A cantora e atriz portuguesa, Maria Adelaide Mengas Matafome, conhecida em Portugal como Adelaide Ferreira, prestou depoimento, esta tarde, na Delegacia Especializada do Adolescente (Dea) no caso do aborto praticado pela sua filha, de 15 anos. A portuguesa veio ao Brasil para acompanhar a filha que está abrigada, por ordem da Justiça mato-grossense, em uma casa de apoio, em Cuiabá.
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, Adelaide foi indiciada em inquérito policial por acobertar o aborto provocado pela filha. De acordo com o artigo 126 do Código Penal Brasileiro a pena para o crime de aborto é de até 4 anos de reclusão. Em interrogatório, a cantora negou que tivesse orientado a filha a contar a verdade da paternidade e que já estivesse grávida quando chegou ao Brasil. Ela também informou que desconhecia a gravidez da filha.
Segundo o delegado Paulo Alberto Araújo, que preside as investigações, a prova da conivência da mãe portuguesa está em uma ligação feita à filha no abrigo. No telefonema, a artista briga com a adolescente por ela ter contado a verdade no segundo depoimento prestado à Polícia Civil. “Os próprios esclarecimentos dos três: a adolescente, o namorado e mãe dele, já indicam que a mãe da menor tinha conhecimento. Mãe, filha e Jean conversaram várias vezes via msn e webcam. Todos estão em uma única voz, se colocando na cena crime. A única contradição é da cantora”, afirmou o delegado Paulo Araújo.
Nas declarações prestadas no dia 11 de janeiro deste ano, a adolescente afirmou que engravidou do namorado brasileiro, ao contrário do que teria tido anteriormente, quando informou que o pai era um “namoradinho”, também brasileiro, que está em Portugal. A menina também contou que as versões apresentadas anteriormente foram “uma farsa, pois acreditava que polícia não descobriria a verdade”.
Também respondem pelo mesmo crime, provocar aborto com consentimento da gestante, o namorado da adolescente, de 21 anos, e a mãe dele, de 37 anos. A menor responde ato infracional de aborto provocado, conforme artigo 124, do Código Penal Brasileiro e deverá ter o destino decidido pelo Juizado da Infância e Adolescência do Estado.
Segundo o delegado, agora o inquérito policial vai aguardar os laudos médicos e as quebras de sigilo das comunicações realizadas entre os envolvidos no Brasil com a cantora portuguesa, do período de 28 de setembro de 2012 até 5 de janeiro de 2013. Com a juntada das provas técnicas o inquérito será concluído e encaminhado à Justiça.
O caso
O caso chegou à delegacia da Polícia Civil depois que a menina, no dia 4 de janeiro deste ano, deu entrada no Hospital Universitário Júlio Muller com sangramento, consequências da ingestão de quatro comprimidos de um medicamento altamente abortivo. O remédio foi comprado em um site holandês, que enviou ao Brasil cartelas com 10 drágeas da substância abortiva.
Segundo depoimento da sogra da garota, quando a adolescente contou que havia provocado o aborto disse: “você acabou de cometer um crime” e queria leva-la imediatamente ao hospital, mas a adolescente disse que só iria depois que falasse com mãe em Portugal.
Num intervalo entre as cólicas enviou um e-mail a mãe, que horas depois ligou no telefone fixo da casa. De Portugal, Maria Adelaide, conversou em separado com a adolescente, o namorado e depois com a sogra, aconselhando todos a não dizerem quem era o pai da criança, pois no Brasil aborto é crime. A mãe orientou a contarem que a adolescente já estava grávida quando chegou ao Brasil.
Após as instruções, a sogra que é enfermeira pediu ao filho que retirasse o feto do vaso sanitário, colocando-o dentro de uma sacola plástica. Em seguida, foram todos de táxi ao hospital levando consigo o feto.
Após se certificar do aborto provocado, o Hospital acionou o Conselho Tutelar que comunicou a Polícia Civil. No dia seguinte, a menina saiu do hospital direto para uma casa de apoio, na capital.