A decisão do governador Blairo Maggi (PR) de exonerar do Comando Geral da Polícia Militar, o coronel Adaildon Evaristo de Moraes, dividiu opinião na Assembléia Legislativa de Mato Grosso. Embora a maioria dos deputados estaduais tenha avaliado como correta a atitude do governador, alguns acreditam no direito de defesa do coronel, que deixa o cargo para ser substituído pelo também, coronel Campos Filho. O presidente da Casa, deputado Sérgio Ricardo (sem partido) preferiu comentar o assunto, depois de se interar da decisão do governador.
Já o primeiro secretário, José Riva (PR) afirmou que o Governo sempre age no que entende ser correto, mas alertou para o pré-julgamento. “Se houver algum processo de investigação, o tempo vai mostrar”, disse Riva.
Adaildon foi citado em denúncias de torturas a trabalhadores rurais numa operação, que seria de desarmamento e, que se transformou em reintegração de área, na fazenda Bordon, na localidade de Estrela do Araguaia, distrito de São Félix do Araguaia. De acordo com o deputado Daltinho (PMDB), que iniciou as primeiras denúncias, Adaildon Moraes sabia das arbitrariedades cometidas pelos comandantes da PM de Barra do Garças e de Ribeirão Cascalheira, que estavam a frente das tropas policiais, cuja ação estava ocorrendo desde o final de abril deste ano. Segundo o parlamentar, não existia mandado de busca e apreensão de armas e tão pouco, ação judicial de despejo da fazenda, onde os trabalhadores rurais estão acampados depois de invadirem a área.
“Ele sabia do que estava acontecendo e não tomou providências”, disse Daltinho, ao ressaltar que chegou a levar o assunto ao conhecimento do Comando Geral da PM, a Casa Civil Militar e ao Ministério Público nas regiões, onde os policiais atuavam.
De acordo com o deputado, ao todo, 150 famílias de posseiros vivem no local, tendo inclusive, estrutura montada, máquinas funcionando para abertura de estradas e outros benefícios. “O proprietário chegou a contratar jagunços para retirar as famílias de lá”, acusou.
O deputado Ademir Brunetto (PT) reagiu com veemência às denúncias, que foram constatadas in loco pelo próprio Blairo Maggi, que esteve ontem (15), no período da tarde na área de conflito de onde tomou a decisão de exonerar Adaildon Moraes. “Corretíssima a atitude do governador que cortou o mal pela cabeça”, afirmou Brunetto.
O deputado Zé do Pátio (PMDB), que acompanhou os trabalhadores rurais que foram agredidos na região, em audiência com o Governo, disse que, apesar de reconhecer o trabalho do coronel em Rondonópolis e Barra do Garças, o governador tomou a decisão correta para evitar o descontrole da corporação. “Não houve solicitação de nenhum documento para a retirada das pessoas daquela região”, afirmou o deputado.
Zé do Pátio alertou para possíveis abusos de autoridade em outros municípios em que os conflitos agrários são eminentes. “Não podemos deixar Mato Grosso chegar ao extremo do que ocorreu no município Eldorado dos Carajás no Pará”, avaliou. Além do governador, Pátio também discutiu o assunto na Casa Militar e no Ministério Público Estadual.
A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, deputada Chica Nunes (PSDB) e o vice-presidente da mesma comissão, Alexandre César (PT), deverão ir à região ainda esta semana. Segunda a deputada, a iniciativa tem o objetivo de colher subsídios para ajudar nas denúncias que o Ministério Público deve oferecer.
Os deputados Dilceu Dal‘Bosco (DEM) e Roberto França (sem partido) acreditam que o governador tomou a decisão para cometer ato de omissão diante da gravidade dos fatos. “Estivemos recentemente nos Estados Unidos. afirmando que não temos problemas fundiários, agora o governador não podia tomar outra decisão. Isso denigre o Estado”, disse Dal Bosco.
“Depois de constatar os abusos se não houvesse uma atitude, quem estaria cometendo omissão seria o governador”, analisou França. Já Humberto Bosaipo (DEM) e Chico Galindo (PTB) defenderam que o governador deveria ouvir antes, o coronel. “É o direito de defesa do comandante”, disse Bosaipo, tendo suas declarações reiteradas por Galindo.