Pisaram no calo do governador Blairo Maggi. Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), recolocando Mato Grosso como o “campeão dos desmatamentos” no Brasil, voltaram a sofrer duros ataques por parte do chefe do Executivo – que enfrenta o problema duas vezes, como governador e como maior plantador individual de soja do mundo. “Mato Grosso quer a revisão dos números. Estão errados” – insistiu Maggi, após quatro horas de reunião com funcionários da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, no Palácio Paiaguás. “Nos crucificaram: na primeira oportunidade que tiveram nos colocaram na cruz e pregaram”.
“Quando cai o índice de desmatamento, méritos para o Governo Federal. Quando aumenta, a culpa é do boi e da soja” – disse Maggi, mostrando-se especialmente indignado com essa faceta no campo político. Segundo o governador, mais de 80% dos dados apresentados pelo INPE estão errados. “Eu não gosto de nada errado. Por isso, quero a reparação” – comentou. Em entrevista no final de semana, o governador chegou a dizer que o instituto estaria mal intencionado e “a serviço de alguém” com aqueles números.
Em 113 pontos de áreas desmatadas indicados pelo Deter no período de abril a setembro de 2007 em Mato Grosso e aferidos em campo em operação conjunta da Sema e do Ibama, no mês de novembro, 80,53% revelaram-se ser de áreas abertas antigas que não sofreram corte raso no período apontado pelo Deter. A falta de precisão para aferição de áreas no sistema Deter, reconhecidas pelo MMA e também pelo Inpe, foi comprovada pelos técnicos nos municípios de Marcelândia, Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte, São Félix do Araguaia, Juara, Brasnorte, entre outros, onde pastos antigos, regiões de assentamento e manejo de terras já destinadas à agricultura, estavam sendo computadas como desmatamentos atuais.
A metodologia Deter, que utiliza imagens do sensor Modis, dos satélites norte-americanos Terra e Acqua e pela qual foram obtidos os dados divulgados, se caracteriza pela maior freqüência de cobertura (de três a cinco dias), mas apresenta resolução mais baixa, de 250 metros – enquanto imagens do satélite Landsat têm resolução de 30 metros – e, portanto, não pode ser adotada como referência confiável para aferir área desmatada.
Essa situação, no entanto, não exclui a falta de estrutura adequada do órgão ambiental em Mato Grosso. A Secretaria de Meio Ambiente dispõe apenas de 30 fiscais florestais. Ou seja, número muito aquém das necessidades, especialmente para um Estado de vocação econômica primária baseada na exploração das florestas para fins de abertura de pastos. Para esse problema, no entanto, o governador considera que o problema estaria ligado a educação. “Se todos cumprissem o que está na lei, não precisaria de fiscalização” –a centuou, ao rebuscar um aspecto filosófico mais utópico.