Levantamento feito em segredo pelo PT indica que a engrenagem eleitoral do partido nos Estados roda em descompasso com a máquina nacional. Escorado em Lula, o partido considera-se franco favorito na disputa presidencial. Mas antevê derrotas indesejáveis nas disputas pelos governos de alguns dos principais Estados da federação.
No Nordeste, indica a análise, Lula prevalece sobre o tucano Geraldo Alckmin em todos os Estados. Sua taxa média de intenção de voto roça os 70%. Mas o prestígio do presidente não é transferido aos demais candidatos petistas. Em toda a região, só no Piauí o PT está certo de que fará o governador, renovando o mandato de Wellington Dias.
Em praças politicamente mais relevantes, como Bahia e Pernambuco, o otimismo desvanece. Na Bahia, tenta-se levar o ex-ministro Jacques Wagner (Relações Institucionais) ao segundo turno, evitando que Paulo Souto (PFL), hoje com índices que ultrapassam os 55%, liquide a fatura no primeiro turno.
Em Pernambuco, dois ex-ministros de Lula dividem o eleitorado dito progressista: o petista Humberto Costa (Saúde) e o socialista Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia). A divisão facilita o trabalho do por ora favorito Mendonça Filho (PFL), aliado ao PMDB de Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato ao Senado.
Em Sergipe, não se exclui a hipótese de o petista Marcelo Déda passar ao segundo turno. Mas reconhece-se que ele tem menos chances de vitória que João Alves (PFL). O PT dá como certas a derrotas dos petistas José Neto, na Paraíba, e Lenilda Lima, em Alagoas.
Sem nomes de vulto no Maranhão, o PT teve de contentar-se em indicar Teresinha Fernandes para vice de Edson Vidigal (PSB), candidato à derrota para Roseana Sarney (PFL). Também no Rio Grande do Norte, o PT teve de restringir-se à vice. Ruy Pereira deve compor a chapa com Wilma Maia (PSB), que mede forças com o relator da CPI dos Bingos, Garibaldi Alves (PMDB). A fórmula do vice foi repetida no Ceará, onde o partido de Lula indicou Francisco Pinheiro para compor a chapa encabeçada por Cid Gomes (PSB). Avalia-se que o irmão de Ciro Gomes irá ao segundo turno, contra o tucano Lúcio Alcântara.
O drama petista se estende ao estratégico ‘triângulo das bermudas’, que reúne os três maiores colégios eleitorais do país. Excetuando-se São Paulo, onde o partido ainda confia na hipotética capacidade de reação de Aloizio Mercadante diante do favorito José Serra (PSDB), em Minas e no Rio, os petistas Nilmário Miranda e Vladimir Palmeira são vistos como cartas fora do baralho.
Em Minas, o PT tenta construir pontes com o tucano Aécio Neves. No Rio, torce para que o “aliado” Marcelo Crivela (PRB), do partido do vice-presidente José Alencar, vá ao segundo turno contra Sérgio Cabral (PMDB), para que Lula mantenha até outubro um palanque em terras fluminenses.
Descendo para o canto inferior do mapa, o PT antevê dias difíceis para o ex-ministro Olívio Dutra (Cidades) no Rio Grande do Sul. Acha que são limitadas as chances de ele derrotar Germano Rigoto (PMDB). Em Santa Catarina, a candidatura de outro ex-ministro, José Fritsch (Pesca) chega a irritar Lula. O presidente não se conforma com o fato de seu partido não ter celebrado ainda uma aliança com Luiz Henrique (PMDB).
O mesmo ocorre no Paraná, onde Lula defende uma aliança do petismo com Roberto Requião (PMDB). Para o presidente, os petistas do Sul deveriam guiar-se pelo exemplo dos companheiros de Goiás. Ali, por insistência do Planalto, o PT aliou-se à candidatura do senador Maguito Vilela (PMDB).