Uma nova denúncia de um suposto esquema de lavagem e desvio de dinheiro público envolvendo integrantes do PMDB pode complicar ainda mais a situação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O advogado Bruno de Miranda Lins, que foi casado com Flávia Garcia, assessora parlamentar de Renan, acusa em denúncia à Polícia Civil o pai da ex-mulher, o empresário Luiz Carlos Garcia Coelho, de atuar para vários políticos do PMDB.
Em entrevista à revista “Época”, Bruno disse que Coelho teria montado um esquema de arrecadação de dinheiro para Renan em ministérios controlados pelo PMDB, como a Previdência e a Saúde. Não especificou, porém, desde quando o esquema estaria em funcionamento. Afirmou que ele próprio foi buscar pessoalmente em pelo menos seis ocasiões o dinheiro da suposta propina. Numa delas, no BMG, teria pego R$ 3 milhões.
De fato, Coelho tem amplo trânsito e proximidade com muitos caciques peemedebistas, incluindo Renan e o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Em 2004, por exemplo, o presidente do Senado vendeu por R$ 600 mil uma casa no Lago Sul, bairro de classe alta de Brasília, para a Grupo de Assessoria Ltda., da qual Coelho é dono.
O empresário costuma freqüentar o gabinete de Jucá. A assessoria confirmou que Coelho visitava o senador, mas disse que ele não vai mais ao gabinete desde a rápida passagem de Jucá pelo Ministério da Previdência, em 2005, do qual se afastou após denúncia publicada pela Folha de que teria obtido R$ 750 mil em financiamentos do Banco da Amazônia de forma fraudulenta.
À polícia Bruno também disse que o deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), quando esteve na chefia do INSS, atuou para beneficiar o BMG na concessão de crédito consignado.
Prestado em setembro de 2006 ao delegado da Polícia Civil do DF João Kleiber Esper, o depoimento de Bruno é cercado de brigas, processos e ameaças por conta de sua separação. O documento ficou parado na gaveta de Esper por sete meses. Depois de percorrer mais algumas repartições na polícia do DF, o depoimento só foi enviado à PF há cerca de um mês.
Segundo a “Época”, a corregedoria da polícia abriu sindicância para apurar por que o delegado demorou tanto para passar adiante um assunto que não era de sua competência. Investiga também se o depoimento teria sido usado em uma tentativa de chantagem contra o empresário Luiz Carlos Coelho e o senador Renan.
De acordo com a “Época”, a polícia investiga a informação de que o delegado Esper e um amigo, o empresário Orlando Rodrigues da Cunha Filho, presidente da Hípica de Brasília, foram a um escritório de advocacia para tentar a extorsão. “Estive lá com o Orlando, sim. Até falamos sobre o depoimento, mas não pedi dinheiro”, disse o delegado à revista.
Outro lado
Procurado pela Folha, Renan não ligou de volta. A assessoria de Jucá informou que ele foi operado ontem e não poderia se manifestar. As assessorias de Bezerra e do BMG negaram ter havido benefício indevido ao banco para operar com crédito consignado.
Nota de Carlos Bezerra
Em nota, antes mesmo da publicação da reportagem, Carlos Bezerra refutou qualquer tentativa de associá-lo ao assunto. “Nunca tive contato com o Sr. Bruno Lins. Sequer o conheço. Tomei conhecimento do seu nome hoje, através da imprensa”, diz Bezerra, informando que tomará as medidas judiciais cabíveis contra qualquer tentativa de associá-lo a uma briga familiar que não lhe diz respeito.
Na nota, ainda, Bezerra reitera que a Medida Provisória 130, que regulamentou os empréstimos consignados a aposentados e pensionistas, foi editada em 17 de outubro de 2003, quando ele ainda não presidia o INSS. A regulamentação ocorreu em 2004 por Decreto da Presidência da República, expedida pela Casa Civil, sem qualquer participação do INSS. Ressalta, também, que a primeira instituição financeira a realizar convênio de empréstimo consignado foi a Caixa Econômica Federal e somente depois disso, mediante consulta e instrução no Banco Central, os serviços foram estendidos as demais instituições, seguindo o mesmo modelo de convênio inicial.
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