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Membros do Comando Vermelho respondem a nove ações penais em Mato Grosso

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Cento e setenta e um  membros da facção criminosa Comando Vermelho (CV) de Mato Grosso foram denunciados nos últimos 4 anos, em nove ações penais resultantes de operações policiais de combate ao crime organizado em Mato Grosso. Neste período, apenas um dos processos chegou à fase de sentença na Justiça e 6 acusados foram condenados por integrarem a facção. Os números são do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE). Se na primeira operação, a “Grená”, desencadeada em maio de 2014, estimava-se que cerca de 420 criminosos integravam a facção, hoje as forças de segurança não conseguem mais dimensionar quantos membros fazem parte desta facção.

Somente na operação “Ares Vermelho”, desencadeada em setembro deste ano pela Polícia Civil, 53 criminosos foram denunciados como membros do CV, por atuarem em roubos de veículos na Grande Cuiabá.

Sem qualquer vínculo ou subordinação a facções de outros estados, o CV-MT segue sob a regência de pelo menos 4 criminosos que formam a cúpula, o Conselho Final, órgão máximo da organização criminosa. Eles são apontados como os responsáveis pela implantação do CV no Estado, a partir das unidades prisionais, no ano de 2013. Mas, pessoas de confiança destes líderes ocupam várias funções, entre elas as que controlam a parte financeira e o batismo de novos membros.

Segundo o delegado Diogo Santana de Souza, que hoje está à frente da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) da Polícia Civil, a principal finalidade da facção, sem dúvida, é o aspecto financeiro, de obter lucro com ações criminosas. Este é um dos motivos pelo qual a arregimentação de novos “soldados” não para.

Hoje a facção atua em diversas frentes e modalidades criminosas, onde houver possibilidade de se obter dinheiro. Além do tráfico de entorpecentes, estão os roubos de veículos, trocados por drogas ou munições em países como Bolívia e Paraguai, os roubos a bancos, a empresas, cargas, latrocínios, homicídios, lavagem de dinheiro, estelionatos, principalmente nos golpes aplicados por telefone. Aí se destacam um dos mais praticados, contra familiares de pacientes em hospitais, não só de Mato Grosso mas de outros estados.

Outro campo de atuação verificado tem sido das milícias, onde a facção oferece “segurança armada” a comerciantes, em substituição às forças policiais.

O delegado não vê mudanças estruturais do CV por ocasião de sua criação, em 2013 e hoje. Na opinião de Diogo Santana, as ações são as mesmas com a diferença que com o apoio de tecnologias, principalmente das redes sociais e aplicativos de celular, hoje a facção difunde com mais rapidez suas ações. As ordens dos líderes, ao serem cumpridas, são praticamente transmitidas “on line”.

Em agosto deste ano, um ex-taxista, de 34 anos, foi degolado por homens encapuzados que se diziam membros da facção, os “vermelhos”. A execução, que ocorreu na região do Barreiro Branco, em Cuiabá, foi filmada e compartilhada via aplicativo. E os assassinos deixavam claro que cumpriam ordens de um líder.

As imagens, inclusive, são usadas pela facção como forma de intimidação contra “membros rebeldes” e até perante a sociedade em geral, que se sente ameaçada e coagida.

Os “salves”, que são os vídeos onde membros do CV espancam aqueles que desafiaram a autoridade dos líderes ou dos que infringiram as regras da facção, também correm as redes sociais. “Estas ações sempre fizeram parte da organização, mas a diferença é que agora são registradas e propagadas, ganhando uma dimensão ainda maior”, aponta o delegado.

O promotor Rodrigo de Araújo Braga de Arruda, atua com outros 5 membros do MPE no Gaeco, diz que o Estado tem combatido a facção, prova disso são as denúncias formalizadas contra os criminosos, a partir das ações penais. A primeira ação penal foi oferecida pelo Gaeco no dia 2 de junho de 2014, a partir da operação “Grená”, em sua primeira fase, que tinha como alvos os principais líderes da organização. A partir dela foi possível observar o “modus operandi” do grupo e desenvolver estratégias no sentido de identificar seus integrantes e combater as investidas criminosas da organização e prevenir novos crimes, destaca o promotor.

A última denúncia foi no dia 27 de setembro, tendo como alvo um único membro. Neste caso, o jovem de 22 anos usava as redes sociais para fazer apologia ao crime e divulgar as ações da facção.

Um dos aspectos observado durante as investigações tem sido o controle em relação à parte financeira, inclusive por meio de “contribuição” dos membros “batizados” que ficam incumbidos de contribuir financeiramente com o grupo. O dinheiro é encaminhado para os responsáveis por gerenciar a parte orçamentária e financeira da organização.

Nas audiências de custódia, segundo o promotor, é realizada uma triagem prévia dos criminosos autuados em flagrante antes de serem encaminhados para as unidades prisionais. Uma das preocupações, justamente, é de se evitar que autores de crimes com menor potencial ofensivo, que não possuem antecedentes criminais, ingressem nas unidades prisionais e acabem arregimentados pela facção, aumentando o número de “soldados”.

As denúncias apontam para uma capitalização da facção, que cresce e se expande, apesar do combate do Estado. Por isso, o promotor Rodrigo Arruda diz que só a ação de instituições como a Polícia, Ministério Público e Justiça não conseguirão sozinhas estancar o crime organizado no País. Em sua opinião é necessária uma mudança estrutural, de toda sociedade, passando pela educação. 

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