A Polícia Federal indiciou 23 suspeitos de desviar recursos de um projeto de internet gratuita em João Pessoa. Entre eles, o vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouveia e o publicitário Duda Mendonça. Os investigadores dizem que o desvio foi de R$ 1,6 milhão e que foi usado para financiar campanhas eleitorais.
Segundo o inquérito, o esquema foi montado pelo vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouveia (PSD). Em 2009, quando era deputado federal, Rômulo apresentou uma emenda propondo a criação de um projeto, chamado Jampa Digital, que deveria levar internet de graça para João Pessoa.
O valor do serviço: R$ 39 milhões. Segundo a Polícia Federal, a empresa Ideia Digital, que acabou ganhando a concorrência, desviou parte do dinheiro.
A polícia afirma que a Idéia Digital tentou montar o mesmo esquema em Mato Grosso.
A empresa é suspeita de ter pagado R$ 235 mil como despesas de campanha do deputado federal Valtenir Pereira (PSB). Há três anos o deputado apresentou uma emenda para projetos de inclusão digital no estado.
Agora a polícia vai encaminhar o inquérito ao Ministério Público Federal com a recomendação de que seja apurada a eventual participação no esquema do deputado Valtenir Pereira e também do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, e do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro.
Ribeiro era secretário de Ciência e Tecnologia da prefeitura de João Pessoa na época em que o Jampa Digital foi lançado. Todos eles têm direito a foro privilegiado.
“A gente conseguiu configurar um verdadeiro conluio, no sentido de já direcionar a licitação para a Ideia Digital. R$ 1,6 milhão ficou configurado, através de perícia da PF, que resultou em prejuízo”, afirmou Fábio Da Silva Araújo, chefe da Controladoria Geral da União – PB.
A polícia diz que duas empresas – a Brickell e a Rigusta – receberam R$ 1,1 milhão da Ideia Digital e que o dinheiro foi usado na campanha do atual governador do estado da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e do vice, Rômulo Gouveia.
A campanha foi feita pelo publicitário Duda Mendonça, que, segundo a polícia, recebeu os repasses das duas empresas. Em São Paulo, os produtores do Jornal Nacional estiveram nos endereços onde deveriam funcionar a Brickell e a Rigusta e descobriram que elas não existem.
Marcelo Diniz, superintendente da PF, disse que o publicitário tinha esse envolvimento, por isso ele foi indiciado por lavagem de dinheiro.
Neste sábado (20), em Paris, o advogado do publicitário criticou o indiciamento e negou irregularidades.
“É algo inacreditável. O Duda fez um trabalho simples, cobrou, emitiu nota, recebeu o montante que era devido, não fez nenhuma irregularidade. Por que indiciá-lo sem sequer ouvi-lo? Sendo que ele acabou de ser absolvido pelo Supremo Tribunal Federal pelo mesmo crime. É muito, muito estranho”, afirmou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro.
Em nota, a assessoria do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, afirma que a licitação que resultou na contratação da Ideia Digital foi conduzida pela Secretaria de Administração de João Pessoa, e que ele não licitou, contratou ou pagou essa empresa na época.
O governo da Paraíba informou que as empresas investigadas não foram doadoras da campanha, que as contas das últimas eleições foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. E que desconhece que o inquérito tenha citado o governador Ricardo Coutinho.
A assessoria do governo também disse que o vice-governador Rômulo Gouveia já prestou todos os esclarecimentos sobre o caso e que ele não se envolveu em nenhuma fase do projeto.
A Ideia Digital informou que desconhece o teor do relatório da Polícia Federal e o indiciamento dos proprietários da empresa.
O deputado federal Valtenir Pereira afirmou que não tem vínculo com a Ideia Digital, que ele mesmo pagou o material de campanha em 2010 e que as contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.