O primeiro-secretário da Assembleia Legislativa, deputado Ondanir Bortolini, o “Nininho” (PR), afirmou que o grupo JBS criou um monopólio prejudicando muitos pecuaristas e, por isso, apresentará um requerimento para instalação de uma Comissão Parlamentar Inquérito (CPI) da JBS. O posicionamento foi feito durante a oitiva diretor do grupo, Valdir Aparecido Boni, aos membros da CPI da Sonegação Fiscal.
Nininho afirmou ainda que a empresa teve acesso a financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os quais totalizam mais de R$ 5 bilhões para expandir seus negócios no exterior. “Se estão monopolizando o comércio aqui, usufruindo de nossos incentivos fiscais e ainda têm financiamento do BNDES, por que estão desempregando tantos pais de família?”.
Segundo informações fornecidas pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), o grupo comprou 22 plantas de frigoríficos no Estado, mas já fechou 12 unidades em algumas cidades, inclusive em Cuiabá.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Carnes e Laticínios do Portal da Amazônia (Sintracal), José Evandro Navarro, afirmou que a JBS nunca cumpriu o acordado com o governo. “Sobre os incentivos fiscais concedidos à JBS pelo Estado, na gestão Silval Barbosa, em relação ao Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso), o sindicato teve conhecimento desse benefício fiscal, porém, tentamos por várias vezes discutir com a JBS sobre o pagamento de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) aos trabalhadores, visto que pelo benefício é uma das contrapartidas obrigatórias por parte da empresa. Entretanto, a empresa sequer quis tratar do assunto, mesmo sendo beneficiária desse incentivo fiscal. Ela não cumpriu sua obrigação junto aos trabalhadores”.
Navarro afirmou ainda que o problema maior é que só na região onde o sindicato atua a JBS comprou vários frigoríficos que estavam em funcionamento e fechou as portas. Em Matupá, a empresa fechou uma planta em meados de julho de 2015, demitindo cerca de 300 trabalhadores, não negociou previamente o fechamento desta junto ao sindicato.
Em Colíder, o grupo mantinha uma unidade arrendada do antigo frigorífico Quatro Marcos, unidade aberta entre 2009 e 2011, e a fechou demitindo cerca de 500 trabalhadores na época. A JBS comprou esta unidade e ainda outra no município, porém, mantém apenas uma em funcionamento. Além disso, possui uma planta de produção de biodiesel (a partir de sebo de animal) que também está fechada.
Sobre o fechamento de outras unidades em Mato Grosso, o Sintracal afirma ter conhecimento das plantas: de Cuiabá (500 demissões), de São José dos Quatro Marcos (600 demissões) e de Vila Rica (mais 650 demissões).
Ainda segundo José Navarro, em Brasnorte a empresa adquiriu uma planta frigorífica nova, nunca operada, e não cumpriu um TAC para sua abertura, mantendo-a fechada.
Para o parlamentar, este monopólio inviabilizou a criação de gado de corte em muitas regiões. “Mato Grosso deve muito aos produtores rurais, neste caso temos que ajudar os pecuaristas. Em Alta Floresta, a JBS inviabilizou a recria e engorda de boi pelos pecuaristas, que não conseguem mais competir, pois esse grupo criou o monopólio e dita o valor da arroba do boi a ser vendida. Isso é inadmissível, quero saber que mágica é essa de se dar o luxo de pagar milhões em plantas frigoríficas, depois fechar as portas e deixar todos os equipamentos enferrujando. Hoje em dia, o produtor é obrigado a vender seu gado a preço de banana. Se com a CPI eles não se sentirem confortáveis, será um favor para nós que eles se retirem do estado”.
Nininho explicou também que não descarta estender as investigações para os outros grandes grupos de frigoríficos que possam estar envolvidos em negócios ilícitos em Mato Grosso. O deputado deverá coletar 16 assinaturas parlamentares para viabilizar a quinta CPI da Assembleia Legislativa.