O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Orlando Perri, classificou como alta a probabilidade do sistema Sentinela, supostamente utilizado para a realização de escutas telefônicas clandestinas no âmbito da PM, estar em funcionamento “a pleno vapor”. A informação consta no despacho do magistrado, que enviou para prisão domiciliar os coronéis Evandro Alexandre Ferraz Lesco e Ronelson Jorge de Barros na última sexta-feira (18). Os dois oficiais são suspeitos de participação na chamada “grampolândia pantaneira”.
Conforme destacou Perri, o Sentinela pode ser operado de forma remota, ou seja, sem a proximidade de seus operadores. Isso, somado ao fato de que, até o momento, o rack onde estariam instalados tais equipamentos não foi apreendido, possibilitaria a continuidade do monitoramento clandestino por algum “longa manus’, ou seja, executor de ordens.
A falta de informações sobre a localização de tais equipamentos foi utilizada por Perri para manter presos dois policiais, o coronel Zaqueu Barbosa, suposto idealizador do Núcleo de Inteligência criado para as escutas, e o cabo Gerson Correa, apontado por ele como principal operador do sistema. O desembargador disse acreditar, ainda, que é alta também a probabilidade de que os materiais que compõem o Sentinela estejam em poder de um dos dois PMs.
Outro ponto usado pelo desembargador para manter as prisões de Barbosa e Correa se dá por conta da influência de ambos em todo o esquema. “No atinente ao coronel Zaqueu Barbosa e ao cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Júnior, não há a menor sombra de dúvidas de que, em relação a eles, recai a participação mais incisiva na criação e na operacionalização do simulado Núcleo de Inteligência da Polícia Militar, formado, única e exclusivamente, para realizar escutas telefônicas clandestinas”, ressalta Perri no despacho.
Para o desembargador, Zaqueu foi o “idealizador de todo esquema criminoso”. Isso porque, além do oficial ser o responsável por entregar duas placas usadas nas interceptações para o cabo, ele atuou para arregimentar policiais com conhecimento em interceptações que atuaram no núcleo. Já Gerson, embora de patente menor em relação ao outros envolvidos, como ressalta o magistrado, teve participação “relevantíssima para o sucesso da empreitada criminosa”.
Lesco e Barros estão agora em prisão domiciliar. Isso porque Perri entendeu que ambos, ainda que suspeitos de participação no esquema, tiveram papéis de menor relevância e não mais oferecem riscos para a coleta de provas da investigação. Ambos deverão permanecer em casa, monitorados por tornozeleiras eletrônicas, ficam afastados de suas funções e não podem, em hipótese alguma, manter contato com qualquer testemunha ou réu no processo que está em andamento.