No discurso de despedida do Senado, João Alberto Capiberibe (PSB-AP) atribuiu a perda do mandato a uma perseguição política e não a uma decisão judicial. Para ele, o processo no Tribunal Superior Eleitoral foi “atropelado” por interesses políticos. O TSE determinou o cancelamento do registro de sua candidatura e da sua diplomação no cargo de senador, em 2002, por denúncias de compra de votos. Capiberibe recorreu ao Supremo Tribunal Federal, mas no dia 22 de setembro os ministros mantiveram a decisão do TSE.
“Isso não é ação judicial, mas ato de perseguição política sistemática. Eu só gostaria que estivesse presente aqui o responsável por esse ato de perseguição política, que é o senador José Sarney (PMDB-AP). Somos adversários políticos e os adversários não mandam flores”, acusou João Alberto Capiberibe, que ainda prometeu recorrer ao STF. “Vou voltar para o meu povo, para a militância, organização de bairro, e serei candidato ao Senado no ano que vem. Aí, espero que nunca mais insistam em cassar meu mandato”, acrescentou.
A decisão do TSE retirou também o registro da mulher dele, a deputada federal Janete Capiberibe (PSB-AP). No entanto, a Câmara dos Deputados ainda não declarou a perda do mandato dela e enviou à Corregedoria, para análise, a decisão do STF. Durante a sessão em que Capiberibe teve a perda de mandato anunciada, diversos parlamentares pediram tratamento semelhante ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Cerca de 30 senadores e solicitaram que Renan Calheiros desse o direito de defesa a Capiberibe, encaminhando a decisão do STF para análise da Comissão de Constituição e Justiça. Alguns parlamentares chegaram a acusar o presidente do Senado de parcialidade, por ele ter defendido a posse do segundo candidato ao cargo, Gilvam Borges, do PMDB.
Ao rebater a acusação, Renan Calheiros disse que estava triste e constrangido por ter de cumprir a decisão do Supremo. “Infelizmente, estou aqui com o meu coração sangrando com esse caso. Não me compete decidir, apenas cumprir a decisão. Se pudesse decidir, eu decidiria de acordo com o que a Casa quer. Não há constrangimento maior do que o que me toma agora”, afirmou Renan, que chegou a discutir com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e com o seu colega de partido, Pedro Simon (RS). O senador gaúcho prometeu recorrer da decisão na CCJ.
Quando a perda do mandato de Capiberibe foi anunciada, alguns senadores chegaram a chorar. Ex-governador do Amapá por dois mandatos, ele já foi prefeito da capital, Macapá. Iniciou sua militância política no movimento estudantil e chegou a atuar como guerrilheiro pela Aliança Libertadora Nacional, de Carlos Marighella. Exilado, Capiberibe viveu no Chile, Canadá e África.