Os empresários de Mato Grosso presos na operação Cupim, segunda-feira, deixaram a prisão ontem à noite. Durante a semana eles foram ouvidos pelo promotor Marcelo Moraes, do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (GAECO), em Campo Grande. A prisão temporária (cinco dias) não foi prorrogada porque os investigados colaboraram com a Justiça, denunciando a participação de servidores estaduais (MS) detalhando como funcionava o esquema de desmatamento, corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, sendo beneficiado pela delação premiada.
Júlio Alberto Pereira Pinto, 31 anos, residente em Sinop, empresário no setor de transportes, apontado pelo Ministério Público como líder do esquema de sonegação fiscal para o transporte de produtos que passavam no Mato Grosso do Sul, detalhou, em depoimento, as irregularidades e foi liberado, juntamente com a esposa. Cláudio Aparecido Pereira Pinto, (de Sinop) Hélio Della Vedova de Araújo e Cláudio Goliczeski, ambos de Marcelândia, também acabaram liberados. Ao todo, foram cumpridos 14 mandados de prisão de envolvidos no esquema de sonegação fiscal no transporte e retirada de madeira. Uma 15ª pessoa foi presa também mas em situação de flagrante, por porte ilegal de arma. A ação também mobilizou agentes para cumprimento de 22 mandados de busca e apreensão de documentos.
Continuaram presos em Campo Grande Cival Pereira dos Santos, Maurício Fernandes Bueno Filho, Nilton José Baraúna, Maurício de Souza Lima, Jorge Barbieri Figueiredo, Jair Aparecido Dias, Aridalton José de Sousa, Eva Santos Gonçalves, Demilson de Santi, Francisco José de Souza e Hélio Alexandre Pires de Araújo, por porte ilegal de arma.
A operação que mobilizou a Polícia Rodoviária Federal (PRF) cumpriu ordens de prisão em Sonora, Campo Grande, Aquidauana. Foram apreendidos R$ 21,3 mil, 80 euros e dólares e ainda 12 armas.
Entenda o caso
Segundo as investigações do MP, as empresas de Júlio, ambas com sede no endereço residencial em Sinop, transportavam a madeira oriunda de Mato Grosso tendo como destinos os Estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná. O MP aponta que ele pagava a alguns agentes tributários estaduais para fazerem vistas grossas com relação a seus caminhões quando trafegassem pela fiscalização. O nome do empresário teria sido evidenciado após a prisão do funcionário terceirizado do Posto de Jupiá, de Três Lagoas, Sebastião de Oliveira Filho, que negociava a liberação da passagem de cargas no local.
Outra situação verificada foi a duplicação de notas fiscais que eram usadas de modo indevido por mais de um veículo e por diversas vezes. Em algumas apreensões de veículos com irregularidades fiscais, a Polícia Rodoviária Federal também constatou outro tipo de crime. Muitas vezes na nota fiscal estava discriminada um tipo de madeira com valor considerado baixo, sendo que na verdade o veículo estava transportando uma carga de maior valor e também com o peso em excesso.
Além de notas fiscais serem duplicadas por intermédio de fotocópias, posteriormente eram “tatuadas”, ou seja, eram carimbadas com carimbos falsos da Receita Estadual. Essas “Tatuagens” eram realizadas por Cival Pereira dos Santos, residente em Sonora (MS) e ex-funcionário de uma empresa que prestava serviços contratados pelo Posto Fiscal Tributário daquele município, e que contava com a cumplicidade de Francisco José de Souza. Na ausência de Cival, Francisco deslocava-se ao encontro dos caminhoneiros para proceder as “tatuagens”. Além dos carimbos falsos em notas fiscais, Cival fazia a intermediação entre Júlio e agentes tributários que aceitavam participar do esquema, como também informava quando estavam de plantão os fiscais que não se deixavam corromper. Além disso, Cival utilizava a conta bancária de sua amásia, Eva Santos Gonçalves, para efetuar pagamentos de propina a funcionários corruptos.
Os fiscais sul-mato-grossenses são acusados de deixarem as “carretas” de Júlio passarem sem abordagem, o que consistia em não serem fiscalizadas, tampouco emitidas guias de trânsito da mercadoria transportada, causando prejuízos aos cofres públicos.
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