Dois telefones em nome da Presidência estão no centro das investigações da Polícia Federal sobre a origem do dinheiro do dossiê contra tucanos.
Um dos números –(61) 9649-0099– é uma espécie de PABX para chamadas direcionadas a celulares. As ligações a partir desse telefone demonstram que dois dos principais investigados no caso, Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas, foram procurados muitas vezes pelo Palácio do Planalto no período crítico da negociação do material contra o PSDB, entre os dias 12 e 15 de setembro.
Para Bargas, foram 16 chamadas. Para Lorenzetti, quatro. Nesse mesmo intervalo, Freud Godoy, que era assessor especial da presidência, recebeu 61 ligações desse número.
O outro telefone é o celular (61) 7811-2678. São dezenas de ligações desse aparelho para Freud e sua esposa, Simone, e a empresa de segurança do casal, a Caso Sistemas. Há também cinco telefonemas para João Vaccari Neto, segundo suplente do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e homem de confiança do presidente licenciado do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). No material das quebras dos sigilos telefônicos em poder da PF e da CPI dos Sanguessugas, ao qual a Folha teve acesso, nem os ramais do PABX para celulares nem o usuário do segundo número foram identificados.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto informou que os usuários dos números seriam revelados somente às autoridades competentes.
Cronologia
Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Mercadante, entregou o dinheiro do dossiê aos emissários petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha no dia 13 de setembro, no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, segundo a PF. Naquele dia, Freud recebeu 18 ligações do PABX da Presidência. Lorenzetti, 2.
Na madrugada do dia 15, Gedimar e Valdebran foram presos no hotel com R$ 1,75 milhão. Nessa data, Bargas falou 14 vezes com o PABX da Presidência –mesmo número de ligações recebidas por Freud. Para Lorenzetti, foram duas.
Em alguns casos, as ligações entre eles são próximas. Entre as 17h14 e 17h15, por exemplo, houve duas chamadas para o celular de Bargas. Às 17h24, foi feita uma ligação para Freud.
Freud era assessor especial do presidente Lula e, para a PF, as ligações podem até ser consideradas normais. Seu nome surgiu no escândalo por conta de Gedimar, que afirmou ter partido dele a autorização para a compra da documentação contra os tucanos. Posteriormente, Gedimar o isentou, alegando que havia sido pressionado pela PF a citar um petista.
Lorenzetti, chefe do núcleo de inteligência da campanha de Lula, foi apontado pela PF como o “articulador” da operação do dossiê. Bargas, também integrante do núcleo de inteligência, atuou diretamente na negociação do material.
Os dois primeiros estavam subordinados à campanha de Lula, não à Presidência.