Ainda sob sigilo por determinação do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), a delação premiada de Pedro Nadaf, ex-secretário chefe da Casa Civil no governo de Silval Barbosa (PMDB), traz detalhes de pelo menos 48 crimes de corrupção cometidos por políticos com e sem mandato ao longo da gestão Silval e Blairo Maggi (PP), hoje senador licenciado exercendo o cargo de ministro da Agricultura. Foram pelo menos 25 depoimentos prestados por Nadaf à procuradora República, Vanessa Cristhina Marconi Zago Ribeiro Scarmagnani, nos quais o ex-homem de confiança de Silval detalhou vários crimes já denunciados pelo ex-governador e até pelo ex-deputado estadual José Riva. Partes dos eventos criminosos citados por Nadaf foram divulgados pelo Midia News em reportagem publicada hoje.
Vários casos de corrupção que Nadaf mencionou em sua delação já foram alvos de investigações e denúncias por parte do Ministério Público Estadual. Dentre os políticos com foro por prerrogativa de função que Nadaf atribui parte dos crimes estão o ministro Blairo Maggi, o senador Cidinho Santos (PR), o deputado federal Carlos Bezerra (PMDB) e outros deputados estaduais. O advogado Paulo Taques, que é ex-chefe da Casa Civil no atual governo de Pedro Taques (PSDB) também foi citado por Pedro Nadaf.
Embora a delação de Nadaf tenha sido homologada em março deste ano pelo ministro Luiz Fux, o documento permanece em sigilo por determinação do próprio Fux. Dentre os motivos da manutenção do sigilo é que diferentes investigações foram abertas em diferentes instâncias para investigar os políticos e autoridades com foro privilegiado.
O ministro acatou parcialmente o pedido da Procuradoria-Geral da República, que na época ainda estava sob o comando de Rodrigo Janot, e autorizou o compartilhamento das provas com o Ministério Público Estadual para investigar alguns dos denunciados pela prática de improbidade administrativa. Em relação a Blairo e Carlos Bezerra, Fux não permitiu que as informações fossem compartilhadas já que as investigações estão bem no início e ambos possuem prerrogativa de serem investigados somente com aval do Supremo.
Vários crimes apontados por Nadaf já são de conhecimento público. Alguns deles, inclusive, já motivaram operações deflagradas pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) e pela Polícia Civil. Um exemplo disso é a denúncia contra cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) acusados de terem exigido propina de R$ 53 milhões de Silval Barbosa para autorizarem a continuidade de obras da Copa de 2014, do MT Integrado e aprovarem suas contas de 2014.
Nadaf já havia detalhado o envolvimento dos conselheiros Antônio Joaquim (presidente do TCE), Valter Albano, José Carlos Novelli, Waldir Teis e Sérgio Ricardo. Depois, Silval Barbosa também os delatou de modo que o ministro Luiz Fux determinou o afastamento dos 5 conselheiros dos cargos e expediu mandados de busca e apreensão a serem cumpridos no Tribunal de Contas do Estado durante a 12ª fase da Operação Ararath, batizada pela PF como Operação Malebolge. Ao todo, foram 64 mandados judiciais cumpridos no TCE, na Assembleia Legislativa, Prefeitura de Cuiabá, Prefeitura de Juara e empresas de investigados.
Outro esquema delatado por Nadaf, mas que já é de conhecimento público por ter sido revelado por Silval em sua delação homologada em agosto, foi a desapropriação do terreno do bairro Jardim Renascer, em Cuiabá, no valor de R$ 33 milhões pagos pelo Estado à uma incorporadora. Silval já tinha dito que o esquema rendeu R$ 16 milhões e que o montante foi repassado ao conselheiro José Carlos Novelli.
Pedro Nadaf disse que no esquema houve a participação do deputado federal Carlos Bezerra. Também relatou que parte dos valores foram pagos por intermédio de uma empresa atua no ramo de gestão documental e mapeamento de processos. Ela mantinha contrato com o governo do Estado no valor de R$ 10 milhões.
Ao relatar esquemas de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Pedro Nadaf ainda citou os deputados estaduais Mauro Savi (PSB), Romoaldo Júnior (PMDB), Gilmar Fabris (PSD), José Domingos Fraga (PSD) e a ex-deputada Luciane Bezerra (PSB), hoje prefeita de Juara.
Sobre a citação de Paulo Taques (atualmente preso por envolvimento no esquema da grampolândia pantaneira), o então procurador geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que na narrativa de Pedro Nadaf “encontram-se indícios da prática do crime de corrupção passiva em relação ao Chefe da Casa Civil do, Paulo Zamar Taques”. A suspeita que recai sobre ele é corrupção passiva, por supostamente ter recebido propina paga por uma empresa que atuava no governo de Silval Barbosa e teve o contrato mantido na atual gestão.