O vereador e ex-presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, João Emanuel (PSD), passou a primeira noite na cadeia, no anexo Polinter, onde está o ex-deputado Pedro Henry, condenado no mensalão. O Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) gravou vários diálogos dele com demais acusados. Amarildo dos Santos, 45, assessor parlamentar está preso. Marcelo de Almeida Ribeiro, 37 anos, e André Luis Guerra Santos, 33, continuam foragidos.
As interceptações telefônicas, feitas com autorização judicial, trazem detalhes da variedade de negociações em que Emanuel e os outros 7 envolvidos participavam. Vão desde fraudes com veículos, conhecidas como ‘golpe do Finan’, até a negociação de terrenos inexistentes, passando pela tentativa de invadir áreas que pertenciam a outras pessoas. Nas palavras da juíza Selma Rozane Santos Arruda, que mandou prendê-los, as provas colhidas pelos promotores mostram ‘que estes acusados reiteram na prática de delitos com uma frequência espantosa’.
As prisões fazem parte de um desdobramento da operação ‘Aprendiz’, deflagrada em novembro do ano passado. A investigação comprovou que mesmo após a deflagração da operação, o vereador, apontado como chefe de uma organização criminosa, continuava na prática de diversos crimes. É o que apontam
Conforme o Gaeco, mesmo tendo sido afastado liminarmente da presidência da câmara, mas por ainda deter o mandato, Emanuel utilizou de todas as formas possíveis para atrapalhar a coleta da prova, bem como uniformizar os depoimentos que seriam colhidos na investigação. Até mesmo a notícia da existência de um vídeo que o inocentava foi veiculada em alguns meios de comunicação. Os promotores alegam que o material não altera em nada os fatos criminosos narrados na denúncia e foi apresentado à Justiça pelo próprio Gaeco.
Também são réus na ação, Mário Borges Junqueira, 31, Érica Patrícia Cunha da Silva Rigotti, 33, Pablo Norberto Dutra Caires, 23, e Evandro Vianna Stábile, 23. Eles respondem pelos crimes de organização criminosa, uso de documento público falso, falsidade ideológica, estelionato e corrupção passiva.
Grampos – A reportagem teve acesso a diversos diálogos travados pelos acusados que mostram o planejamento de algumas ações criminosas. Dois dias antes da deflagração da operação Aprendiz, João Emanuel foi flagrado conversando com Ribeiro. No telefonema, o parlamentar pede o recibo de um carro no valor de aproximadamente R$ 150 mil. ‘Arrumei um caboclo que topa fazer uma ‘operaçãozinha’ para a gente, de (R$)150 (mil)’, afirma Emanuel na ligação. Ribeiro, também conhecido como ‘Frango’, responde que sabe como conseguir e de fato consegue, após contato com Santos.
Em outras duas ligações, uma delas atendidas pelo próprio vereador, um homem não identificado destaca que não está encontrando um terreno comercializado por Emanuel. Já no outro telefonema, outra pessoa não identificada, conversando com Junqueira, afirma que pessoas ligadas ao ex-presidente da Câmara estavam medindo uma área que pertence a ele. ‘Fala com ele para não mexer lá, o terreno é meu, está escriturado. Você é amigo dele, então fala com ele’. Os 2 diálogos foram monitorados nos dias 10 e 12 de dezembro do ano passado, depois que todos eles tiveram conhecimento das investigações do Gaeco. Um outro telefone mostra Amarildo, do telefone do vereador, se passando por engenheiro para conseguir o número da matrícula de uma área na região do Parque Cuiabá.
Conforme Só Notícias já informou, João Emanuel foi preso logo no início da manhã. Acompanhado de policiais, foi encaminhado para o Departamento de Capturas. De punho cerrado e levantado, disse apenas uma palavra ‘Força’ aos jornalistas presentes. Já no interior da unidade, que funciona junto com o anexo I da Penitenciária Central do Estado (PCE), onde ficou recolhido, separou os remédios que toma, trocou a calça, camisa e paletó por uma bermuda e camiseta, e ficou em uma cela de 6 metros quadrados, que será dividida com o ex-deputado federal Pedro Henry , condenado a 7 anos e 2 meses pelo processo do Mensalão. Almoçou arroz, feijão, salada e peixe e recebeu a visita da mãe e de alguns amigos. Uma pessoa que esteve com Emanuel afirmou que ele estava muito abatido, tomando remédios para tentar se controlar. ‘Prisão não é fácil e parece que ele sentiu isso’, afirmou.
Terreno- A operação Aprendiz foi deflagrada após a divulgação de um vídeo, gravado em outubro do ano passado, que mostra Emanuel participando da negociação fraudulenta de um terreno. Na trama, todos os denunciados estavam envolvidos, segundo os promotores. Foram vítimas do golpe a mãe de Pablo, que teve a assinatura fraudada por Érica, e responsável pela gravação e Caio César Vieira de Freitas, que recebeu duas escrituras fraudadas como garantia de um empréstimo. Érica, aliás, também teve ligações interceptadas. Ao contrário do que afirmou, ela não se parece como uma pessoa interditada judicialmente. Em conversa com Santos, seu ex-marido, fala em passeios ao shopping center e idas à academia. No mesmo vídeo, o ex-presidente da Câmara aparece oferecendo, à empresária, vantagens com a simulação de uma licitação. A investigação sobre fraudes em licitações na Câmara prossegue no MPE.
Outro lado
Advogado do vereador, Eduardo Mahon. afirmou que já protocolou pedido de habeas corpus para Emanuel. O jurista também pretende ingressar com representação contra a magistrada, uma vez que, segundo ele, a decisão foi proferida com ‘envolvimento e parcialidade’. Mahon classificou a prisão preventiva como absolutamente arbitrária e abusiva. ‘Ela já condenou e quando um juiz quer condenar nem Jesus como advogado resolve’.
Um vídeo que o Gaeco aponta esquema de corrupção onde Emanuel negocia fraude em licitiação