O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse não acreditar que o País esteja passando por um novo surto de desmatamento e que houve “alarde” na divulgação de números do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), na semana passada. Sem citar a ministra Marina Silva, Lula criticou o Ministério do Meio Ambiente e as organizações não-governamentais, e disse que não se pode culpar a agropecuária, os produtores de soja e os sem-terra assentados pelo aumento do desmatamento na Amazônia. “Não dá para culpar ninguém”, afirmou.
Ao criticar o Ministério do Meio Ambiente, que divulgou na quarta-feira passada os dados do Inpe, o presidente admitiu que os números do desmatamento estão “sob investigação” e anunciou que pediu à ministra Marina Silva para convidar os governadores para uma reunião em Brasília, ainda sem data definida. Para Lula, o fato de que houve um aumento do desmatamento no último trimestre do ano passado, comparado ao último trimestre de 2006, não quer dizer que, na conta do ano inteiro, o desmatamento de 2007 tenha crescido em relação ao ano anterior. “A questão é que a Amazônia não permite descuido”, disse.
A ministra Marina Silva anunciou na semana passada que o Inpe havia detectado uma expansão do desmatamento nos últimos cinco meses do ano passado. Pelos cálculos dela, o desmatamento pode ter atingido cerca de 7 mil quilômetros quadrados no período. Essa área foi projetada a partir dos dados do Inpe, recolhidos pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), que registrou 3.233 quilômetros quadrados de mata derrubada entre agosto e dezembro.
Em entrevista concedida ao final de almoço solene oferecido no Itamaraty ao presidente do Timor Leste, José Ramos Horta, o presidente Lula rejeitou a associação direta entre a ampliação da fronteira agrícola e o desmatamento. “É preciso investigar. Mas todos que promoveram queimadas ilegais devem receber um duro processo, perder inclusive a propriedade”, disse. Ele afirmou ainda que “vai comprar briga” com as organizações não-governamentais se elas insistirem em ligar o crescimento da agricultura ao desmatamento. Segundo ele, há dados que mostram que a soja cresce “sem precisar derrubar árvores”.