefeitura para disputar a Presidência. No mesmo dia, Tasso se reunirá com o governador Geraldo Alckmin para saber se ele desistiria caso Serra estivesse disposto a concorrer.
De acordo com os interlocutores de Alckmin, a resposta é não.
“Buscamos um entendimento entre eles [Serra e Alckmin]. Eles têm o direito de querer ser candidato, mas também o dever de entender que chega uma hora em que é preciso decidir, e que a decisão deve recair sobre o candidato com mais possibilidade de vitória”, disse Tasso, dando sinais de preferência por Serra.
A interlocutores, como o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, Tasso disse que teria uma “conversa definitiva com os dois”. “Se a negociação não tiver êxito, ele terá que escolher a forma de consulta”, contou Cássio.
Segundo o deputado estadual Pedro Tobias –acompanhante de Alckmin na viagem de domingo ao Rio–, o governador já se programou para o encontro com Tasso na quinta-feira. Mas, até para intimidar um hesitante Serra, os aliados de Alckmin já avisam que sua intenção é levar a disputa para o voto.
Secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, João Carlos Meirelles conta que o governador voltou de Washington na quinta-feira passada usando o exemplo dos Estados Unidos em sua defesa. Alckmin repete que lá os partidos têm “quatro, cinco” pré-candidatos à Presidência e isso não é considerado nocivo.
Segundo Meirelles, a resposta de Serra não afetará a pretensão do governador. “Se Serra decidir pela candidatura, o PSDB tem, como qualquer partido no mundo inteiro, dois candidatos que naturalmente se apresentarão às instâncias”, disse ele, citando o PMDB e o PDT como exemplos.
Afirmando que o governador está prestes a concluir a “era Covas/Alckmin”, Meirelles insiste na possibilidade de prévias caso Serra sinalize a possibilidade de concorrer. “Se houvesse unanimidade em quaisquer instâncias superiores à convenção [Executiva e Diretório Nacional], seria fácil se chegar a um consenso. Mas não há. Respeitamos muito isso.”
Aliados de Alckmin afirmam que a orientação do governador foi para que depusessem as armas até domingo, prazo dado como fatal para a escolha do candidato. Até lá, o governador –que se exilou ontem em Pindamonhangaba– manterá sua agenda pública, mas sem tanto alarde.
Na segunda-feira, porém, ele voltará à carga, com uma homenagem ao governador Mario Covas, no quinto aniversário de sua morte. Em Santos, ele estará ao lado de Lila Covas, viúva do governador, que recentemente disse que sentiria vergonha caso Serra deixasse a prefeitura para concorrer. Na terça-feira, Alckmin viajará para a Paraíba, onde será homenageado por deputados estaduais do Nordeste.
“O governador pediu que baixássemos as baterias até domingo”, disse Pedro Tobias.
“Esperamos que eles se entendam até domingo. Se não, teremos que nos movimentar”, endossou o deputado José Carlos Stangarlini.
Amanhã, Stangarlini estará ao lado de Alckmin na catedral da Sé, para o lançamento da campanha da Fraternidade. Na manhã de quinta-feira, ele vai inaugurar uma escola técnica.
Sua agenda ganhará contorno mais político se, até segunda-feira, não houver um desfecho. O gesto, segundo um interlocutor de Alckmin, é para evitar que Serra adie sua decisão.
A estratégia de Alckmin é intimidar Serra. Segundo seus aliados, o prefeito paulistano viajou domingo a Buenos Aires para refletir sobre a possibilidade de renúncia. Líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA) diz que sua decisão depende do “grau de solidariedade do PSDB”. E ainda não há essa segurança de apoio.
Jutahy tem insistido que Serra disputará caso seja essa a vontade do PSDB. “Será uma decisão solitária”, avaliou o deputado Alberto Goldman (SP).
Para Goldman, a “falta de escrúpulos dos petistas” é um ingrediente para que o prefeito reflita bem antes de entrar numa “disputa cruenta”.
Tasso deverá telefonar amanhã para Serra, marcando o novo encontro. A preferência de Tasso e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelo nome de Serra é resultado da análise das pesquisas segundo as quais o candidato mais competitivo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o prefeito.
Segundo tucanos, Tasso, FHC e Aécio estariam até dispostos a patrocinar Serra em possíveis prévias contra Alckmin, se o governador não desistisse. Nas conversas, Alckmin teria alegado que não pode mais recuar. “Se não houver entendimento e eu jogar a toalha, aí teremos de discutir um critério, como chamar a Executiva, ou o diretório, ou até mesmo prévias, mas não acredito que cheguemos a prévias”, disse o presidente do PSDB.