Está preso o pistoleiro Noreci Ferreira Gomes, 51, o “Capitão do Mato”, que trabalhava para o chefe do crime organizado em Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro. A polícia capturou Noreci após 2 denúncias anônimas de que ele estaria envolvido no sequestro do empresário Antônio Pascoal Bortoloto, 64, dono da Todimo, em 1º de abril.
Noreci estava foragido desde 2004, quando teve a prisão decretada pela juíza Maria Aparecida Fago sob acusação de ter participado da chacina de 4 pessoas na Fazenda São João, localizada na BR-070, de propriedade do “Comendador”. Ele responde na Justiça por vários homicídios e um sequestro.
Uma armadilha foi montada por policiais da Gerência de Repressão a Sequestro e Investigações Especiais da Polícia Civil de Mato Grosso para prender Noreci, que estava atuando em Cuiabá como corretor de imóveis. Ao tomarem conhecimento do fato, policiais disfarçados demonstraram interesse em uma chácara que estava sendo comercializada pelo pistoleiro. O encontro foi marcado para a manhã de ontem, no posto de gasolina Bom Clima, às margens da Rodovia Emanuel Pinheiro (Cuiabá/Chapada dos Guimarães). Ao chegar de mototáxi, Noreci recebeu voz de prisão.
Noreci seria ouvido ontem à tarde pelo delegado Luciano Inácio da Silva, responsável pela gerência. O delegado procura pistas do sequestro do empresário, que foi libertado no dia 17 de abril após pagamento de resgate de R$ 250 mil.
As investigações continuam, mas até hoje a polícia não prendeu os sequestradores ou localizou o cativeiro, que supostamente fica em Várzea Grande, onde o empresário foi libertado. Por ser ex-policial militar, Noreci seria levado ontem mesmo ao Presídio de Santo Antônio do Leverger.
Na extensa ficha criminal de Noreci estão os homicídios de Itamar Barcelona, José Ferreira Almeida, Arili Manoel Oliveira e Pedro Francisco Silva. A denúncia feita pelo Ministério Público aponta que os 4 foram torturados e mortos por pistoleiros de Arcanjo, em março de 2004, enquanto pescavam no tanque de piscicultura da fazenda. Na época, o “Comendador” estava preso no Uruguai, mas mantinha o seu braço armado em Mato Grosso. Mais 7 pessoas foram indiciadas pelo crime.
Segundo a polícia, Noreci assistiu ao assassinato dos amigos, que depois de espancados tiveram as mãos amarradas e foram jogados ainda vivos dentro de uma das lagoas da Fazenda São João. Após a constatação da morte, os corpos foram retirados da lagoa, colocados em uma Saveiro e jogados cerca de 6 quilômetros na estrada que dá acesso a Nossa Senhora do Livramento.
Os cadáveres de Pedro, José e Itamar foram encontrados na manhã seguinte ao assassinato. O despachante Arili somente foi localizado 2 dias depois do crime. Foram indiciados pelos assassinatos Joilson James Queiroz (gerente da fazenda e mandante do crime), Noreci Ferreira Gomes, Édio Gomes Júnior, Alderi Souza Ferreira, o “Tocanguira”, Aderval José dos Santos, o “Paraíba”, Carlos César André, o “Pezão”, Valdinei (que atirou em Itamar) e Evandro.
Noreci também responde pela execução de Renato Batista Curi, o “Vaqueiro”, em 30 de novembro de 2003. O crime ocorreu dentro da Fazenda São João e foi presenciado por uma testemunha, que contou detalhes à polícia. No relato, a testemunha conta que a vítima, na época com 21 anos, trabalhava com inseminação artificial de gado e morava na fazenda.
Após o jantar, houve um desentendimento entre Vaqueiro e um dos seguranças. Noreci não gostou e foi tirar satisfação com o Vaqueiro. A vítima virou as costas e começou a sair da sala, mas quando estava próximo da porta levou um tiro na nuca, disparado por Noreci. Com a ajuda dos outros capangas, ele enrolou o corpo em uma rede e levou na Saveiro para a BR-163. Os seguranças usaram pneus para queimar o cadáver, localizado 3 dias depois.
Conforme o delegado Luciano Inácio da Silva, Noreci responde por outro homicídio no município de Paranatinga (373 km ao sul da capital).
Noreci foi preso pelo sequestro e tortura de Carlos José Rodrigues, gerente de madeireira, em 2 de abril de 2002. Rodrigues foi libertado no dia seguinte, muito machucado, e relatou que foi vítima de choques elétricos e espancamento.
A vítima foi capturada às 18h, na avenida Dante Martins de Oliveira (antiga avenida dos Trabalhadores), bairro Carumbé, e levada para uma residência, em uma Parati branca. Em seguida foi transferida para uma chácara, onde foi torturada. Foi colocada em liberdade no dia seguinte, às 14h, perto da Coca-Cola, na avenida Mário Andreazza, em Várzea Grande.
Rodrigues foi sequestrado por Noreci e Elídio de Oliveira Nazário a mando de Pedro Paulo de Oliveira. Pedro alegava ser o credor de uma dívida de R$ 72 mil com o dono da Tijucal Madeiras, Dilmar Cleto Sezotzki, um estelionatário, segundo a polícia, que pegou esse montante e outros empréstimos e fugiu.
Como Dilmar tinha muitas dívidas, transferiu o nome da empresa para o gerente Carlos José Rodrigues e o vigia, Raimundo Nonato da Conceição. Desesperado ao perceber que Dilmar havia fugido, Pedro Paulo encomendou o sequestro do gerente para tentar reaver a dívida, que segundo ele era de uma factoring para quem ele havia entregue a propriedade de um terreno, como garantia de pagamento.
Noreci e o cúmplice Pedro Paulo, que dirigia o veículo utilizado no sequestro, foram presos em 18 de abril. O terceiro envolvido, Elídio de Oliveira Nazário, que segundo o delegado Luciano Inácio tem também uma extensa ficha criminal e era cobrador de Arcanjo, fugiu. Meses depois foi encontrado morto em uma chácara, de causa não determinada. A polícia suspeita de envenenamento.
Na época, Elídio tinha 2 mandados de prisão contra ele, um pela morte de Hasttcliff Jacinto Ferreira, em 6 de agosto de 2001, ocorrida durante uma cobrança abusiva.
A polícia desconfia mas não tem provas de que a factoring pertencia a João Arcanjo Ribeiro, fato que Pedro Paulo nunca confirmou. Conforme o delegado Luciano Inácio, o poder de Arcanjo no Estado era tão grande e ele era tão temido que muitas pessoas vítimas de sequestro, em cobranças abusivas, negavam que haviam tomado empréstimo nas factorings do “Comendador”.
Outra suspeita da polícia, que ainda não foi provada pelas investigações, é que a execução do sobrinho do vigia Raimundo Nonato, Francisco das Chagas Barros, em 12 de abril, 10 dias após o sequestro do gerente e antes da prisão dos acusados, tenha sido motivada pela dívida com a factoring.