Depois de o PDT repudiar as declarações do deputado federal Nelson Barbuso (PSL) dizendo que o bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia falecido no começo de agosto, Dom Pedro Casaldáliga, “desencarnou no inferno”, foi a vez da Assembleia Legislativa de Mato Grosso se manifestar contrária ao parlamentar federal. O deputado estadual Eugênio Paiva (foto), morador de Água Boa e representante do Vale do Araguaia, apresentou moção de repúdio, que já tem 23 assinaturas de apoio entre os 24 deputados mas ainda não foi votada.
Eugênio classificou a fala de Barbudo como “covarde”, “desagradável”, “deselegante” e “uma verdadeira agressão a povo do Vale do Araguaia”. Lembrou a trajetória do bispo, que ficou mundialmente conhecido pela defesa dos direitos humanos, pela luta contra latifundiários e grileiros de terras e em defesa da reforma agrária. O parlamentar defendeu que, independente do posicionamento ideológico, a memória do religioso precisa ser respeitada.
“Não podemos admitir a forma agressiva com a qual o deputado se referiu a Dom Pedro Casaldáliga. O Vale do Araguaia está indignado. O Vale do Araguaia, independente de posição ideológica, seja de esquerda ou de direita, está se sentindo extremamente agredidos”, declarou ao apresentar a Moção.
A propositura foi apresentada, segundo Eugênio, para que Barbudo “passe a respeitar a cultura e o povo do Vale do Araguaia. Não podemos admitir que se transgrida tanto a memória de um homem como ele agrediu a memória de Dom Pedro Casaldáliga. A igreja católica está se sentindo agredida por este deputado que se diz, inclusive, representar o Vale do Araguaia”.
A indignação de Eugênio foi acompanhada pelo colega de parlamento, sargento Elizeu Nascimento, do partido Democrata Cristão (DC). “Católico de berço”, como se define, o militar disse que o bispo foi “discriminado” por críticas “infelizes” sem ao menos ter o direito de responder.
“É lamentável a declaração do deputado federal Nelson Barbudo, desrespeitosa, a um homem religioso que foi Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, religioso que era conhecido mundialmente por lutar pelos menos favorecidos e pelas causas indígenas e de sem terras. Nem Deus e nem a Bíblia pregam a ninguém alimentar o ódio ou rogarmos ao próximo que vá para o inferno ou para o colo do demônio. Nós, seres humanos, independente de direita ou esquerda, não estamos a cima de Deus e temos que ter nossos corações voltados ao perdão ao próximo e orarmos sempre pela alma de todos”, declarou.
Conforme Só Notícias informou, em entrevista a um site Barbudo disse que “o bispo desencarnou no inferno há poucos dias. Ele desencarnou e o capeta que o tenha em um bom lugar, pois lugar de comunista, para mim, é no inferno. Eu não estou contra os índios, eu só não respeito comunista. Para fazer trabalho social em razão dos pobres não precisa tomar terra de outro”.
Antes da Assembleia, o PDT repudiou e condenou a “atitude insana, antidemocrática e de delírio” de Barbudo “que envergonha, não só os mato-grossenses de nascimento e de coração, mas, também todo o Congresso Nacional brasileiro”.
