quinta-feira, 25/abril/2024
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Mato-grossense ainda está nos planos de Lula para ser ministro

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As negociações da reforma ministerial levaram o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, novamente ao centro das articulações políticas, fazendo dele o principal negociador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os partidos aliados.

As mudanças objetivam ampliar o espaço dos aliados, como incluir o recém-fortalecido PP no ministério e recompor o relacionamento com o fracionado PMDB. Por último, Lula usará a reforma para tentar amarrar acordos políticos para a sua eventual reeleição.

Ao mesmo tempo, Dirceu recuperou prestígio, colocando-se ao lado do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) quando se trata de conversas sigilosas com Lula. Recolheu-se internamente, adotando comportamento mais discreto, o que agradou Lula e retomou o papel que foi seu na composição do governo em 2002 e na reforma ministerial de 2004 (anteparo do presidente).

Na recente viagem aos EUA, Dirceu teve agenda de chanceler, tratando da economia brasileira às relações americanas com Cuba, país com o qual mantém fortes laços. No Palácio do Planalto, a Folha ouviu que ele levou a Washington uma mensagem de Fidel Castro. No Carnaval, Dirceu visitou a ilha caribenha que o acolheu quando perseguido pela ditadura.

Além de Dirceu e Palocci, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), participa das articulações para mapear os desejos de partidos aliados e contornar problemas no PT, que perderá algumas das 19 entre 35 vagas de primeiro escalão.

Mercadante e Dirceu patrocinam, por exemplo, a ida da senadora licenciada Roseana Sarney (PFL-MA) para o ministério. Palocci apóia essa saída, que ajuda a consolidar a base do governo no Senado. O atual presidente do Senado, o habilidoso Renan Calheiros (PMDB-AL), também banca a indicação de Roseana.

Falta definir a pasta de Roseana. Na prática, o clã liderado por José Sarney, fiel aliado de Lula no PMDB, quer tentar recuperar o poder no Maranhão, onde vive às turras com o governador José Reinaldo (PTB). No médio prazo, Roseana se filiaria ao PMDB e poderia ser alternativa de vice de Lula no ano que vem.

Ao contrário da reforma de janeiro de 2004, Lula está mais fechado nas negociações atuais, que também se tornaram mais demoradas. Desde novembro, o presidente adia a reforma. Ele evita discussões em grandes grupos para tentar impedir vazamentos de informação. Também dá uma pista a um interlocutor e solta outra diferente para outro. E delegou a Dirceu o papel de falar em seu nome com partidos na reta final das negociações, o que deve acontecer ao longo desta semana.

Conversa preocupante

Na manhã de 19 de novembro, Dirceu teve uma conversa a sós com Lula na qual disse que se sentia “desconfortável” no governo. Achava-se alijado do centro das decisões, principalmente as políticas. Não soube, por exemplo, dos movimentos de Lula para indicar o vice da República, José Alencar, para a pasta da Defesa.

A contrariedade de Dirceu refletia a perda de poder com o caso Waldomiro Diniz, principalmente do ponto de vista público, porque internamente manteve forte influência. Waldomiro, homem da confiança de Dirceu, apareceu numa fita gravada antes do início da gestão Lula pedindo propina a um empresário e protagonizou a maior crise do atual governo -em fevereiro do ano passado.

Preocupado, Lula achou melhor resgatar Dirceu, sob pena de ter um chefe da Casa Civil contrariado mas com muito peso no PT, o que poderia abalar a sua governabilidade e gerar crises.
O ministro da Casa Civil ensaiou críticas à política econômica, principalmente contestando em conversas reservadas o processo de alta dos juros.

Lula resolveu liberá-lo para jogar mais livremente na área política. Pediu a ele, porém, que tivesse o cuidado de não atropelar Aldo Rebelo (Coordenação Política), coisa que o PT se encarregou de fazer, inclusive com aval de Dirceu. Os dois se desentenderam a respeito da da emenda constitucional que permitiria a reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara. Dirceu era favorável. Aldo, que levou a melhor, contrário.

Hoje, Aldo é um articulador contestado publicamente pelo PT, o que angustia Lula. O presidente não quer fritá-lo, mas reflete se ele ainda tem condições de, em guerra com o PT, permanecer no posto. A favor de Aldo, pesa o temor de Lula de que passar sinal de fraqueza em relação ao PT e de a substituição ser vista como um gesto de hostilidade aos aliados.

Uma opção é mover Aldo para outra pasta, como Trabalho, ocupada pelo petista Ricardo Berzoini. Problema: no sindicalismo, PT e o PC do B de Aldo travam guerra nas bases. Ou seja, para onde Lula se desloca, encontra obstáculos.

Detalhe: o nome petista aventado para a posição de Aldo é justamente o de João Paulo Cunha. Uma surpresa seria a devolução pura e simples da articulação política à Casa Civil. Lula, aliás, promete surpreender na reforma. Até mesmo mantendo Aldo debaixo de tanto bombardeio.

Nas últimas semanas, Dirceu recebeu tarefas do presidente. Antes de viajar para os EUA, ele e Lula falaram a sós e combinaram movimentos, como a operação para evitar que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), aceite o pedido do PSDB para abrir processo de crime de responsabilidade contra Lula devido às declarações sobre suposta corrupção na gestão FHC.

Com Severino, que derrotou o candidato do governo a presidente da Câmara, impondo a mais forte derrota a Lula no Congresso até hoje, Dirceu tratará também da reforma ministerial. O presidente da Câmara terá influência na indicação do ministro do partido e receberá uma boa posição numa estatal ou num ministério.

Antes da eleição de Severino, o ex-líder do PP na Câmara Pedro Henry (MT) era o indicado do partido para o ministério.
Lula e Dirceu ainda querem nomeá-lo, mas precisarão costurar com a bancada liderada por José Janene (PR) na Câmara. Henry se desgastou na bancada quando foi descoberta manobra sua para liberar uma milionária emenda parlamentar de seu interesse.

Negociações

Nas conversas reservadas, o presidente simpatiza com a idéia de usar as eleições de 2006 como pretexto para tirar alguns petistas. Humberto Costa, ministro da Saúde sem boa avaliação no Planalto, é cotado para sair. Costa é pré-candidato a governador de Pernambuco, mas enfrenta contestação no próprio PT. O prefeito reeleito de Recife, João Paulo, por exemplo, pode lhe tirar a vaga.

Nas negociações com o PMDB, está bem encaminhada a articulação para que Romero Jucá (RR) seja indicado ministro pela bancada de senadores. Hoje, a possibilidade maior seria ter assento na Previdência, derrubando o também senador Amir Lando (RO). Lula, porém, não tomou decisão final porque um dominó de trocas de posição pode levar Jucá a outra pasta.

Senadora licenciada, a pefelista Roseana Sarney só não será ministra se a sua saúde impedir -ela convalesce de uma cirurgia.
A articulação para que Roseana seja ministra está fechada com Lula. Se Eunício Oliveira (Comunicações) for deslocado para outra pasta, ela poderia substituí-lo. Ciro Gomes (Integração Nacional) é cotado para a Saúde, liberando a sua vaga para o PMDB.

Planejamento e PT

O Planejamento, ocupado interinamente por Nelson Machado, deverá ficar fora da composição política numa reforma para ampliar o espaço dos aliados.

A série de recentes percalços políticos do governo convenceu Lula a blindar Palocci, sinalizando que a área econômica continuará fora de ingerências políticas. Isso reforça a possibilidade de indicação de um petista afinado com o ministro da Fazenda. Franco favorito: o deputado federal Paulo Bernardo (PT-PR).

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