A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Obras da Copa colheu o depoimento do engenheiro de trânsito e ex-assessor especial da Secopa, Rafael Detoni que afirmou que a mudança do BRT para VLT foi uma decisão de caráter político. Ex-assessor especial da Secopa e responsável pela elaboração do plano operacional de mobilidade urbana para a Copa do Mundo, Detoni explicou as diferenças entre os modais BRT e VLT, mas garantiu que ambos atendiam as necessidades do transporte público.
“Fui convidado pelo diretor de infraestrutura da Agecopa, Yenês Magalhães para elaborar o plano operacional, e fui cedido ao governo sem ônus para o municípios pois atuava na SMTU. Em 1995, quando o Yenês era secretário, foi encomendado o primeiro estudo de rede integrada em Cuiabá realizado pela Oficina Engenheiros Associados, que constava o primeiro corredor estrutural, não era o BRT, mas similar. O processo da rede integrada só se inicia nos anos 2000, e em 2005 é elaborada a primeira matriz origem/destino da rede integrada Várzea Grande e Cuiabá”.
Com a candidatura de Cuiabá para a Copa do Mundo em 2008, já foram fornecidos dados sobre a mobilidade urbana para a empresa de consultoria Deloitte, responsável em defender a sede. “Em março de 2009 fui junto com secretário Yuri para Brasília e apresentamos o esboço do plano de mobilidade para a Copa baseado nas premissas da FIFA e apresentamos ao Ministério das Cidades, que consistia em quatro corredores, sendo dois de BRT e um projeto para criar um anel na Avenida 8 de Abril e ligação com a Miguel Sutil, uma nova ponte que ligaria Cuiabá e Várzea Grande, e o quarto corredor consistia na estrada da Guarita e na Mario Andreazza. Após a definição de Cuiabá como sede, tivemos que fazer um projeto mais elaborado”.
De acordo com Detoni, foi recuperado o plano diretor de Cuiabá datado de 95/96, que previa corredores para transporte coletivo e que dispunha sobre a configuração da rede do transporte em que incorporaram o plano de mobilidade urbana.
Sobre a troca do modal BRT para VLT, Rafael Detoni confirmou que a decisão foi de caráter político. Detoni destacou que o ex-secretário Eder determinou a suspensão do acompanhamento do BRT, para que o governo decidisse sobre a troca de modal.
“A decisão foi de caráter político, assinei em conjunto com o governador Silval e o secretário Eder, realizei o parecer técnico sobre o VLT que atendia as necessidades da mobilidade urbana. Mas a tratativa no Ministério das Cidades foi diretamente pelo ex-governador e o ex-secretário Eder. Não participei de adulteração de notas”, afirmou em referência à adulteração denunciada pelo ex-servidor técnico do Ministério, Higor Guerra que prestou depoimento para a CPI, e confirmou que sofreu pressão para a troca da nota técnica, que atestava haver poucos elementos que fundamentassem a troca do modal.
Segundo Detoni, seriam necessários apenas alguns ajustes no projeto do BRT para adequar para contratação do VLT. “Enquanto engenheiro de transportes, não posso negar nenhuma via, o VLT possuía a mesma faixa de capacidade de transporte, ambos eram a mesma demanda e atendiam à necessidade dos municípios de oito mil passageiros/horas. Não posso negar modelo A ou B, era uma decisão de governo e houve a solicitação de mudança para o VLT, que também era compatível, que tecnicamente se aplica. O modelo operacional, seja qual for, desde que implantado corretamente, atende, seja um ou outro, o que não pode é ficar como está”.
Já com relação ao prazo exíguo de 24 meses para completar as obras do VLT, Detoni ressaltou que consideravam um desafio muito grande pela magnitude do empreendimento, mas que não era impossível. “Por isso que na ordem de serviço demos prioridade às obras de arte, antes do período chuvoso”.
Detoni assegurou que enquanto técnico de transportes não possuía competência para avaliar o aspecto do investimento. O custo operacional do VLT é de R$70 milhões/ano. O engenheiro de transportes também adiantou que a tarifa do VLT seria de R$3,30 sem investimentos privados, apenas com o aporte do governo. E também concluiu afirmando que não é comum que os vagões sejam comprados antes da conclusão da obra, e com pagamento adiantado. “Não conheço esta prática como regra geral”.