As investigações sobre o esquema de interceptações telefônicas clandetinas contra centenas de pessoas entre políticos, médicos, empresários, jornalistas e até um desembargador terão que ser repassadas para outro delegado porque o até então responsável, no âmbito da Polícia Civil, delegado Flávio Henrique Stringuetta, deixou o caso. As escutas eram operadas por um núcleo da Polícia Militar de Mato Grosso e o caso foi denunciado em rede nacional de televisão.
Em uma rede social ele atesta que seu afastamento não tem nada a ver com qualquer intimidação ou pressão vinda de qualquer lado e nem por causa da troca de acusações entre autoridades e até advogados de alguns dos investigados por causa de vazamentos de documentos sigilosos.
Stringueta justifica que um problema de saúde o obrigou a se afastar das investigações conduzidas por ele através da Gerência de Combate ao Crime Organizado, considerada uma espécie de tropa de elite da Polícia Civil.
“Estou deixando as investigações por absoluta falta de condições físicas. Estou com uma doença auto-imune, incurável e crônica, que, para o seu controle, necessita de um ambiente tranquilo, sem picos de estresse. Chama-se doença de chron. Ela provoca sangramentos intestinais e, consequentemente, anemia. Como se pode ver no documento anexo, a anemia já está bastante forte”, justificou.
Além da investigação da PJC, existem ainda inquéritos instaurados internamente pela Polícia Militar para investigar a participação de militares no esquema, principalmente depois que 6 policiais foram presos no final de junho deste ano por ordem do desembargador Orlando de Almeida Perri.
Também existem investigações instauradas para apurar membros do Ministério Público Estadual (MPE) e uma notícia-crime protocolada pela Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso no Tribunal de Justiça do Estado cobrando uma investigação séria e transparente, inclusive sobre a atuação de promotores de Justiça que emitiram pareceres em ações em que houve interceptação telefônica com aval de algum magistrado.
O próprio relator do caso no Tribunal de Justiça, desembargador Orlando Perri, relatou que ter recebido ameaças para que deixasse de investigar ou autorizar a continuidade das investigações.
Por sua vez, o delegado Flávio Stringueta garante que esse não foi o caso dele, pois afirma em sua publicação na tarde desta sexta-feira que não sofreu qualquer tiopo de intimidação. “Não estou saindo porque recebi algum tipo de intimidação ou revés nas investigações, mas por falta de condições físicas de atender bem ao que me foi atribuído. E a sociedade necessita de alguém em melhores condições para trazer à tona as verdades desses fatos”, disse ele.
Na publicação, o delegado fez questão de anexar um atestado médico de 30 dias assinado por um gastroenterologista. Postou ainda o resultado de um exame laboratorial.