A definição do nome do companheiro de chapa do presidenciável tucano Geraldo Alckmin converteu-se em queda-de-braço entre Jorge Bornhausen, presidente do PFL, e Antonio Carlos Magalhães (BA), um dos principais expoentes do partido. O pano de fundo é uma disputa pela hegemonia do PFL.
A sombra de Bornhausen está refletida na imagem do senador José Jorge (PFL-PE), um dos candidatos à vaga de vice de Alckmin. O vulto de ACM está espelhado na estampa de José Agripino Maia (PFL-RN), o outro senador que reivindica o posto.
Preferido de Alckmin, Agripino Maia tem em ACM um esteio e um estorvo. Dispõe dos votos que o senador baiano controla no partido. Mas atrai para si todo o estigma que marca a trajetória de ACM.
O grupo pró-José Jorge difunde na legenda o receio de que a escolha de Agripino tonificaria supostas pretensões de ACM de retomar a aura de “dono” do PFL, que ostentou até o ocaso do governo de Fernando Henrique Cardoso.
O poderio de ACM começou a ser desidratado em 2001. Naquele ano, ele presidia o Senado. E foi acusado de ter maquinado a violação do painel eletrônico durante a votação que se pretendia secreta da cassação do mandato do então senador Luiz Estevão. O episódio levou ACM à renúncia. ACM e Bornhausen se estranham desde então.
Bornhausen enxergou no episódio do painel a oportunidade para abrir frinchas na supremacia de ACM. O problema é que o senador catarinense lida com um adversário famoso pelo faro político. Na briga entre José Serra e Geraldo Alckmin, ACM ficou com o segundo. Bornhausen apostou em Serra. E perdeu.
A mira certeira rendeu a ACM um canal privilegiado com Alckmin. Os dois se falam pelo telefone pelo menos duas vezes por semana. O que permitiu ao morubixaba baiano desenvolver uma articulação paralela à de Bornhausen. ACM tricota também com Tasso Jereissati, presidente do PSDB e seu amigo de décadas.
É nesse terreno movediço que deslizam as postulações de José Jorge e Agripino Maia. Nenhum dos dois admite a hipótese de abrir mão em favor do outro. Um prenúncio de que a disputa terá de ser definida na urna, contra a vontade de Bornhausen.
O presidente do PFL realizou uma consulta a 94 líderes do partido. Em movimento calculado, providenciou para que a sondagem fosse aberta. Admitiu que cada um dos ouvidos mencionasse vários nomes. Obteve, assim, mais de 180 “votos”. Não sem motivo, o nome de Bornhausen (70 menções) emergiu como o mais “votado”. E o de seu preferido, José Jorge (55), ficou à frente do de Agripino Maia (43).
Sentindo o cheiro de queimado, Agripino diz entre quatro paredes que fez uma sondagem paralela, na qual teria prevalecido sobre José Jorge com uma dianteira de 55% em colégio semelhante ao que foi consultado por Bornhausen. Por isso não abre mão de uma aferição final, caso o consenso se mostre inviável.
José Jorge, por sua vez, diz que, como ficou à frente na consulta de Bornhausen, cabe a Agripino sugerir regras para a definição da pendenga. Os dois devem conversar nesta semana. Anfitrião de Alckmin, que acaba de visitar o seu Estado (Rio Grande do Norte), Agripino informou ao candidato que dispõe do apoio de “Estados inteiros”. Citou, por exemplo, os diretórios do PFL da “Paraíba, Piauí (exceto Heráclito Fortes, cuja posição é desconhecida), Mato Grosso e Maranhão (exceto Rosena Sarney, que também não tornou pública a sua preferência).”