O arquiteto José da Costa Marques foi o primeiro a prestar depoimento, esta tarde, à juíza Selma Rosane Santos Arruda na segunda ação penal decorrente da Operação Sodoma. Ele foi questionado pela promotora Ana Cristina Bardusco sobre a operação envolvendo o imóvel adquirido pelo ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio, ao custo de R$ 13 milhões. Ele começou falando que foi procurado por Zílio para elaborar um projeto de um imóvel. Ele então tratou de ajudar a encontrar o imóvel. Detalhou que os vendedores não sabiam quem era o comprador, isso seria uma prática de mercado.
Ele confirmou que intermediou o negócio, recebeu os pagamentos feitos por Zílio e repassou aos vendedores. Garantiu que não teve qualquer lucro, pois fazia um procedimento normal porque depois ele elaboraria o projeto arquitetônico. No contrato de compra e venda, ele emprestou o nome para constar como o "comprador". Posteriormente, ele faria outro contrato com César Zílio para "vender" o imóvel ao ex-secretário titular da antiga Secretaria de Estado de Administração (SAD). "Ao final dos pagamentos o verdadeiro comprador iria escriturar a área no momento certo".
A transação envolvendo o terreno de R$ 13 milhões teve três contratos. O delator disse que a compra do terreno ocorreu em 2012 e depois foi feito um contrato em nome de Antelmo Zílio (que já havia falecido), que era pai de César Zílio. O arquiteto esclarece que foram firmados três contratos envolvendo a compra e venda do terreno que antes pertenciam ao filho e ao sobrinho de Blairo Maggi. Ele explica que o segundo contrato foi feito com um valor diferente, inclusive, para abatimento de impostos. Esse segundo contrato, segundo ele, foi elaborado a próprio punho. Depois deu o documento para ser assinado. Informa que nunca teve contato com o pai de César Zílio. "O César que fez esse contato, eu entreguei para ele, pois já tinha os dados do primeiro contrato".
O terceiro contrato, segundo o delator, elaborado por Zílio, consta que o pai do então secretário não teria aporte financeiro para fazer a compra do imóvel. Neste momento, Zílio colocou no contrato o empresário Willians Paulo Mischur, dono da empresa Consignum, que pagava propina ao grupo de Silval Barbosa. O contrato foi feito em 2015. "A data do contrato está constando julho de 2012, mas não confirmo essa data. Isso ocorreu no final de 2015".
Zílio pediu ao arquiteto para destruir contrato. "Ele (César Zílio) pediu para eu destruir o contrato com o nome do pai dele e todos os documentos. Eu não destruí, não achei certo isso. Eu disse para ele que destruiria esse contrato, mas não destruí", revela o delator. O contrato em questão é o documento que constava o nome do falecido pai de Zílio como comprador do imóvel. Até o pagamento final do contrato, Zílio manteve o discurso de que o dinheiro usado para pagar o terreno era proveniente de venda de gado. O ex-secretário nunca contou a verdade, nunca disse que era dinheiro de propina, garante o arquiteto-delator.
O arquiteto revela que chegou a receber de Zílio um total R$ 3 milhões em espécie como uma das parcelas de pagamento do imóvel que ele intermediou a compra. "Ele foi sozinho ao meu escritório. O dinheiro, os R$ 3 milhões, estava em uma caixa. Eu não tinha motivo nenhum pra suspeitar do César, eu construí a casa dele. Era bom pai de família, apresentava boa relação com a esposa, com os filhos, não suspeitei que fosse qualquer dinheiro ilícito, pois era venda de gado. Já estava acordado que os valores eram provenientes de venda de gado". Depois disso, ele explica que o dinheiro foi dividido entre os vendedores.
Marques revelou que como parte do pagamento de Zílio, ele receberia 15% em lojas, pois futuramente no local seria construída uma galeria comercial. Informou que não tem contrato porque tinha uma relação tranquila com César Zílio e naquele momento eles estavam em uma fase de “prospecção de negócios”. Ele prestou três depoimentos para a Polícia Civil para explicar sobre suas suspeitas de irregularidades envolvendo a transação comercial, a qual foi o intermediador.
"Hoje tenho consciência que foi um negócio totalmente irregular. Até porque tem noticias divulgadas dando detalhes de tudo isso". O delator confirma que o valor pago pelo imóvel foi de R$ 13 milhões. "Quero reforçar que sou arquiteto e trabalho no mercado há 30 anos. Sou uma pessoa boa, não tem nada que pese contra minha pessoa. Mas achei que estava fazendo um negócio legal. Para mim era tudo normal e, por eu confiar, no César Zílio, tinha uma relação com ele, conhecia sua família. Jamais eu poderia imaginar que estava entrando em um negócio dessa natureza", defende-se o depoente.
Ulisses Rabaneda e Valber Melo, advogados do ex-governador Silval Barbosa, querem saber detalhes sobre o acordo de delação premiada assinado por ele em abril de 2015 depois que já havia relatado toda sua versão dos fatos, entregado documentos e tinha afirmado na imprensa que não havia cometido qualquer crime e por isso não faria acordo de delação.
Costa Marques argumenta que o advogado está fazendo perguntas técnicas que ele não sabe distinguir, juridicamente falando. “Assinei porque depois que o César fez o depoimento dele, aconteceram fatos jurídicos que não sei explicar e deu início a isso que você está falando. Mudou minha figura dentro desse processo, mas o fato em si eu não saberia explicar”.
Ele explicou que foi chamado após a acareação realizada entre ele e César Zílio. “Depois desse depoimento eu assinei esse contrato (de delação premiada), se você olhar a data da assinatura e da acareação vai ver que foram na mesma época”. Explicou que a proposta de delação surgiu dentro do MPE porque Zílio começou a entrar em contradição e negar coisas que já tinha dito. “Meu advogado achou que seria melhor porque o César começou a por em xeque tudo o que eu tinha falado”.
Ele nega ter acesso ao depoimento prestado por César Zílio no acordo de delação premiada.