A Polícia Federal realiza, neste momento, a operação “Terra Prometida” nos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Sorriso, Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Ipiranga do Norte, Tapurah e Campo Verde. Estão sendo cumpridos 52 mandados de prisão preventiva, 146 mandados de busca e apreensão e 29 de medidas proibitivas. Há investigados também no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Alguns fazendeiros estariam entre os alvos da PF, mas não foram divulgados nomes. Em Cuiabá, foi preso um servidor do Incra, Genoino Soriano, um dos 52 suspeitos com prisão decretada. Ele já está na Superintendência da Polícia Federal, em Cuiabá, acompanhado de seu advogado, José Toledo Piva. “Não tenho conhecimento do inquérito, precisamos saber o que há de indícios contra ele para podermos nos posicionar”, afirmou para a Gazeta Digital.
O vice-prefeito em Itanhangá, Rui Schenkel, foi preso. Em Lucas do Rio Verde, alguns mandados já foram cumpridos. Marino Franz, que foi prefeito por dois mandatos, foi conduzido por federais, assim como o ex-diretor do Luverdense, Edu Pascoski. Policiais estiveram na casa de Odacir Geller, irmão ministro da Agricultura, Neri Geller, e fizeram apreensões. Não foi informado se houve mandado de prisão para ele. A justiça federal teria expedido ordem de prisão para o ex-prefeito de Tapurah, Milton Geller, que também é irmão de Neri. Houve buscas em sua residência, em Nova Mutum.
A superintendência da PF em Cuiabá informou, ao Só Notícias, informou que são duas bases para onde os presos serão levados: na capital e em Sinop. Ainda não foi feito balanço parcial de quantas pessoas foram presas.
Alguns presos estão sendo transferidos, inicialmente para Sinop, e depois serão recambiados para Cuiabá juntamente com os demais. Em Sinop teriam sido cumpridos alguns mandados de busca e apreensão, informou uma fonte de Só Notícias.
"Atualmente, estima-se que 80 fazendeiros estão reconcentrando ilegalmente cerca de mil lotes da União, sendo que o maior latifundiário reconcentra 55 lotes, e o menor 5 lotes, podendo a fraude alcançar o montante de R$ 1 bilhão, em valores atualizados", informa a PF.
De acordo com a assessoria, o inquérito policial foi instaurado em 2010 após denúncias veiculadas pela imprensa a respeito de irregularidades na concessão e manutenção de lotes destinados à reforma agrária. Dentre os alvos, estão oito servidores públicos.
No transcorrer da investigação descobriu-se uma "verdadeira organização criminosa com forte atuação na região de Lucas do Rio Verde e Itanhangá, estruturada para cometer crimes de invasão de terras da União, contra o meio ambiente, falsidade documental, estelionato, corrupção ativa e passiva, cujas penas podem chegar a até 12 anos de reclusão".
Com o objetivo de se obter a reconcentração fundiária de terras da União destinadas à reforma agrária, fazendeiros, empresários e grupos do agronegócio fazem uso de sua influência e poder econômico para aliciar, coagir e ameaçar parceleiros ambicionando seus lotes de 100 hectares, cada um avaliado em cerca de R$ 1 milhão.
Com ações ardilosas, uso da força física e até de armas, compravam a baixo preço ou invadiam e esbulhavam a posse destas áreas. Em seguida, com o auxílio de servidores corrompidos do INCRA, integrantes de entidades de classe, servidores de câmaras e de prefeituras buscavam regularizar a situação do lote.
Para a manutenção do comércio ilegal e reconcentração de terras da reforma agrária, no decorrer dos últimos dez anos a organização criminosa fez uso de documentos falsos, ações de vistoria simuladas, termos de desistência fraudados e dados inverídicos incluídos no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (SIPRA/Incra), propiciando que grandes latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.
O esquema era operado, em síntese, através de pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá e ao serviço social da Prefeitura de Itanhangá, que elaboravam listas com nomes de “laranjas” que, em nome de empresários/fazendeiros, falsificavam “cartas de desistência” e Declaração de Aptidão ao Incra. Ato contínuo, servidores do INCRA realizavam “vistoria fictícia" para comprovar a posse dos “laranjas", que após cadastrados no SIPRA, eram homologados e imitidos na posse. Entretanto, quando o documento do INCRA era emitido, o fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas reconcentradas.
As condutas criminosas se mostraram muito lucrativas, tanto para os intermediários que atuavam nas negociatas, quanto para os grupos do agronegócio que reconcentram as parcelas, usurpando áreas de topografia plana, o que as torna muito produtiva e valorizada após a mecanização.
Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal de Diamantino. Para a deflagração da operação foram empregados cerca de 350 policiais federais. O nome “Terra Prometida” remete à promessa de terras feita por Deus ao povo escolhido.
Em instantes, mais detalhes
(Foto- Só Notícias – atualizada às 11:42hs)