A Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso desarticulou uma quadrilha que comandava um esquema milionário cometido por meio de fraudes em cartões de crédito. A quadrilha formada por pelo menos 20 integrantes é acusada de utilizar 1.079 cartões de crédito solicitados através de uma rede de supermercados de Cuiabá e Várzea Grande, causando prejuízo financeiro a cerca de 1,1 mil vítimas que tiveram seus dados utilizados indevidamente.
As investigações iniciadas há dois meses são da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), que deflagrou, ontem pela manhã, a operação "Sete Erros", culminando na condução de 20 pessoas à Gerência. Do número de conduzidos, oito foram autuados em flagrante por envolvimento diretamente no esquema. Três dos presos são funcionárias de uma loja da rede de supermercados, de Cuiabá. Até o momento, o inquérito policial, contabiliza 14 pessoas indiciadas por crimes de formação de quadrilha ou bando, falsidade ideológica e estelionato.
Para o delegado adjunto da GCCO, Gianmarco Paccola Capoani, que preside as investigações o esquema era bem articulado. Segundo ele, um ex-comerciante, com acesso ao sistema Serasa, "fabricava" cadastros com nomes de centenas de vítimas. Os dados eram encaminhados para sete funcionários de um dos principais supermercados de Cuiabá. Com as informações, os funcionários, ilegalmente, faziam as solicitações dos cartões de crédito junto à instituição financeira, com matriz em São Paulo, que eram aprovados e encaminhados para destinatários envolvidos no esquema. A Polícia Civil identificou sete funcionários da rede de supermercados envolvidos na fraude.
"Ele captou clientes bons, que são as vítimas e a partir disso chegou à primeira funcionária e, que em seguida cooptou mais seis. A partir daí inseriram cartões de créditos que foram destinados aos sete primeiros endereços. Depois "estouravam" os cartões ou com troca de dinheiro vivo na praça e com envolvimento também de alguns comerciantes ou faziam compras ilegais", detalhou Paccola.
Em mais três meses, os estelionatários deixaram um prejuízo de mais de R$ 1 milhão em compras a créditos, efetuadas em vários estabelecimentos comerciais da Grande Cuiabá. Para a Polícia Civil, o prejuízo pode ser maior, pois pode haver cartões que ainda não foram utilizados ou não tiveram as faturas processadas.
Na operação, os policiais apreenderam aproximadamente 400 cartões de crédito, documentos, 3 notebooks, 4 TVs de última geração avaliadas em R$ 19 mil, celulares e outros eletrônicos comprados com os cartões, além de uma motocicleta. Em um dos pontos da busca policial, a equipe flagrou um casal de estelionatário tentando queimar os documentos, cartões e faturas para fugir do flagrante.
Do montante de cartões apreendidos, 178 ainda estavam bloqueados, que foi evitado um prejuízo estimado de R$ 600 mil, que poderiam ser gastos.
Conforme levantamentos, as vítimas são pessoas que desconheciam a fraude e tiveram seus dados cadastrais utilizados para emissão de cartões, enviados a sete endereços direcionados pela quadrilha. "A quadrilha possuía ligações com estabelecimentos comerciais, que possuía máquinas de cartões de crédito e as utilizavam para "estourar" os cartões na troca por dinheiro vivo", reforça o delegado Gianmarco Paccola.
O pedido de investigação partiu de uma instituição bancária, emissora dos cartões, que cruzando informações desconfiou da fraude, devido à quantidade de cartões solicitados e enviados para sete endereços residenciais em Cuiabá e Várzea Grande. As faturas eram enviadas aos endereços, mas não havia pagamento pelas compras efetuadas.
O departamento de segurança corporativa do banco, no Estado de São Paulo informou que ao descobrir a fraude acionou a Polícia Civil de Mato Grosso. Segundo o banco, as faturas não chegavam para os verdadeiros clientes e quando o banco entrava em contato descobria que o cliente não tinha conhecimento da emissão do cartão. Muitas, segundo a instituição, são pessoas humildes, com baixo poder aquisitivo e pouca instrução, que tiveram os dados usados pela quadrilha.
Os cartões que a quadrilha conseguiu aprovar tinham limites entre R$ 500, 1000 e até 6.250. De acordo com o banco, o limite do cartão é aprovado de acordo com a renda da pessoa, mas a quadrilha descobriu um meio de fraudar o sistema e aumentar o limite do cartão.
Em um único endereço residencial, em Cuiabá, o banco identificou a entrega de 345 cartões em nome de diferentes pessoas e prejuízo causado de R$ 159 mil. Em outro endereço, chegaram 205 cartões com gastos estimados de R$ 110 mil. Um escritório de contabilidade da capital recebeu 133 cartões e prejuízo de R$ 53 mil.
Entre as centenas de dados cadastrais utilizados, tinha pessoas que realmente chegaram a preencher propostas de cartão junto ao supermercado e tiveram o pedido rejeitado. Depois seus dados foram indevidamente utilizados pela quadrilha para emissão do cartão, com apenas mudança do endereço para entrega.
Participaram da operação 30 policiais civis, entre investigadores, delegado e escrivães.
Os presos foram encaminhados na manhã deste sábado ao Sistema Prisional. As mulheres ao presídio feminino Ana Maria do Coutro May e os homens ao Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC).