O ex-policial federal Gedimar Passos confirmou nesta terça-feira, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Sanguessugas, que se reuniu três vezes entre agosto e setembro com os empresários Luiz Antônio e Darci Vedoin para tratar de documentos de “interesse da campanha nacional do PT”. Os Vedoin são acusados de chefiar o esquema de compra superfaturada de ambulâncias investigado pela CPMI.
Gedimar, preso pela Polícia Federal durante a operação de compra de um dossiê contra políticos do PSDB, afirmou que estava hospedado no hotel Ibis de São Paulo – onde ocorreu a prisão – para analisar os documentos apresentados pelos Vedoin, e não para comprá-los.
Apesar disso, ele admitiu o recebimento de R$ 1,7 milhão de um emissário do seu “coordenador” na Executiva Nacional do PT, Jorge Lorenzetti, e reconheceu também a participação nas negociações com os Vedoin para obter o dossiê. Questionado pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPMI, sobre quem teria enviado o dinheiro, Gedimar se mostrou ameaçado: “Eu já estou com a corda no pescoço e não posso agora puxar a corda”, declarou.
O ex-policial disse que os encontros com os Vedoin ocorreram em Brasília e em Cuiabá e tiveram a participação de Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil; e do empresário Valdebran Padilha, apontado como o intermediário dos Vedoin para a compra dos documentos. Valdebran foi detido com Gedimar em 15 setembro.
De acordo com Gabeira, o esquema foi “uma operação de inteligência” que deveria ter sido abortada quando desse errado. Assim, concluiu, a culpa recairia sobre quem fosse preso.
Maus tratos
Gedimar Passos relatou que, durante sua prisão em Cuiabá, ficou 13 horas “em uma cela de castigo, com água até a canela”. Os integrantes da CPMI pediram detalhes para avaliar os supostos maus tratos.
Na prisão, Gedimar teria conversado com policiais federais sobre como foi feita a investigação contra ele. Um dos policiais teria dito que foi usada uma escuta telefônica. “Eu respondi que fizeram uma besteira, porque grampearam a campanha do Lula”, comentou.
Conteúdo das malas
Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista, também depôs nesta terça na CPMI. Apontado como o suposto emissário que entregou malas com dinheiro para Gedimar e Valdebran, Hamilton apresentou uma versão considerada como pouco convincente por integrantes da CPMI.
Ele foi flagrado pelo sistema de TV do hotel levando duas malas para Gedimar, em dois dias diferentes. A Polícia Federal e integrantes da CPMI desconfiam que nessas malas estaria o dinheiro usado para a compra do dossiê. Lacerda disse ter levado roupas, material de campanha e um computador portátil que seriam entregues a Gedimar. Nada disso, porém, foi encontrado pela Polícia Federal em uma busca no quarto do hotel.
Contradição
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), também sub-relator da CPMI, apontou uma suposta contradição de Hamilton. O parlamentar disse que uma perícia encomendada por ele ao perito Ricardo Molina, da Universidade de Campinas (Unicamp), apontou que a mala carregada por Hamilton comportaria aproximadamente 40 mil panfletos de campanha. No entanto, o depoente disse que na mala haveria apenas 5 mil panfletos.
Ambos os depoentes estavam com os seus advogados e segundo o presidente da CPMI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), “eles foram orientados a não se incriminarem”.
Agenda
A CPMI se reúne nesta quarta para ouvir em audiência pública os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo; e da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage. Serão discutidos procedimentos para evitar fraudes no uso de recursos públicos.