O ex-deputado estadual e ex-diretor de Comunicação e Marketing da extinta Agência da Copa do Mundo FIFA 2014 (Agecopa), Roberto França, prestou depoimento, esta manhã, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Obras da Copa. Ele afirmou que tinha pouco a contribuir, pois não acompanhou de perto a execução das obras. No entanto, disse que fez um trabalho sério e honesto. “Se os questionamentos forem feitos em relação à comunicação, coloco-me à disposição da CPI. Mas me furto a falar sobre as obras, porque não estive envolvido com isso”.
Para assumir o cargo, França lembrou que precisou renunciar ao cargo de suplente de deputado estadual, apesar de a Agecopa não ter vida longa, sendo substituída pela Secopa e, com isso, perdeu o cargo. França disse aos membros da CPI que foi convidado para ser secretário de Estado de Infraestrutura, mas negou assumir à pasta.
Com a substituição da Agecopa pela Secopa, França lembrou que a responsabilidade de comunicação e marketing ficou sob o comando do secretário de Comunicação do Estado, Carlos Rayel.
França sugeriu à CPI obter informações sobre as obras da Copa que estão nos relatórios do Ministério Público do Estado, Tribunal de Contas do Estado, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), do governo Pedro Taques. “Eles têm informações consistentes sobre os erros cometidos quanto à execução das obras da Copa do Mundo”.
Questionado em relação ao modal de transporte, França afirmou que era a favor do Veículo Leve sobre Trilho (VLT) porque é mais moderno, mas que defendia o projeto básico do governo – que trabalhava pela execução do Bus Rapid Transit (BRT). Entretanto, com a extinção da Agecopa, o governo mudou de ideia e iniciou os trabalhos pelo VLT.
“O motivo para acabar com a Agecopa era para implantar o VLT. Sou favorável ao VLT que é mais moderno, mas o compromisso do governo com a FIFA era com o BRT. Quando a Secopa foi instalada, já existia a proposta de dar sequência ao modal do VLT”, afirmou França.
O segundo a ser ouvido foi Jefferson Castro Ferreira Júnior. À época, ele era diretor de orçamento e finanças da Agecopa. Ele foi indicado para o cargo pelo ex-governo Blairo Maggi (PR). A sua administração foi alicerçada em três pilares: supervisão, avaliação e orientação. “As decisões eram tomadas em colegiados. Não fui ordenador de despesas, mas supervisor do setor. O governador não tinha interferência nos pagamentos que a pasta fazia”.
Questionado pela CPI sobre um relatório do TCE apontando avaliação indevida ao pagamento de R$ 450 mil, Ferreira disse que isso aconteceu, mas não sabia explicar os motivos porque foram feitos o pagamento.
Outra testemunha ouvida pela CPI foi o sócio-proprietário da empresa de consultoria tributária "Deloitte", Robson Calil Chaar. Ele afirmou que a empresa realizou trabalho em duas das 12 subsedes da Copa do Mundo: Cuiabá e Manaus/PA. Na capital mato-grossense foram firmados dois contratos: um de R$ 690 mil e o outro de R$ 4,2 milhões. Segundo a CPI, esses contratos receberam pareceres do TCE de inegibilidade de licitação. “Não o conheço. O nosso trabalho era monitorar a evolução para formatar o caderno de encargos e enviar ao comitê organizador da Copa”, disse Calil Chaar.
O contrato entre o Governo e a Deloitte foi feito por meio da Secretaria de Turismo, sob o comando de Yuri Bastos Jorges. Mas de acordo com o relator da CPI, Mauro Savi (PR), “as empresas contratadas para executar as obras vieram prontas e um agente político que se beneficiou do contrato”.
Questionado se a Deloitte teve influência na escolha do modal de transporte – BRT e VLT – Calil Chaar afirmou que “tínhamos a responsabilidade de apontar os pontos positivos e os negativos, mas não tínhamos a função de escolher o modal de transporte”, destacou.
O ex-prefeito de Cuiabá, e hoje deputado estadual e membro da CPI, Wilson Santos (PSDB), fez um relato histórico de sua participação à época da escolha de Cuiabá em uma das 12 subsedes da Copa do Mundo. “Isso foi feito em outubro de 2007. Em seguida encaminhei um documento ao presidente da Federação Mato-Grossense de Futebol, Carlos Orione, pedindo que Cuiabá brigasse para ser a sede da Copa do Mundo. Em 2009, a FIFA anunciou Cuiabá como um das 12 subsedes”.
Mas Santos afirmou que ficou à frente da Prefeitura de Cuiabá até 30 de março de 2010. “Nesse período, assinei documentos destinados ao governo do estado e federal, e aquele que mais saltou aos olhos foi o da implantação do BRT”, disse o deputado.
Durante o depoimento, Santos deixou alguns artigos que escreveu à época sobre a Copa do Mundo em Cuiabá. Ele respondeu todos os questionamentos feitos pelos parlamentares da CPI. “Dei a minha contribuição e espero que seja útil ao trabalho de investigação da Comissão, que apura as irregularidades nas obras da Copa”.