O tráfico avança a passos largos e a falta de escrúpulos dos traficantes já alcança as novas gerações. Na periferia de Cuiabá, crianças com menos de 5 anos já são usadas para transportar papelotes de entorpecentes e servem como "mulas" de irmãos, primos ou vizinhos adolescentes ou adultos que tentam ludibriar a Polícia e fugir ao flagrante de posse de drogas. A imagem dos pequeninos circulando entre os maiores, em torno de praças, bares ou feiras já desperta a atenção das autoridades. Isto porque em seus bolsos está a droga que é comercializada pelo adulto a poucos metros. Os papelotes são entregues pela criança ao comprador, sem levantar suspeitas.
O aliciamento dos traficantes não vem com intimidação. Pelo contrário, as crianças são conquistadas e aos olhos delas são apenas "amigos", oferecendo uma oportunidade de ganhar um dinheiro para comprar presentes para a mãe ou mesmo algum bem material. Segundo dados da Polícia Militar, em 2007 a cada 200 prisões de traficantes, 50 eram menores (25%). Em 2011 já correspondem a 60% do total, ou seja, 120 a cada grupo de presos são adolescentes que atuam no tráfico. São jovens com idades entre 14 e 16 anos que já comandam as bocas de fumo. Com isso, trazem outros mais jovens para atuar como soldados, na venda da droga ou mesmo para servirem como "olheiros", denunciando a presença da Polícia.
Para quem não concorda com a situação, sobra medo e impotên cia, já que o poder e a violência dos traficantes intimida a comunidade. O fato de saberem que os inimigos e delatores são eliminados contribui para silenciar quem discorda da ati tude. É o caso da moradora R.D. 43 anos, que há mais de 20 mora em um dos bairros da região Norte da Capital, onde hoje se concentram bocas de fumo. Ela alega que na rua em que mora são 3 traficantes estabelecidos, inclusive suas casas se destacam das mais humildes. Por terem uma situação financeira melhor que a maioria, acabam atraindo a simpatia de adolescentes. Os jovens que já atuavam como "aviõezinhos" do tráfico, aos poucos estão trazendo os membros mais jovens das famílias. Por já levantarem suspeitas e serem alvos das abordagens policiais, deixam as drogas com os pequeninos.
A moradora acredita que na maioria dos casos os pais não sus- peitam que as crianças são explora- das pelos mais velhos, mas admite que em muitos casos a falta de diálogo e interesse em acompanhar a rotina dos pequenos expostos diariamente nas ruas contribui para agravar a situação. O problema é que o mero transportador de droga hoje é o viciado de amanhã e um possível criminoso, que poderá morrer ou matar pela droga.
O dinheiro fácil proporcionado pelo tráfico ainda é o mais forte atrativo para aliciar cada vez mais jovens e crianças, admite o coronel PM Jadir Metello da Costa, respon- sável pelo policiamento em Cuiabá (Comando Regional 1). Ele observa que nos últimos 4 anos além de crescer a participação dos adolescentes no crime, o começo é cada vez mais precoce. No início, os jovens de 15 a 17 atuavam sobre o comando dos maiores de 18 anos. Hoje, com esta idade, muitos já comandam suas próprias "bocas de fumo" e já têm um exército de adolescentes mais jovens e crianças atuando para eles como olheiros ou mesmo na função de pequenos distribuidores de drogas. Na opinião do comandante, a família é a primeira responsável pela educação e por nortear os princípios do indivíduo. Mas, hoje, o que se vê é a omissão dela, Quer que a escola ou a segurança pública assuma este jovem depois que ele está na delinquência.