A corregedoria da Polícia Civil ainda não cumpriu os mandados de prisão contra o delegado João Bosco Ribeiro e sua esposa, a investigadora Gláucia Cristina Moura Alt, expedidos, na sexta-feira (5), pela juíza da Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado, Selma Rosane Santos Arruda. Dessa forma, ambos são considerados foragidos.
O advogado do casal, Paulo Taques, diz que eles devem se apresentar em breve, mas não informa a data, pois sustenta que eles não estão em Cuiabá, uma vez que estão afastados de suas funções na Polícia Civil até a conclusão do caso. Taques informou ainda que ingressará, amanhã, com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça, para tentar liberar seus clientes.
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, equipes da instituição tentaram cumprir os mandados na sexta-feira e fizeram diligências em três locais, onde o casal poderia ser encontrado, o que não aconteceu. Outros quatro policiais civis, também alvos da ordem judicial, se apresentaram espontaneamente no mesmo dia e estão presos na sede do Grupo de Atuação Especial (GOE) da Polícia Civil, no bairro Centro América.
O delegado Bosco e a investigadora Gláucia são acusados, pelo Ministério Público Estadual (MPE), de integrar uma quadrilha que atuava de tráfico de drogas, em Cuiabá e Várzea Grande. O casal é acusado de dar proteção aos membros do bando. Eles foram investigados na Operação Abadom deflagrada no dia 27 de junho pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Polícia Civil.
No total, 15 pessoas foram indiciadas e denunciadas por vários crimes, mas apenas os seis policiais (delegado Bosco e cinco investigadores) respondiam ao processo em liberdade. Contudo, ameaças feitas à delegada do caso, Alana Cardono, levaram o MPE apresentar novo pedido de prisão dos acusados, que foi deferido pela magistrada.
Até então continuavam presos apenas os réus que não ocupam cargos públicos. O que motivou as prisões dessa vez foram supostas ameaças que a delegada Alana Cardoso estaria sofrendo. Na sentença, a juíza Rosane Brandão relata ser gravíssimo o conteúdo da comunicação de um boletim de ocorrência anexado ao processo. Consta no documento que um homem que anda em um Toyota Corolla prata, que tem parentesco com um empregado ou com o proprietário de um supermercado de Chapada dos Guimarães “estaria planejando matar a delegada Alana, uma das autoridades que presidiu o inquérito, como meio de vingança pelas declarações que a mesma teria prestado junto à imprensa, relacionadas ao delegado João Bosco e sua esposa Gláucia”.
“O fato de uma delegada de polícia ter sido ameaçada, ou se sentir em risco, em razão do exercício legítimo de seu dever funcional, é sinal claro da inversão de valores que a criminalidade provoca. Além disso, retrata o destemor das pessoas envolvidas, é claro indício de que tais cidadãos têm certeza da impunidade e acreditam que a prevalência da força e da intimidação lhes garantirá que saiam ilesos, sem pagar pelos seus erros”, diz trecho da decisão que decretou a prisão deles.
A magistrada sustenta ainda que a decretação da prisão preventiva dos policiais irá evitar que outros cidadãos sofram o mesmo tipo de assédio, deixem de depor ou em seus depoimentos acabem omitindo fatos, exatamente por temerem por suas integridades físicas.
Para a juíza os argumentos de que eles são réus primários e possuem emprego fixo já não são mais suficientes para que permaneçam em liberdade. “De nada adianta, agora, os acusados pontuarem que têm ocupação lícita, se há sérios indícios de que em razão dela é que praticaram os delitos descritos na denúncia”, diz trecho da decisão.