Homicídios, latrocínios e roubos tiveram crescimento de 37,3% em Cuiabá e Várzea Grande este ano. De janeiro a julho, os crimes somaram mais de sete mil registros nas duas cidades. No mesmo período do ano passado, o número chegou a 5.280. Entre os crimes com índice acima da média, estão o roubo de automóveis com alta de 66,3% e homicídios com 39,7%. Segundo dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp/MT), o único crime que teve redução foram os furtos, com queda de 17% na modalidade furto de veículos e 9% de furtos em geral. Situação de vulnerabilidade, baixa escolaridade, envolvimento com drogas e falha na legislação são apontados como algumas das causas para o contínuo aumento da criminalidade.
De acordo com a Seção de Estatística Criminal da Polícia Civil de Mato Grosso, foram registrados até julho deste ano 534 roubos de automóveis em Cuiabá e 424 em Várzea Grande. O número representa mais da metade de 2013, quando somadas as duas cidades, o total de roubos foi de 576, quase a mesma quantidade registrada este ano só na Capital. Nos primeiros sete meses de 2014, o aumento na taxa de roubos em geral foi semelhante tanto em Cuiabá quanto em Várzea Grande, com uma média aproximada de 35%.
Já em relação ao percentual de homicídios, Várzea Grande apresenta um crescimento acima da capital. De 2013 para 2014, a
taxa desse tipo de crime na cidade subiu 52,4%. Em Cuiabá, o aumento foi de 29,2% no mesmo período. Ao todo, foram registrados 253 homicídios na região, índice 39,7% maior ao ano passado. Outro crime envolvendo mortes é o latrocínio, que apresentou crescimento de 18,1%.
Para o sociólogo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Naldson Ramos, em sua maioria, os crimes relacionados a mortes têm como fatores o meio social dos autores e suas vítimas. Autoritarismo, rixas, vinganças e disputa por territórios são alguns desses elementos. O sociólogo destaca ainda a presença majoritária de jovens neste tipo de crime, tanto como os responsáveis pelas mortes, como sendo vítimas.
“Crimes como roubo, furto e latrocínio têm um caráter mais comercial. Geralmente, estão ligados a uma necessidade de quem pratica. Seja por sua condição social ou até para alimentar vícios. Nos casos de homicídio, em que os jovens são destaque, a motivação é diferente. Muitas vezes eles entendem que para ocuparem um espaço ou permanecerem em determinada localidade, o uso da força é necessário”.
Titular da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), o delegado Silas Caldeira diz que o crime de homicídio é o mais difícil de se evitar, pois não há critérios para a prevenção. “Não tem como precisar como e quando uma pessoa será morta. Depende de cada um dos autores. O que sabemos é que pelo menos 95% das pessoas assassinadas em Cuiabá e Várzea Grande tinham envolvimento com o crime”.
Segundo o presidente da Associação de Famílias Vítimas de Violência, Heitor Reis, os números oficiais do Estado não podem ser levados totalmente em consideração. Para ele, nem todos os crimes são relatados pelas vítimas, seja por medo, ameaça ou a sensação de que nada vai adiantar. Por conta disso, Reis acredita que o crescimento seja muito maior que o registrado. Entre
os problemas para a aumento da criminalidade, ele aponta o baixo efetivo da segurança pública, além da demora de processos no Poder Judiciário. “Pequenos crimes não são punidos no Brasil. Hoje em dia, uma pessoa pode aguardar até 10 anos para ser julgada pela morte de outra”.
De acordo com Naldson Ramos, a ideia de que aumentar a penalidade contribui com a redução de crimes é errada. Segundo ele, o atual sistema prisional do Estado não realiza o trabalho de ressocialização e reinserção dos detentos à sociedade. “Nossos presídios são depósitos de seres humanos, em que a maioria de seus direitos não é respeitada. Prova disso é que a maioria sai de lá pior do que quando entrou, inclusive, retornando aos crimes”.
Heitor Reis tem a mesma opinião e classifica as unidades prisionais como “faculdades do crime”. “Quando você mistura alguém que foi preso porque roubou uma carteira com outro que matou uma pessoa, você não recupera ninguém. Os presídios não estão recuperando
os detentos, elevando a taxa de reincidência”.
Secretário-adjunto da Segurança Pública de Mato Grosso, coronel Osmar Lino Farias ressalta que nos meses de junho e julho houve uma redução nos índices de criminalidade na região, embora os dados registrados pela Polícia Civil também mostrem crescimento nestes dois meses. Ele aponta a implantação do Gabinete de Gestão Integrada (GGI) como elemento fundamental para este cenário. Farias explica que em relação aos homicídios os trabalhos de prevenção são quase impossíveis de serem feitos. Isto porque é alta a taxa de envolvimento em outros crimes nos casos de assassinatos.
“O homicídio é formado pelo ‘triângulo do crime’, onde há a vítima, o autor e o ambiente favorável. O crime é evitado quando há, por
exemplo, a presença de um policial. Porém, no caso de alguém ligado à criminalidade, esta presença deixa de ser favorável, uma vez que ele não quer o agente ali para protegê-lo. Dizemos que quem matar alguém, vai encontrar alguma forma de fazer isso. Por isso, é tão difícil reduzir este tipo de criminalidade”.
De acordo com o secretário-adjunto, quanto ao efetivo do setor, o Estado aguarda a convocação de 2,1 mil novos agentes da segurança pública, entre Polícias Civil, Militar e Corpo de Bombeiros para aumento do quadro.