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Gravações da Polícia Federal sobre esquema sanguessuga citam Pedro Henry e Lino Rossi

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Técnicos da CPI dos Sanguessugas vão ter uma surpresa quando, no início desta semana, começarem a abrir novas caixas de documentos. Relatório reservado em poder da comissão revela que assessores parlamentares não foram os únicos flagrados em negociações de pagamento de propinas com os chefes dos sanguessugas. Cópia desse relatório, obtida pelo GLOBO, mostra que pelo menos 17 parlamentares também foram fisgados em comprometedoras conversas com Darci José Vedoin e Luiz Antônio Vedoin, apontados como chefes da organização acusada de vender ambulâncias e ônibus escolares superfaturados.

Nas conversas, deputados e os chamados sanguessugas conversam sobre as fraudes das ambulâncias, emendas parlamentares e projetos políticos pessoais, entre outros delicados assuntos que, mais tarde, se tornariam o centro de um dos maiores escândalos dentro do Congresso Nacional desde a CPI do Orçamento, no início da década passada. Nos diálogos, deputados e empresários economizam palavras, usam códigos e, em alguns casos, deixam para tratar em encontros pessoais de algumas questões não declaradas. Desde o ano passado, a máfia dos sanguessugas sabia que estava sendo grampeada pela Polícia Federal.

Num dos diálogos mais inusitados, o deputado Neuton Lima (PTB-SP) manda Luiz Vedoin, a quem chama de Luizão, levar oito ambulâncias de uma frota de 17 recém-adquiridas para um barracão em Indaiatuba, cidade do interior de São Paulo. “O deputado diz que já pode mandá-las para Indaiatuba e guardá-las em barracão dele”, informa o relatório. Numa conversa posterior, Luiz Vedoin comenta com o pai, Darci Vedoin, sobre o “pagamento de R$ 10 mil ao deputado”, acrescenta o documento. Em resposta, Darci diz que “negociará retribuição”.

O deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ) é mais cauteloso. Ele liga para Darci e chama o empresário para uma conversa no gabinete. Mas o cuidado foi em vão. Num diálogo com o filho, Darci Vedoin revela tudo o que teria falado com o deputado e pergunta se ainda “tem alguma coisa” que poderia ser feita para ele. Um dos dois diz que “já deram R$ 250 mil” ao deputado e que, se Gonçalves apresentar algumas emendas, em duas semanas seria possível ampliar a ajuda financeira. “Luiz conclui dizendo que depois de carimbar as emendas, ele manda de R$ 20 mil a R$ 30 mil para o deputado”, diz o relatório.

O deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), segundo-secretário da Mesa, considerado um dos mais próximos aos Vedoin, é o mais demorado nos diálogos. Capixaba foi flagrado em conversas com Darci e Luiz Vedoin. O deputado reclama do vazamento de informações sobre as fraudes e demonstra preocupação com as investigações do Ministério Público Federal. Capixaba alerta a Darci que “se forem feitas vistorias, vai dar pepino”. Com experiência no ramo, o empresário ensina o deputado a dizer que “as ambulâncias chegaram com defeito”.

O relatório reservado apresenta ainda várias outras conversas em que, embora não tratem de dinheiro, emendas ou ambulâncias, deputados e sanguessugas demonstram extrema intimidade. Numa dessas séries de conversas, o deputado João Caldas (PP-AL) chama Darci Vedoin de amigo. O empresário trata Caldas, quarto-secretário da Mesa, como “patrão”. As conversas, mencionadas no relatório, foram gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial durante a Operação Sanguessuga.

Parlamentares admitem conversas, mas negam favores

BRASÍLIA. O deputado Neuton Lima (PTB-SP) reconheceu que conversou pelo menos uma vez com Luiz Antônio Trevisan Vedoin, mas negou que tenha recebido qualquer pagamento do empresário. Lima não soube explicar, no entanto, por que teria mandado o empresário guardar oito ambulâncias num barracão. Irritado, disse que só falará sobre o assunto depois que for notificado oficialmente

— Eu nunca recebi dinheiro de ninguém — afirmou.

O deputado Isaías Silvestre (PSB-MG) primeiro tentou negar qualquer relação com os Vedoin, mas depois de confrontado com as gravações admitiu que teve várias conversas com Darci José Vedoin, uma delas ainda no início deste ano, quando a Polícia Federal e o Ministério Público já estavam na fase final da Operação Sanguessuga.

— Ele me ligou oferecendo algum serviço de atendimento a prefeituras — disse.

O deputado sustenta, porém, que não atendeu a pedido e nem recebeu favor algum de Darci Vedoin. Uma assessora de Nélio Dias (PP-RN) confirmou que o deputado conversou com Darci. Ela alega que o deputado queria apenas que o empresário liberasse uma ambulância comprada pela prefeitura de Ipanguassu. Os deputados João Caldas (PP-AL), Nilton Capixaba (PTB-RO), Fernando Gonçalves (PTB-RJ), Osmânio Pereira (PTB-MG) e Irapuan Teixeira (PP-SP) não retornaram os recados deixados pelo GLOBO em seus gabinetes ou nos seus celulares.

Conversas comprometedoras

Dezessete deputados foram flagrados pela PF em conversas por telefone com Darci José Vedoin, Luiz Antônio Trevisan Vedoin e Maria da Penha Lino, entre outros chefes da máfia dos sanguessugas, segundo relatório em poder da CPI dos Sanguessugas. Algumas conversas são vagas, outras cifradas e algumas muito comprometedoras:

1) Fernando Gonçalves (PTB-RJ) – Liga para Darci Vedoin e o chama para conversar em seu gabinete.
2) Isaías Silvestre (PSB-MG) – Diz diz a Darci Vedoin, em código, que algo “deu certo”. Vedoin confirma o “recebimento de valores”.
3)João Caldas (PP-AL) – Quarto secretário da Mesa, o deputado chama Darci Vedoin de amigo. Vedoin chama o deputado de patrão.
4) José Divino (PRB-RJ) – Pede a Raquel, funcionária de Luiz Antônio Trevisan Vedoin, para avisar o empresário que ele ligou.
5) Lino Rossi (PP-MT) – Atualmente licenciado, pede a Darci Vedoin que fale com uma mulher identificada como Célia sobre compra de ambulâncias pela Assembléia Legislativa de Mato Grosso. O deputado também conversa sobre emendas com Maria da Penha Lino.
6) Nélio Dias (PP-RJ) – Conversa com Darci Vedoin sobre problema na compra de carro em Ipanguassu, que teria sido descoberto pelo Tribunal de Contas da União.
7) Neuton Lima (PTB-SP) – Chama Luiz Vedoin de Luizão e manda o empresário guardar oito de 17 ambulâncias compradas com verbas federais num barracão em Indaiatuba (SP).
8) Nilton Capixaba (PTB-RO) – Em longos diálogos, fala com Darci e Luiz Vedoin sobre os riscos de uma investigação sobre as licitações para as compras de ambulâncias. Num determinado momento, o deputado diz que “se forem feitas vistorias, vai dar pepino”. Darci Vedoin ensina Capixaba a dizer que as ambulâncias chegaram com defeito.
9) Osmânio Pereira (PTB-MG) -Conversa com Ivo, genro de Darci Vedoin. O deputado diz que “o ministro quer pagar o processo”, mas o projeto do Hospital São Francisco estaria irregular. Deputado diz que preços estão superfaturados e “ficou chato”.
10) Pedro Henry (PP-MT) -Liga para Maria da Penha Lino e pede que ela interceda para agilizar a tramitação um processo de construção de um ambulatório. O projeto estaria no Ministério da Saúde.
11) Irapuan Teixeira (PP-SP) – Ele e Darci Vedoin falam por telefone e marcam uma conversa para “tomar um café”.
12 ) Eduardo Gomes (PSDB-TO) – Combina com Darci Vedoin doação de ambulância para Figueirópolis.
13) Eduardo Seabra (PTB-AP) – Fala com Darci Vedoin sobre projeto político ambicioso em alguns munícípios. Vedoin diz não querer falar muito naquele número de telefone.
14) Elaine Costa (PTB-RJ) – Cobra de Luiz Antônio Trevisan Vedoin dois carros. Vedoin fala da dificuldade de entregar carros licitados pagos com um único cheque.
15) Enivaldo Ribeiro (PTB-PB) – Conversa com Ronildo Medeiros, um dos sócios dos Vedoin, sobre a vitória nas eleições de Campina Grande.
16) Jeferson Campos (PTB-SP) – Fala com Darci Vedoin e marca encontro com o empresário para o dia seguinte.
17) Benedito: Darci Vedoin diz ao deputado, identificado apenas como Benedito (a Câmara tem dois parlamentares chamados Benedito), que mandou 20 das 40 ambulâncias. Darci ressalta amizade e favores que teria feito ao deputado.

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