O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), integrante da CPI dos Sanguessugas, disse que “vai responsabilizar politicamente o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT)”, porque em março de 2001 o parlamentar transferiu ao deputado Lino Rossi, antigo tucano e hoje no PP, a atribuição pela indicação dos municípios que deveriam ser contemplados com recursos da emenda de bancada número 36901. O dinheiro destinava-se à compra de ambulâncias por várias prefeituras. Gabeira está concluindo um relatório sobre a participação de Antero no esquema, que previa a apresentação de emendas para a compra de ambulâncias que seriam vendidas às prefeituras pelos empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin, donos do Grupo Planam, suposto pivô da máfia dos sanguessugas.
“A responsabilidade política do senador Antero é clara. A bancada tucana entregou ao sócio informal da Planam no Congresso, que era o Lino Rossi, o poder de decidir sobre as emendas para a compra de ambulâncias”, declarou Gabeira. O parlamentar vai apresentar no dia 4 de outubro ao plenário da CPI dos Sanguessugas um parecer sobre a situação do senador Antero. Mas Gabeira já tem um entendimento sobre a participação do parlamentar tucano no esquema. “É difícil acreditar que Antero desconhecesse as ligações do Lino Rossi com a Planam”, afirmou.
O entendimento de Gabeira é que a transferência para Lino Rossi, em 9 de março de 2001, de toda a responsabilidade pelas emendas da bancada tucana promoveu “ a arrancada da Planam como empresa”. Em depoimento, os empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin afirmaram que o deputado Lino Rossi era o responsável pela arregimentação de colegas do Congresso para que apresentassem emendas ao Orçamento da União prevendo a compra das ambulâncias.
O ofício da bancada tucana do Mato Grosso no Congresso é assinado por dois senadores — Carlos Bezerra e o próprio Antero — e sete deputados: Pedro Henry, Ricarte de Freitas, Wilson Santos, Celcita Pinheiro, Murilo Domingos, Teté Bezerra e o próprio Lino Rossi, No ofício também aparece o nome do deputado Welington Fagundes, acusado pela CPI dos Sanguessugas, mas sem a assinatura. O nome do senador Jonas Pinheiro também aparece sem assinatura.
Gabeira descartou responsabilizar o senador Antero pelo recebimento de propina que teria sido paga pela Planam. Os empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin declararam na CPI dos Sanguessugas e em depoimento à Justiça, que pagaram R$ 40 mil de propina para o senador tucano. O dinheiro, de acordo com os donos da Planam, teria sido entregue ao deputado Lino Rossi para que fosse repassado a Antero. Rossi negou o repasse em comunicado enviado à CPI. Antero diz que nunca recebeu dinheiro.
Há duas semanas, o senador tucano disse que tinha cancelado todas as suas emendas para a compra de ambulâncias. Chegou a apresentar um documento em que pede o cancelamento da execução das emendas em razão do contingenciamento no Orçamento adotado pelo Executivo em 2001. Mas depois admitiu que uma emenda destinando R$ 80 mil ao município de Nossa Senhora do Livramento — que comprou uma ambulância do grupo Planam.
O dinheiro da emenda saiu depois que Antero, em 25 de julho de 2001, enviou o ofício número 359/2001 ao então secretário-executivo do Ministério da Saúde Barjas Negri, que assinou um outro ofício endereçado à Fundação Nacional de Saúde (FNS), determinando, “por ordem do ministro José Serra” (ex-ministro da Saúde), a liberação do dinheiro, como adiantou ontem o Correio. O senador Antero Paes de Barros estava ontem em uma aldeia Xavante no interior do Mato Grosso, segundo sua assessoria, e não comentou a decisão de Gabeira de responsabilizá-lo por ter favorecido a Planam.