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Leia mais conversas de empreiteiros: “o cara queria 5 milhões. Achei indecoroso”

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Outros trechos de escutas telefônicas, gravadas pela Polícia Federal, entre os empreiteiros que articularam para formar um grupo e ganhar as obras do PAC em Cuiabá e Várzea Grande mostram as propostas de acordo para empreiteiras de outros Estados não irem a Mato Grosso disputar as licitações. A Justiça Federal também aponta que eles os empreiteiros acertaram propinas com os concorrentes para não disputarem as licitações e não atrapalharem seus planos. Os recursos destinados para as obras de saneamento foram de R$ 217 milhões e, até agora, foram pados cerca de R$ 7,6 milhões, que foram sequestrados por ordem do juiz federal Julier da Silva. O juiz se baseou, também, nos seguintes “acordos de cavalheiros” que, na sua avaliação, evidenciam as irregularidades na formação do consórcio de Mato Grosso

Uma das conversas, gravadas em março do ano passado, é entre o empreiteiro Anildo Lima Barros e outra pessoa ainda não identificada, sobre as licitações para definir as empresas vencedoras das obras do PAC. O interlocutor que Jorge ligou e que vão colocar duas propostas lá (possivelmente na prefeitura), lacradas. Anildo diz que tem uma pessoa que está em São Paulo e que pode trazer isso (troca). A Polícia Federal, nas transcrições, descreve a outra pessoa conversando com o empreiteiro como HNI

Anildo – Fala meu amigo.
 HNI-  O negócio é o seguinte, o Jorge ligou, nós vamos fazer diferente. Nós vamos fazer duas proposta igualzinhas, lacrada, aí põe essa lá e devolve as duas fechadas nossa.
Anildo – Combinado, combinado melhor.
HNI – Melhor né?
A – Melhor, você manda amanhã?
HNI – Amanhã não, vai ter que ser segunda-feira, hoje não dá.
A – Não dá pra vim até domingo, ou hoje à noite?
HNI – Acabei de falar com eles lá agora, iam preparar e trocar.
A – Se ele puder fazer isso, rodar hoje pra amanhã, pra nós podemos segunda cedinho, no máximo segunda cedo fazer essa transfusão. (troca de planilhas)
HNI – Você não tem ninguém pra vir buscar isso não?
A – Mas buscar que dia? Domingo? eu tenho uma pessoa aí, o meu menino tá aí(Carlos Avalone), ele vem domingo daí ele tras.
HNI – Deixa eu ver com ele, conforme for…
A – Eu tenho um dos meus meninos, um dos caras tão aí em São Paulo, tá vindo domingo daí ele trás isso.
HNI – Deixa eu ver se ele consegue fazer isso hoje.
A – Fala pra ele fazer hoje, nós pagamos os custos que tiver.
HNI – As propostas, aquelas que estão lá tem que voltar pra nós.
A – Nós entregamos do jeito que esta pra vocês….tchau.

 

A Justiça Federal aponta que, “na mesma esteira, seguem as tratativas para afastar empresas licitantes de Goiânia (GO) Sobre estas, restou apurado, a partir das conversas interceptadas, que os líderes do esquema criminoso abordaram as prováveis empresas que teriam interesse já antes da licitação, situação que não permitiu a constatação sobre a existência de acordo prévio de não participação no procedimento licitatório. Restou ainda estabelecida a atuação dos investigados para obstar o prosseguimento da empresa Costa Gomes, de propriedade de Olinger Gomes e Mariozan Pimenta da Silva no certame, ao argumento de que não contavam com o “aval” dos Sindicatos de Mato Grosso”.

LUIS CONENGE- Sim.
GUILHERME – É o Guilherme de Goiânia, tá bom?
LUIS – Tudo
GUILHERME – O Mariozam (Costa Gomes – goiania) ligou pra você, ou não?
LUIS – Ligou, mas ele falou que tá com um problema, o sócio dele parece que está em João Pessoa entregando obra lá, parece que já tava programado pra ir pra lá.
Ele ficou de, de ver direitinho os horários de vôo aí e ele ficou de me dar uma resposta aí.
GUILHERME – É, ele falou pra mim que o sócio dele que é o Olinger, ele chama Olinger, o sócio dele, falou que tava realmente com esse problema aí e que segunda feira ele tem que ir pra Brasília pra Águas Lindas e com esse problema todo e tal. Bicho, vamo atender os cara, o cara qué vim, bababa… Não, mas eu não posso resolver isso sozinho, depende de meu sócio, bababa… Ele pediu seu telefone, eu tomei a liberdade de dar, pra ele conversar com vc
LUIS – Não, claro, mas tem que ser conversa pessoal, eu ia lá, né? Agora eu queria ver com você aí. Você conhece toda a história, né?
GUILHERME – Conheço
LUIS – Então, ele tá nessa jogando com a pedra seis e sete, né?
GUILHERME – Isso
LUIS – E essas pedras aí, já, como é que se diz?
GUILHERME – Tem  pessoas mexendo, né?
LUIS – É.  E explicar pra ele né? Que se fosse um negócio ainda. Nós não temos dentro do, dessa cota que a gente tem, né? Nós não temos… participa aqui junto coisa e tal
GUILHERME – Não tem mais.
LUIS – Como chegar e falar: Não, participa aqui junto, coisa e tal.  outro grupo o outro resto do lote se tivesse lá, tudo bem, né?
GUILHERME – Eu entendi, já entendi. Mas ele me falou o seguinte: Que ele, pra ele atender aos pedidos nosso, eu já conversei com ele hoje três vezes, três vezes, insisti, fui insistindo. Eu tenho um bom relacionamento com ele. Na última conversa que teve agora ele virou pra mim e falou que ele queria (300) trezentos em seis pagamentos e que eu fosse avalista, ainda por cima, eu falei pô: Mas eu não tenho como fazer isso. E outra, eu acho que o pessoal não vai aceitar isso. Acho que é muito e tal. Ah, então deixa pra lá, não envolve nisso não. Você tem que resolver o seu também. Larga disso e tal, não sei o que. Eu to ligando pra ele esse tempo que estou tentando resolver, e essa foi a última conversa dele, no começo ele falou que não ia abrir mão, que ele quer participar e tal, não sei o que. Bom, o que eu puder fazer eu tava querendo assim ligar pra ele amanhã, encontrar com ele pessoalmente e tentar mais uma vez, entendeu?
LUIS –  O que eu queria que você explicasse pra ele, que a gente já explicou, é que você tá no processo, né?

GUILHERME – Claro, não, ele sabe.
LUIS – E da dificuldade que está todo esse processo pra gente acomodar o que o SINDUSCOM representa aqui no Mato Grosso e o que o SINCOOP representa também, entendeu? E que justamente ele caiu nesses dois negócios(lotes 06 e 07) aí, né? Quer dizer pra nós vai ser…
GUILHERME – Deixa eu te fazer uma pergunta e você estuda essa hipótese. É, quando o Jorge fez o acerto comigo, vão ter outras pessoas que vão estar participando junto comigo, num segundo momento, não me posicionou ainda quem seria, certo? Eu fiz o acerto com Jorge (Jorge Pires da Concremax) , ele me prometeu que do montante total eu iria  ficar com dez (por cento) . Será que não tem condição, às vezes, de eu propor, vocês me passarem mais um e eu passar isso pra ele e eu resolveria o problema? E aí ele faria em obras mesmo…

LUIS – Olha, eu acho que dá pra conversar. Nós passavamos um e você passa um, também.
GUILHERME – Não sei se você entendeu, o que eu quis dizer. Vamos fazer uma coisa eu sei o problema do 6 e do 7, isso aqui é imexível. Vamos fazer uma coisa, vocÊ confia em mim, ai eu te dou um e você vai la e faz um de rede (lote), não estou dizendo que eu vou conseguir eu só estou achando uma maneira de tentar compor com o cara.
LUIZ – Disse que pode fazer, se for o caso eu dô da minha cota.
GUILHERME – Em mim ele sabe que eu vou cumprir com ele, eu vou fazer, ai converso com ele amanha cedo.
LUIZ – Fala que conversou comigo.
GUILHERME- Disse que vai de todo o jeito abrir mão,  se ele nao abrir aÍ vou fazer isso que eu acabei de te falar, aÍ vou dizer o bicho vou resolver, porque caras vao jogar a responsabilidade para cima de mim.
LUIZ – Disse que se ele precisa passar uma procuração para alguem ou vir aqui segunda-feira para retirar o documento.
Gui – Sera que não seria melhor entrar com um pedido de retirada de documento.
Luiz – O qualquer coisa passa por fax.
Gui – Eu coloco num aviao aqui , ai um menino meu e leva la segunda-feira la, abrindo mão.
Luiz – Pode fazer, nesse negocio ai nos tamos juntos com voce no teu, xxxxxxx, pode ser da minha cota pessoal, que é isso ai inclusive. 

 

Outro diálogo gravado pela Polícia Federal:

GUILHERME – O, Luiz, é Guilherme de Goiânia, beleza?
LUIZ – Beleza
GUILHERME – Luiz é o seguinte: Eu quase perdi a paciência com um rapaz aqui. Depois que eu convenci ele, ele inventou de ligar para um cara lá em João Pessoa, o sócio dele, que é majoritário (Olinger proprietário da Costa Gomes), ai que eu fui descobrindo a história aqui. Aí o cara é complicado demais, rapaz. O cara e difícil demais. Que a família dele é de Cuiabá, que a esposa dele nasceu em Cuiabá, que ele formou em Cuiabá, que o sindicato deu os canos dele num negócio da Dnit que a Delta ganhou, ….ficou conversando comigo meia hora no telefone e tal e veio com outra proposta, eu mesmo achei ela escabrosa, eu falei: Ó, cara, eu nem vou levar isso aí pra frente  porque eu acho que o caminho não é esse, eu falei: ó, lembra que você fez comigo um negócio na Devile? se os caras fizerem isso que você tá fazendo, nós não damos conta de cumprir, não faz isso não.  O que eu tinha proposto pro Mariozan 500 mil, eu falei agora ele pediu um vírgula cinco (1,5 milhão) e o pessoal concordou sem ficar negociando, sem discutir, nem nada. Agora você vem com essa proposta, aí, pô? Não tem condição não, nem vou levar pra frente. Aí o outro cara que tava comigo pegou o telefone e conversou com ele mais uns dez minutos, saiu e falou que vai conversar com ele na hora do almoço e que à tarde me liga. Os caras são …demais, quando você dá o braço o cara quer o corpo inteiro, entendeu? Foda. Agora, não adiante vocês virem aqui não, o cara  é muito… eu não conhecia ele. eu achei muito intransigente, sabe? Muito difícil.
LUIZ – Você tem que descobrir que ele tem um parceiro aqui, entendeu?
GUILHERME – Carlos, ele não me fala quem que é esse cara, sabe? Diz que é um político, ele não me fala quem que é a pessoa. O cara da Três Irmãos ligou pra ele lá no, lá em João Pessoa. 
LUIZ – Tem um amigo nosso aqui que se formou com ele lá em João Pessoa e apresentou esse pessoal pra Três Irmãos fazer uma parceria aí numa cidade de Goiás.
GUILHERME – Aparecida de Goiânia. Isso, tô sabendo
LUIZ – Agora não sei como é que os caras querem assim levar um negócio desse pra frente, entendeu? Criando problema nisso aí, né?
GUILHERME – Não, e outra coisa, rapaz, o que vocês estão abrindo mão pra eles é bom demais. Porque não tem nada a ver como o processo. Nunca pisou em Cuiabá. Não tendo desgaste nenhum tá levando um milhão e meio de obras dos outros e tá achando ruim, pô? Eu penso um pouco diferente nessas questões, sabe? Eu acho que a gente tem que ser maleável, a gente tem que compor.
LUIZ – E isso aí nós tamo tirando de uma cota nossa xxx etapa. Não nós estamos tirando do processo todo. O cara pode até atrapalhar aqui, mas ele vai ser atrapalhado também.
GUILHERME – Eu falei duro com ele. Ele se chama Olinger. Olinger, é o seguinte: O Mariozan me fez uma proposta, eu liguei pro pessoal, o pessoal aceitou.  A única coisa que eu convenci Mariozan foi a questão…. você tem problema de documento e vc não vai recorrer. Agora, eu achei que eu ia te ligar só pra confirmar. Agora, o que você está me pedindo é indecoroso. Pensa bem! Aí ele falou: Não, você não pode brigar comigo, não. Não estou brigando com vc. Só que eu acho que vc tá sendo intransigente. Não é esse o caminho. Não vou levar sua proposta à frente. Nem vou te contar porque ela é indecorosa. O cara pediu cinco pau (5 milhões?). Achei indecoroso, e falei ó: Pensa bem, e me fala a tarde. Eu acho que não vale a pena, o que você está fazendo tá errado. Aí ele passou o telefone pro outro sócio dele, ele conversou mais uns
LUIZ – Pode deixar que eu vou fazer o possível pra resolver
GUILHERME – Tá bom 

Com base nestas e outras conversas gravadas, a Justiça Federal decretou a prisão de 11 pessoas em Mato Grosso, outras em Goiás e São Paulo, além de sequestro de R$ 7,6 milhões pagos para empreiteiras em Mato Grosso que estavam fazendo obras do PAC. O juiz Julier da Silva o que foi apurado pela Polícia Federal “revela ainda um sem número de provas quanto à existência de irregularidades nos procedimentos administrativos destinados à  contratação de empresas para a realização das obras com recursos do PAC tanto nos municípios de Cuiabá quanto em Várzea Grande. 

 

Leia outros diálogos entre empreiteiros presos na Operação Pacenas, em Mato Grosso

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