Em cinco anos, os roubos de veículos em Mato Grosso aumentaram 73%. Nesse período, mais de 11,8 mil carros e motos foram roubados no Estado. O total compreende uma média de 6,5 veículos roubados por dia. O dado é referente ao Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que mostra que em 2013, ano considerado mais violento, 3,2 mil ocorrências foram registradas no Estado, o que dá uma média de nove crimes por dia. Em 2009, foram 1.898 ocorrências.
Dentre os crimes ocorridos entre o período de 2009 a 2013 está o caso do empresário André Luiz Ormond, 27, que teve o automóvel roubado em 2011. Ele conta que o fato foi registrado no bairro Despraiado, em Cuiabá, por volta das 11h30. Ao chegar na casa da ex-namorada, estacionou o carro em frente ao portão e desceu para conversar com o cunhado. “Estava na sala da casa. A porta estava aberta e dali conseguia ver o veículo. Enquanto conversava, um homem vestindo uma roupa azul, parecendo ser algum uniforme de empresa, se aproximou do portão e anunciou o assalto. Em seguida pediu a chave do veículo”.
Após entregar a chave, o homem saiu com o carro. André registrou boletim de ocorrência e também acionou a seguradora. Ele explica que a empresa tinha prazo de 30 dias para o ressarcir. “Faltando poucos dias para completar um mês do roubo, a Polícia localizou meu carro próximo à Estrada da Guia, em Várzea Grande. O veículo contava apenas com motor e a lataria. O restante das peças foi levado e a empresa de seguro me ressarciu o prejuízo”.
De acordo com o empresário, após assalto os cuidados foram redobrados. Ele conta que as travas e os vidros do atual automóvel estão sempre fechados, além do seguro estar em dia. “A cidade (Cuiabá) está bastante perigosa. Hoje em dia, os crimes acontecem de qualquer forma, estando o criminoso de moto, a pé ou de carro”.
Estatística da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos Automotores (Derfva) aponta que entre janeiro a outubro de 2014, 2.798 veículos (carros e motos) foram roubados em Cuiabá e Várzea Grande. O número é 36,6% maior que os casos registrados no ano passado, quando 2.042 veículos foram roubados. Dentre os bairros que mais concentram este tipo de crime em Cuiabá estão a região do Morada da Serra, Centro, Boa Esperança, Porto e Bosque da Saúde. Já em Várzea Grande, as localidades são o Centro, Jardim Paula, Jardim Glória, Cristo Rei e Costa Verde.
De acordo com o titular da Derfva, Antônio Carlos Garcia de Matos, os roubos de veículos na Capital e em Várzea Grande ocorrem de diversas maneiras. Dentre os casos mais frequentes estão aqueles registrados em residências. “O assaltante, ao roubar a casa, acaba subtraindo o veículo para levar os objetos do roubo. Porém, há situações também que o foco do crime é apenas o carro ou moto, mas mesmo assim o indivíduo invade a residência”.
Segundo o delegado, parte das motos e automóveis roubados é levada para a Bolívia e também outros estados, como Acre, Rondônia, Pará e Mato Grosso do Sul. Nestes locais, os criminosos modificam a placa do veículo e também a documentação, que são roubadas das Circunscrições Regionais de Trânsito (Ciretran).
“Feito isso, os veículos são vendidos a preços abaixo do mercado. Outro caso é o roubo de carros e motocicletas para desmanche. Destes veículos são retiradas peças de reposição que podem ser vendidas em mecânicas”.
Cuidados – Garcia informa que para evitar este tipo de crime é preciso que a pessoa tome determinados cuidados. Segundo ele, algumas ações dos próprios donos acabam facilitando a ação dos criminosos. Exemplo disso é guardar a chave reserva no porta-luvas do carro. “Isso acontece muito com proprietários de veículos novos. Antes de deixar a concessionária, a pessoa recebe o manual do veículo e também a chave reserva. Em muitos casos, a pessoa acaba guardando os itens no porta-luvas e não os retira posteriormente. Os criminosos, ao perceberem a presença da chave no local, acabam levando o veículo com muito mais facilidade”.
Outro orientação é em relação aos locais de estacionamento. Segundo ele, nem mesmo os espaços movimentados são empecilho para os criminosos. “Devido ao corre-corre do dia, as pessoas em volta não percebem que um veículo ou motocicleta está sendo furtado ou roubado. O uso da chave micha facilita este tipo de ação. O criminoso se aproxima do veículo e como sabe usar o item, consegue destravar o carro sem que as pessoas percebam”.
De acordo com o delegado, sempre estar atento é outro ponto positivo. Segundo ele, ao se aproximar de casa é importante que a pessoa olhe o entorno. Se perceber algo diferente, é importante acionar o serviço de segurança. Ele ainda afirma que se mesmo assim o roubo acontecer é imprescindível o registro do boletim de ocorrência. “Em determinados casos, as pessoas não comunicam a Polícia e acabam sendo vítimas de extorsão. Na maioria das vezes, ao roubar o veículo, o criminoso também leva o celular da vítima e com isso consegue fazer as cobranças para devolver o bem. Sem saber como proceder, a pessoa aceita ser extorquida. Além de ser ilegal este tipo de ação, nem sempre a vítima consegue o retorno do veículo”.
Além da comunicação às autoridades policiais, muitas vítimas também utilizam as redes sociais na tentativa de localizar o veículo. No Facebook, por exemplo, há grupos públicos em que os usuários compartilham os casos nacionalmente. Outro maneira de “socorro” é a publicação das características do carro ou motocicleta em sites nacionais. Dentre eles está o “Roubados Br”, em que as pessoas incluem os anúncios sobre os casos de roubos de carros, motos, caminhões, ônibus e vans, e até mesmo barcos e jet ski.
Outro lado – Titular da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp), Alexandre Bustamante afirma que além do Estado estar próximo a Bolívia, há outros motivos que levam ao aumento no número de roubo de carros. Segundo ele, o fornecimento de peças ao mercado clandestino e o tráfico de drogas também são situações que influenciam os criminosos e demais quadrilhas. Mesmo com o problema, o gestor declara que Mato Grosso tem conseguido eficiência na recuperação de veículos roubados e furtados. Além disso, ele também reforça que as instituições policiais têm combatido e desarticulados as quadrilhas especializadas neste tipo de crime.