O ex-governador Silval Barbosa disse, em delação premiada, que alguns deputados estaduais que receberam propina acabaram não sendo gravados, no Palácio Paiaguás, quando foram buscar o dinheiro e que alguns repasses foram feitos dentro da Assembleia Legislativa. Mas ele entregou para a Procuradoria Geral da República as planilhas de controle de pagamento feita pelo ex-chefe de gabinete Sílvio Cezar Corrêa Araújo, e 24 deputados estaduais e suplentes da legislatura anterior foram contemplados com pagamentos supostamente irregulares, fruto de propina paga por empreiteiras contratadas para executarem as obras do MT Integrado (obras de pavimentação). Na delação premiada, Silval aparece em vídeo lendo nomes dos acusados – alguns se reelegeram e estão na atual legislatura da Assembleia – 11 parlamentares.
Na planilha constam os seguintes nomes: Wagner Ramos, Ezequiel Fonseca, Antonio Azambuja, Zé Domingos, Alexandre Cesar, Ademir Bruneto, João Malheiros, Pedro Satelite, Airton Português, Luciane Bezerra, Sebastião Rezende, Emanuel Pinheiro, Guilherme Maluf, Dilmar Dal Bosco, Walter Rabello, Luiz Marinho, Baiano Filho e Jota Barreto.
Entre os 15 apensos e três volumes que compõem a delação de Silval, Sílvio, da ex-primeira-dama, Roseli Barbosa, do filho de Silval, Rodrigo Barbosa, e do irmão do ex-governador Antônio Barbosa, estão as imagens captadas por ele de políticos recebendo o dinheiro e 11 planilhas com anotações sobre os supostos pagamentos, relativos ao primeiro semestre de 2013. Ele revelou que apenas dois deputados não receberam as parcelas do acordo das mãos dele, Zeca Viana (PDT) e Guilherme Maluf (PSDB), muito embora o nome do tucano apareça em uma relação, escrita à mão, de supostos beneficiários.
Conforme Sílvio Correa, entre os anos de 2012 e 2013, ele foi informado por Silval da existência de acordo com os deputados, que receberiam R$ 600 mil cada um, valor dividido em 12 parcelas. O dinheiro para a quitação de mais esta conta seria providenciado pelo então secretário adjunto de Infraestrutura, Valdísio Juliano Viriato, encarregado de recolher a propina das empresas.
Os pagamentos eram feitos geralmente em dinheiro e no gabinete de Sílvio, que revelou que os deputados iam pessoalmente buscar a parcela mensal do acerto. Apenas o deputado Sebastião Rezende (PSC) em algumas vezes encaminhou uma pessoa para fazer o recebimento, a exemplo do ex-deputado Airton Rondina Luiz, o Airton Português (PSD) que gravado pelo ex-chefe de gabinete recebendo dinheiro com sua irmã, a ex-secretária adjunta de Educação Vanice Marques.
Aos procuradores, ele explicou que em algumas ocasiões ia pessoalmente à Assembleia para fazer a entrega do dinheiro, o que ocorria, segundo Sílvio, no gabinete do então primeiro-secretário, o deputado Mauro Savi (PSB). Em duas vezes teria deixado o dinheiro ao parlamentar, que faria os repasses aos colegas. Sílvio contou que desde o início tentava obter um recibo que confirmasse a quitação da dívida, mas foi informado pelo deputado Romoaldo Júnior (PMDB) que nenhum parlamentar assinaria qualquer documento, ficando o acordo mantido “na palavra”.
Nem sempre as empreiteiras que pagavam a propina “honravam o acordo” e Sílvio conta que sofria enorme pressão dos deputados. Para saldar as dívidas com os parlamentares, ele chegou a recorrer a operadores financeiros que conhecia, obtendo empréstimos quitados quando o fluxo da propina era normalizado. A fonte de recursos também variava e, em três ocasiões, o dinheiro saiu de vantagens indevidas arrecadadas na extina Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo de 2014 (Secopa).
A lista dos pagamentos a serem feitos, apresentada por Sílvio à Procuradoria-Geral da República (PGR), foi elaborada por Romoaldo, à época líder do governo no legislativo, ou Savi, após uma reunião em que reclamações de políticos que tinham recebido o dinheiro, mas alegavam que não, foram apresentadas.
Embora não tenha recebido os recursos provenientes da propina, Zeca teria cobrado, certa vez, o ex-chefe de gabinete, dentro da Assembleia, sendo informado por Sílvio que não tinha direito a este dinheiro por não estar na relação elaborada por Romoaldo ou Savi. Já Maluf não receberia das mãos de Sílvio porque, conforme o ex-governador havia contado a ele, o tucano tinha um outro acerto com Silval. Já Ondanir Bortolini, o Nininho (PSD), chegou a pegar duas parcelas, enquanto o restante foi acertado diretamente por ele com Viriato.
A ideia de gravar alguns dos recebimentos da propina partiu do próprio Sílvio, por conta da pressão sofrida por ele e Silval, feita pelos deputados. Ele explicou que comprou uma câmera em São Paulo, a instalou em uma antena parabólica que ficava em sua sala e contou com a ajuda de um servidor para ajustar a imagem captada.
Outro Lado
O prefeito de Cuiabá e ex-deputado Emanuel Pinheiro (PMDB) afirmou que as imagens veiculadas são “totalmente deturpadas” e negou o recebimento de propina.
A prefeita de Juara, Luciane Bezerra disse, anteriormente, ao Só Notícias que o dinheiro que recebeu era pagamento de uma dívida pessoal que Silval tinha com seu esposo, o deputado Oscar Bezerra.
Maluf negou ter pedido ou recebido qualquer vantagem indevida, a exemplo de Barreto e Ezequiel Fonseca (PP).
Mauro Savi lembrou que não está entre os investigados a pedido do procurador-geral, Rodrigo Janot e que a citação quanto ao seu nome não possui nenhuma prova.
O ex-deputado Alexandre César (PT) afirmou que embora as imagens talvez não sejam justificáveis, a versão dada pelos delatores (ex-governador e seu chefe de gabinete) de que lhe pagavam propina mensal para assegurar apoio parlamentar na Assembleia Legislativa não é verdadeira. Os fatos não se deram nem da forma, nem ao tempo e tampouco nos valores anunciados. A reportagem não conseguiu contato com os demais citados.
O deputado Dilmar Dal Bosco (DEM) disse ao Só Notícias ter "convicção e tranquilidade que nunca participamos de nada ilícito. Não fazíamos do grupo deste cidadão [Silval Barbosa]. É fácil entender que ele não deixou claro que não houve recebimento de nenhum dinheiro".