O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira mandou um recado à cúpula do partido: pretende ir ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar obter uma liminar que o desobrigue de falar à CPI dos Bingos e, se a estratégia falhar, fará tudo para não comprometer ainda mais a legenda no escândalo do mensalão.
A avaliação foi passada do PT para o governo ontem. O maior temor entre dirigentes petistas e governistas é o da transformação de Silvio num “homem-bomba” depois da entrevista publicada ontem em “O Globo”.
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), reafirmou ontem a disposição de convocar o ex-dirigente petista. “Ele [Silvio Pereira] tem detalhes. Sabe como o esquema funciona e qual era a participação das pessoas. Por isso precisa esclarecer ponto por ponto”, disse.
Valerioduto em detalhe
Na entrevista, Silvio Pereira dá detalhes do esquema de arrecadação montado pelo empresário Marcos Valério de Souza e afirma que ele pretendia ganhar R$ 1 bilhão em esquemas que acabaram não prosperando.
Ainda que em frases soltas e sem contextualização adequada, Silvio dá indícios, sem muitos detalhes, de que sabe sobre esquemas de fraudes em licitações e sobre a “verdade do PT”, que seria “difícil de digerir”.
O ex-secretário-geral também menciona muito genericamente o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, como alguém que “mandava” no PT, mas sem especificar se isso o implicaria em alguma ilegalidade.
A convocação
Desde o fim do ano passado, já está aprovado um requerimento de convocação de Silvio Pereira para prestar depoimento à CPI dos Bingos.
Anteontem, após a divulgação das revelações do ex-secretário petista, Efraim decidiu chamá-lo para depor na comissão. Ele quer marcar o depoimento para quarta ou quinta-feira.
O governo passou o fim de semana avaliando como “ruim” a eventual ida de Silvio Pereira à comissão, de acordo com o que a Folha apurou, mas até aqui considera que, se ele se ativer ao que está na entrevista, o dano será mais político –já que o tema mensalão volta ao noticiário.
Oficialmente, a ida de Silvio à CPI é bombardeada pelo ministro Tarso Genro, articulador político do Planalto. Ele e dirigentes petistas defendem a tese de que o ex-dirigente está “desequilibrado” e que a oposição quer fazer “teatro” com suas declarações.
Integrante da CPI dos Bingos, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) afirmou ontem que “não existe outra saída se não convocar” Silvio Pereira para esclarecer as declarações que deu a “O Globo”.
“Ele disse que só mexia com distribuição de cargo. Ora, ele tem de explicar como eram oferecidos e o que se cobrava em troca”, disse. “De acordo com ele, o esquema era para levantar R$ 1 bilhão, mas como? E quem sabia disso? O presidente Lula”, afirmou Tuma.
Também integrante da CPI dos Bingos, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que a oposição deve explorar dois pontos principais em um eventual depoimento do ex-secretário-geral petista à comissão parlamentar.
“Primeiro temos de pressioná-lo para apresentar os tais documentos que, na última hora, não quis entregar ao jornal [“O Globo”]. Outra coisa é obter mais detalhes sobre essa afirmação de que o Lula comandava o partido. Isso é uma acusação de que o presidente era o número um do esquema.”
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