segunda-feira, 17/junho/2024
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Cuiabá: policiais mortos em acidente investigavam assaltante

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A Polícia Judiciária Civil concluiu as investigações sobre a morte do vendedor Gilson Silvio Alves, 34 anos, e do desdobramento da ocorrência que resultou no ferimento do investigador de polícia Maxwel José Ferreira, 37 anos, e na morte dos investigadores Edson Marques Leite, 47 anos, e João Osni Guimarães, 62 anos, em acidente de automóvel, no dia 23 de maio de 2011, em Várzea Grande.

Os autos conclusos do inquérito policial, instaurado no dia 24 de maio de 2011, pela Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP), presidido pela delegada Sílvia Maria Pauluzi, foram encaminhados ao Fórum da Comarca de Várzea Grande, ontem à tarde.

O investigador Maxwell José Ferreira foi indiciado por homicídio, uma vez que participou da dinâmica dos fatos, desde a abordagem que culminou na morte de Gilson Sílvio Alves. Porém, nas investigações não há indícios de que Maxwell e Edson Leite mataram intencionalmente a vítima, quando a abordaram na lanchonete, em um posto de combustível, na rodovia dos Imigrantes, km 21, bairro São Simão, em Várzea Grande.

Conforme comprovado no inquérito policial, os policiais objetivavam apenas a prisão dele, ainda que equivocada, pois o teria confundido com o um ladrão de carretas, foragido da Justiça, de nome “João Carlos de Oliveira”, conhecido por “Carlinhos”, que investigavam há mais de uma semana, tendo inclusive buscado informações junto a Gerência Estadual de Polinter e também na Polinter do Estado de Mato Grosso do Sul, acerca de mandado de prisão decretado contra ele.

Em nove meses de investigações, a Polícia Civil esclareceu por meio de 23 oitivas e laudos técnicos periciais e quebras de sigilo telefônico, diversos pontos levantados logo após e nos dias seguintes a morte dos policiais e do cidadão. O primeiro deles, surgido no local de crime, era que o investigador João Osni auxiliado por Edson Leite teria executado Gilson Sílvio da Silva por um ato de vingança, em razão de Gilson ter agredido um menor supostamente parente de João Osni.

Os três menores envolvidos no assalto praticado na casa de Gilson foram localizados e prestaram esclarecimentos na DHPP referente ao possível parentesco que teriam com João Osni e também com Edson Leite, uma vez que circulava comentários no bairro onde moram (o mesmo da vítima), que um deles era “parente de polícia”. Nenhum dos adolescentes confirmou parentesco com os dois investigadores.

Para esclarecer a informação disseminada pelos moradores do bairro, a DHPP apurou que de fato o menor A.J.S., lesionado por Gilson no assalto em sua casa, era filho não reconhecido de um policial militar, conhecido por “Rambo”, e já falecido, não havendo parentesco nenhum com os policiais civis. As oitivas também apuraram que João Osni e Edson Leite não mantinham laço de amizade capaz de se unirem para uma vingança. A quebra de sigilo telefônico também confirmou que no dia dos fatos, principalmente, nas horas antecedentes, não houve nenhuma ligação entre os três policiais envolvidos, João Osni, Edson Leite e Maxwel, o que seria “imprescindível caso estivessem planejando alguma ação naquele local”, destaca relatório da delegada Sílvia Pauluzi.

Também ficou esclarecido que João Osni costumava fazer aquele trajeto, já que residia no bairro Santa Izabel, em Várzea Grande, e frequentemente abastecia no Posto 2006, conforme declararam frentistas do posto nos autos do inquérito.

Inquérito
O inquérito policial da morte de dois policiais civis e ferimento de outro apurou que os investigadores Edson Marques Leite e Maxwell José Ferreira investigavam um suposto ladrão de carretas, conhecido por “Carlinhos”, desde a semana antecedente aos fatos. O fato ficou confirmado nos depoimentos do delegado chefe da Polinter, Miguel Rogério Gualda Sanches, nas anotações de Maxwell que continha o telefone da Polinter de Mato Grosso do Sul e no depoimento do delegado Pedro Frederico Antunes, titular da unidade que os dois policiais trabalhavam.

A investigação também foi confirmada na quebra do sigilo telefônico, que identificou a pessoa que teria passado no dia dos fatos, informação a Edson Leite, do endereço onde “Carlinhos” estaria escondido, dando as coordenadas de como chegar até o local. Conforme o relatório, Edson Leite e Maxwell, seguiram para o local, mas antes passaram em uma locadora de veículo, de um amigo de Edson, deixaram a viatura policial descaracteriza e seguiram em um Fiorino branco, em direção ao bairro Capão Grande.

Quando passavam em frente à suposta residência de “Carlinhos”, observaram que havia alguns veículos na garagem. Um deles era o Gol preto, que teria saindo da garagem e teve a placa anotada pelo investigador Maxwell quando passaram a seguir o carro.

As anotações do veículo foram encontradas depois em uma prancheta no interior do veículo Fiorino, lacrado em local de crime, e aberto diante de testemunhas a DHPP, e comprovaram que se tratava realmente da placa do veículo Gol preto, pertencente a Gilson.

Em depoimento, a esposa de Gilson, Joziane Carlos dos Santos, menciona que teriam ido até a casa de um compadre, não sabendo precisar o bairro, se 13 de Setembro ou 15 de Maio. Ela disse que ele não estava em casa e por isso ficaram em frente à sua casa, dentro do carro, por 2 horas, aguardando a chegada dele. A mulher não aponta maiores detalhes e nem a qualificação do tal compadre para que a Polícia o intimasse. Ela também não esclareceu o motivo de terem ficado tanto tempo no interior do veículo em frente à residência.

Abordagem
Após seguirem o Gol preto, perde-lo de vista por um trecho, os investigadores viram o carro estacionado no pátio do Posto 2006, em Várzea Grande. Os policiais civis Edson Leite e Maxwell iriam abordar Gilson Silvio Alves, que estava sentado à mesa na varanda da lanchonete, acreditando que se tratava de “Carlinhos”, quando Edson Leite viu João Osni chegando ao posto para abastecer e resolveu pedir seu auxílio na abordagem. Testemunhas confirmaram que João Osni foi pelos fundos do estabelecimento, Maxwell pela frente seguido de Edson Leite.

O investigador Maxwell afirmou em depoimentos que não estava com a arma em punho quando se aproximou de Gilson e que a vítima correu para o matagal á sua direita quando o avistou, se aproximando dele, possivelmente acreditando se tratar de uma represália ao fato de ter lesionado um menor suspeito do assalto ocorrido em sua casa furtada.

A esposa de Gilson informou à Polícia Civil que viu três pessoas correndo com arma na mão em direção a Gilson. Isso não ficou comprovado. Em relato das demais testemunhas, pela varanda foram apenas Maxwell que ia a frente, Edson Leite mais atrás e João Osni que teria contornado a lanchonete para que o abordado não corresse naquela direção. “Por outro lado também as testemunhas que estavam na cozinha, localizada nos fundos da lanchonete, disseram que a esposa de Gilson tão logo este correu para o matagal, ela correu em direção à cozinha, através da calçada lateral, e não junto a Gilson, como ela havia relatado”, frisa o relatório.

Laudos
Mesmo com depoimentos divergentes acerca da abordagem, o fato se consumou no matagal, e não houve muitos disparos, pois Gilson Sílvio Alves corria para o matagal e devido à distância entre os policiais e a vítima. Dificilmente ele não seria atingido por um tiro e se tivesse caído poderia ter sido contido pelo investigador Maxwell José Pereira.

O laudo de necropsia não traz nenhum orifício de entrada na região de trás da vítima, Gilson Sílvio Alves. Os orifícios de entrada dos projéteis de arma de fogo no corpo de Gilson ficaram concentrados em sua parte direita. Conforme conclusão do laudo de local de crime, ele foi atingido no mesmo local encontrado pelos peritos, ou seja, ao solo, naquela posição, justificado pelo escorrimento do sangue oriundo dos orifícios de entrada dos projéteis, confirmando relato do investigador Maxwell, que “eles estavam ao solo quando Edson Leite efetuou os disparos”. Dos três projeteis retirados do corpo da vítima, dois deles saíram da arma de Edson Leite e um da pistola de Maxwell.

O relato que os três policiais teriam atirado em Gilson, quando ele já estava no chão, também não foi confirmado no laudo pericial. Porém, o laudo de lesão corporal de Maxwell indica que ele também caiu ao solo, pois apresentava escoriações características pelo corpo, assim como tinha lesão no joelho esquerdo, referente ao disparo de arma de fogo que ele sofreu enquanto estava caído, tentando tomar a arma da mão de Gilson.

O laudo de necropsia no corpo de Edson Leite indicou que os disparos sofridos foram efetuados de baixo para cima. Gilson teria conseguido se soltar das mãos de Maxwell e atirado em Edson Leite, conforme contou o investigador Maxwell, “não havendo outra forma de saber, além do relato do próprio Maxwel, se os disparos que atingiram Edson Leite foram efetuados por Gilson intencionalmente ou se disparado acidentalmente enquanto disputavam a pistola que estava na mão de Gilson”, diz o relatório.

O exame residuográfico das mãos da vítima Gilson Silvio Alves deu resultado negativo para presença de chumbo e nitrito. O exame serve de prova de orientação e não de certeza. Por isso, a delegada Sílvia Pauluzi, solicitou exame complementar para respostas de quesitos específicos, como a possibilidade de uma pessoa efetuar disparos de arma de fogo e mesmo assim apresentar resultado negativo. O laudo do exame concluiu que “existem fatores que podem resultar em um ‘falso negativo”, assim, como existe o ‘falso positivo””, reafirmando que o exame serve como prova de orientação e não de certeza. “Assim uma pessoa pode efetuar disparos com resultado de exame residuográfico negativo, assim, como não efetuar e apresentar resultado positivo”.

Edson Leite foi atingido com dois disparos, um na região esquerda do abdômen e outro entrou pelo terço superior da coxa e saiu na região glútea. Também ficou confirmado que todos os estojos e projeteis recolhidos no local de crime, nenhum deles foi expelido pela arma do investigador João Osni.

O investigador Edson Leite não foi a óbito em virtude dos disparos que o atingiram, mas em decorrência do acidente automobilístico, quando era socorrido no Golf preto do policial civil João Osni, que teve esmagamento de crânio em virtude do impacto, no muro de uma residência, na Avenida Filinto Muller, bairro Jardim Marajoara, Várzea Grande.

O inquérito que apurou o acidente de carro que resultou na morte dos investigadores tramita na Delegacia Distrital do Jardim Glória, em Várzea Grande, que ainda aguarda laudo do local do acidente para enviar o inquérito à Justiça.

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